Ciclo pretende mostrar o essencial de Wim Wenders

Os fãs do cineasta podem sentir falta de Asas do Desejo, mas vão encontrar como O Medo do Goleiro Diante do Pênalti, dos anos 60 e obras como O Filme de Nick e Tokyo-Ga, por exemplo

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Por Agencia Estado
Atualização:

Pode parecer estranho que um ciclo chamado O Essencial de Wim Wenders não traga filmes como Paris Texas e Asas do Desejo, mas é o que ocorre na programação que começa nessa sexta-feira na Sala Cinemateca. Mesmo com essas ausências (e também a de O Céu de Lisboa) não faltam atrações ao ciclo que traz desde filmes mais antigos, dos anos 60, como O Medo do Goleiro Diante do Pênalti até o recente O Hotel de Um Milhão de Dólares, passando por Alice nas Cidades, O Amigo Americano, O Filme de Nick, O Estado das Coisas, Tokyo-Ga e Caderno de Notas sobre Cidades e Roupas. Wenders já foi grande. Houve um tempo em que "Wim vendo" era a divisa do que parecia ser o cinema do futuro. Radicalmente autoral, radicalmente apoiado nas novas tecnologias. É fácil dizer que Wenders é finalista ao troféu John Frankenheimer, destinado aos cineastas que um dia foram grandes e perderam o rumo. Mas a verdade é que ele perdeu. O Hotel de Um Milhão é profundamente decepcionante. Só não é mais decepcionante porque Tão Longe Tão Perto e Até o Fim do Mundo já assinalavam o fim da ladeira - depois deles era difícil, senão impossível, descer mais baixo. O ciclo permite uma visão abrangente da obra do artista, da ascensão à glória e à queda. Alguns títulos são realmente fundamentais. O Estado das Coisas ilumina e esclarece a malograda experiência hollywoodiana de Hammett, que Francis Ford Coppola produziu. Hammett, sobre o criador do detetive Sam Spade fala de um homem que evolui do crime para a arte. O Estado das Coisas faz o caminho inverso. A história de uma filmagem é o suporte para que Wenders fale sobre o oposto - um personagem que parte da arte e regride até o crime. O Filme de Nick é experiência única, radical. Wenders, munido de sua câmera, acompanhou a agonia de um de seus diretores preferidos. Nicolas Ray, o poeta maldito de Hollywood, já tinha sido ator de O Amigo Americano, adaptado de Patricia Highsmith, com Dennis Hopper como Ripley. Morria de câncer quando Wenders dirigiu sua câmera para o sofrimento do amigo (e ídolo). Há momentos quase insuportáveis pela intensidade da dor, até mesmo física. Mas, na morte de Ray, Wenders encontrou a matéria para uma reflexão sobre a essência do cinema - é veículo de vida, porque permite às coisas continuarem existindo enquanto imagem e, ao mesmo tempo, é veículo de morte porque na imagem congelada no tempo e no espaço está a negação da existência concreta. Tokyo-Ga narra a viagem do artista ao Japão, numa espécie de peregrinação ao mundo de Yasujiro Ozu, o grande mestre intimista da câmera-tatame, que gostava de ver o mundo como se o observador estivesse sentado na esteira que os japoneses colocam no chão. Wenders filma a frenética Tóquio contemporânea e fala com Chisu Ryu, o ator-fetiche de Ozu, como se o tempo, de repente, parasse em pleno coração da vertigem. O Essencial de Wim Wenders. Amanhã (14), às 18h05, "O Medo do Goleiro Diante do Pênalti"; às 20h15, "O Hotel de Um Milhão de Dólares". Sábado, às 15h25, "O Amigo Americano"; às 17h45, "Alice nas Cidades"; às 20h15, "O Hotel de Um Milhão de Dólares". Domingo, às 15h55, "O Estado das Coisas"; às 18h15, "O Hotel de Um Milhão de Dólares"; às 20h30, "O Filme de Nick". Ingressos: R$ 6,00 e R$ 8,00. Sala Cinemateca. Largo Senador Raul Cardoso, 207, tel.: 5084-2177. Até 28/9

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