21 de julho de 2019 | 03h00
De todos os grandes autores revelados pela nouvelle vague, Claude Chabrol foi o que teve uma fase assumidamente comercial, nos anos 1960. Ex-crítico, ele se defendia, dizendo – “Filmo não importa o que, mas não como se não importasse o como.” Ou seja, o projeto podia ser comercial, como as aventuras da agente Marie Chantal/Marie Laforet, mas Chabrol não desistia da autoralidade. Reaprumou-se, e por volta de 1970, realizou verdadeiras obras-primas – A Mulher Infiel, A Besta Deve Morrer, O Açougueiro.
M. Chabrol, o autor glutão da nouvelle vague
Chabrol nasceu em 24 de junho de 1930, morreu em 12 de setembro de 2010. Portanto, não se trata de nenhuma data redonda, mas ele recebe a homenagem da Sala Cinemateca, que promove até dia 28 uma retrospectiva de seus filmes, com cópias em 35 mm e sessões gratuitas. Neste domingo, 21, será possível (re)ver A Dama de Honra, às 18h, e Delegado Lavardin, às 20h. De quinta, 25, a domingo, 28, a programação contemplará Betty – Uma Mulher sem Passado, A Teia de Chocolate, Negócios à Parte, Madame Bovary, Os Mágicos e Ciúme – O Inferno do Amor Possessivo. São filmes de 1976 até 2004.
Para um cineasta com fama de preguiçoso, Chabrol filmou bastante – mais de 50 títulos. Ele próprio ironizava – “Sou glutão, e talvez me chamem de preguiçoso porque, quanto mais velho fico, faço questão de filmar na vizinhança de bons restaurantes.” O Inspetor Lavardin, com Jean Poiret e dois atores frequentes nos primeiros filmes de Chabrol, ainda nos anos 50 – Jean-Claude Brialy e Bernadette Laffont –, mostra a investigação de um crime na Bretanha, e o inspetor arrisca-se na cozinha. A Teia de Chocolate passa-se em família, com suspeitas de trocas de identidade e crimes. Isabelle Huppert administra uma fábrica de chocolate.
Isabelle está em mais dois filmes. É Madame Bovary, na adaptação do romance de Gustave Flaubert, e a parceira de Michel Serrault, com quem forma casal de golpistas em Negócios à Parte. A maioria desses filmes expõe o tema favorito do autor – os monstros da burguesia provincial, uma certa tendência da natureza humana para o mal. Como A Dama de Honra baseia-se em Ruth Rendell, você pode estar certo de que Laura Smet, louca de pedra, vai cometer um crime e a vítima perfeita é Benoit Magimel, um tolo.
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