"Cidade de Deus" volta às telas e vai passar na Globo

O diretor Fernando Meirelles comenta as críticas ao filme, reavalia sua obra, e diz que fez uma versão ampliada do filme para a TV, que vai passar na Globo, em data indefinida

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Por Agencia Estado
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Cidade de Deus reestréia hoje nos cinemas brasileiros com 138 cópias, número bem superior ao da estréia, em agosto de 2002, quando estreou em 99 salas. O polêmico filme de Fernando Meirelles volta às telas turbinado pelas quatro indicações para o Oscar. Entra de novo em cartaz também na França, Espanha e África do Sul. Nos Estados Unidos, volta em nada menos que 500 salas. Nesse ano e meio transcorrido depois da estréia, muita coisa rolou. Cidade de Deus atraiu 3,3 milhões de brasileiros aos cinemas, fez furor em festivais estrangeiros e foi visto em mais de 40 cidades do exterior. Foi acusado de manipular a realidade e cosmetizar a violência. Foi chamado de obra-prima e sopro de juventude em um cinema minado pelo marasmo. Enfim, incomodou, dividiu opiniões. Com as inéditas quatro indicações (Meirelles como diretor, Bráulio Mantovani para roteiro adaptado, Cesar Charlone em fotografia e Daniel Rezende pela montagem), o filme chegou à porta do paraíso. Esse retorno em grande estilo talvez seja convite para reavaliações ou reafirmação de posições. Por telefone, de Londres, o diretor Fernando Meirelles conversou com o Estado sobre sua expectativa a respeito dessa volta à cena do filhote favorito. Amanhã, o filme entra novamente em cartaz. Você acha que depois das quatro indicações para o Oscar será recebido com mais tolerância pela crítica? A minha sensação é de que a recepção crítica foi extremamente positiva. Eu consigo citar três ou quatro críticas muito negativas, se tanto. Se eu reclamasse da crítica brasileira, no geral, estaria sendo muito injusto. Mas na época houve polêmica. Você acha que aqueles que fizeram restrições ao filme foram exceções e não a regra? Ah, sem dúvida. E sou muito grato à Ivana (Ivana Bentes autora de um polêmico artigo Da Estética à Cosmética da Fome) e a outras pessoas que fizeram restrições porque isso gerou um debate que foi interessante, não é? Fazem pensar se você deveria manter ou não uma determinada estética, etc. Enfim, vejo como positivo. Houve na época algum tipo de restrição que você achou justa? Algo que levou você a pensar que deveria ter feito o filme de um jeito diferente, em algum aspecto, ou você não mudaria um único fotograma? O principal problema é o ritmo. Alguém escreveu que ele tem um ritmo exagerado e eu concordo com isso. Não gosto da velocidade dele. Eu fiz um primeiro corte (uma primeira versão) com três horas, fui diminuindo até chegar a uma versão com 2h26 e fiquei muito feliz. Começaram a falar que era ruim um filme com duas horas e meia, eu fui lá e tirei mais 16 minutos. E desses 16 minutos eu sinto falta. Acho que errei. O filme ficou muito rápido, frenético. Nem no DVD acrescentou esses 16 minutos? Não, porque eu teria de remontar tudo. O que eu fiz uma semana antes de embarcar para Londres foi o seguinte: fui lá na produtora com o Daniel Rezende (montador, indicado para o Oscar) e reeditamos o filme para a televisão. Vai passar na "Globo" não sei quando, talvez no fim do ano. Remontamos em quatro episódios, um total de quase três horas. Colocamos cenas que havíamos tirado porque não couberam no filme. E, em algumas cenas, a gente alargou, deu respiração. Às vezes foi coisa de colocar dez fotogramas a mais. O espectador talvez nem perceba onde mudou, mas o filme respira mais. Então eu acho que a montagem para a "Globo" é a melhor versão do filme.

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