Cineastas decidem o que fazer com filmes que estão no MAM do Rio

Com o fechamento das salas de arquivo do museu, alguns levarão as matrizes para a Cinemateca Brasileira, em São Paulo, e outros esperam que o governo federal crie um novo depósito

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Por Agencia Estado
Atualização:

A decisão do Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de fechar seu depósito de matrizes de filmes até setembro divide os cineastas cariocas. Parte defende a criação de um depósito na cidade, mantido pelo governo federal, estadual ou municipal, e outra corrente acha que o acervo deve ir para a Cinemateca Brasileira, que tem experiência, condições técnicas, pessoal especializado e recursos para receber a memória do cinema nacional. "A não ser os Estados Unidos, todo país tem uma só cinemateca. Aqui também deve ser assim e a nossa já funciona em São Paulo há 40 anos", defende o cineasta Cacá Diegues. Ele já tirou suas matrizes do MAM e as levou para a Cinemateca Brasileira há dez anos, porque temia que o material se perdesse. "Lutei muito por um movimento coletivo nesse sentido. Quando vi que ninguém se mobilizava, tratei de salvar ao menos o meu trabalho. Por isso, digo com isenção que a melhor saída é levar os filmes para São Paulo." O produtor Luiz Carlos Barreto, que tem o acervo anterior a Romance da Empregada no MAM, quer fazer a mudança em duas semanas, mas lamenta que essa memória vá para São Paulo. "O Rio se esvazia cada vez mais. Não custava nada a prefeitura ou o Estado construírem um depósito para estocar essas matrizes", diz Barreto. "Aqui se produz 80% do audiovisual brasileiro e essa memória deveria ficar na cidade." A transferência das matrizes do MAM para outros depósitos não é novidade. Em agosto do ano passado, a diretora-executiva da instituição, Maria Regina Nascimento Brito, pediu aos produtores que retirassem seus filmes, pois não tinha recursos para conservá-los em condições adequadas (numa temperatura de 15 graus e 35% de umidade). "Não fecharemos a Cinemateca como um pólo cultural. O que não queremos é a responsabilidade por um acervo do qual não podemos cuidar", explica ela. "Atualmente, a sala de cinema está fechada, mas temos patrocínio da BR para reabri-la assim que o equipamento chegar do exterior. Talvez seja possível em julho." As 50 mil latas da Cinemateca do MAM guardam boa parte da produção nacional do século 20. Lá estão os negativos dos 13 filmes de Roberto Faria, do já citado Barreto, da Atlântida, do Canal 100 (cinejornais de exibição obrigatória antes das sessões, nos anos 50 e 60), os originais do programa Amaral Neto Repórter, que nos anos 70 viajou por todo o País, além de produções didáticas do Exército Brasileiro, do Departamento de Imprensa e Propaganda do Estado Novo e filmes de cineastas estrangeiros como Ingmar Bergman e Serguei Eisenstein. Mas as condições são inadequadas, até pela localização do MAM, a poucos metros do mar e e numa cidade onde o termômetro raramente desce abaixo de 20 graus. A sugestão de levar para o Arquivo Nacional os filmes produzidos para o governo federal, é contestada por Cacá Diegues. "Isso só adia o problema e cada adiamento é um título que se perde. O Arquivo Nacional não tem espaço, pessoal treinado nem tradição de cuidar de filmes", alerta. "E duvido que o governo federal divida verba entre dois órgãos com a mesma finalidade. Além disso, a Cinemateca Brasileira se ofereceu para guardar as matrizes e fornecer as cópias que forem necessárias." O curador da Cinemateca, Carlos Roberto de Souza, confirma a oferta e lembra que há espaço para o acervo do MAM se juntar às 150 mil latas de filmes que já são guardadas lá. Além disso, a instituição é ligada ao Instituto do Patrimônio Artístico e Histórico Nacional e tem convênios com o governo do Estado e com a iniciativa privada para se manter. "Nossa função é preservar a memória do cinema brasileiro e estamos de braços abertos para receber o acervo do MAM carioca", conclui Souza.

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