Ciclo no CCBB homenageia o ator Paulo José

A mostra 40 Anos de Paulo José que esteve no Rio, desembarca em São Paulo para mostrar a grande arte de um ator emblemático

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Por Agencia Estado
Atualização:

Após o êxito no CCBB do Rio, a mostra 40 Anos de Paulo José desembarca em São Paulo para mostrar a grande arte de um ator emblemático. O ciclo abre com A Vida Provisória, de Maurício Gomes Leite. Paulo José está com 68 anos, sofre do mal de Parkinson, mas não entrega os pontos. Ele conversa com o repórter do Grupo Estado pelo telefone. Está num hotel em Belo Horizonte, sua residência provisória enquanto prepara a próxima estréia de um espetáculo baseado em Bertolt Brecht, Homem a Homem. Paulo José não é só o ator de grandes filmes do cinema brasileiro. É também diretor importante de teatro e TV. Ele conta o que o atrai no Grupo Galpão - "É o trabalho de grupo." Numa época de tanto apelo ao individualismo, o grupo mineiro ainda aposta num projeto coletivo. Não é o único. Outros grupos de teatro também vivem essa aposta no País. Paulo José ligou-se ao Galpão. Pela data na carteira de identidade, é um idoso. A voz, pelo telefone, está longe de ser cansada. Revela entusiasmo. Paulo José é ator de filmes que entraram para a história. Fez Macunaíma, o herói sem caráter de Mário de Andrade, na adaptação de Joaquim Pedro, e foi o anti-Macunaíma, o xiita da retidão, Policarpo Quaresma, no filme que Paulo Thiago adaptou de Lima Barreto. Gostou de interpretar os dois personagens. Acha que um só deles não dá a medida da complexidade do caráter do brasileiro. Está decepcionado com o Partido dos Trabalhadores com esta obsessão pelo governo "a qualquer preço". Macunaíma e Policarpo Quaresma são dois dos filmes que serão exibidos no CCBB. Também vão passar - O Padre e a Moça; Todas as Mulheres do Mundo e A Culpa, de Domingos Oliveira; O Homem Nu, de Roberto Santos, entre dezenas de títulos, entre longas e curtas. Mais do que a homenagem, Paulo José destaca o que chama de "milagre" - o esforço da curadora Gisella Cardoso em garimpar as cópias de tantos filmes. No Rio, ele conta, a surpresa foi proporcionada por seu segundo longa com Domingos Oliveira - "Muita gente sempre achou que o filme era só um subproduto do Todas as Mulheres, mas Edu Coração de Ouro foi uma verdadeira redescoberta." Ao contrário de outros atores da época, ele não se ligou a um movimento. Não foi um ator do Cinema Novo. "Não tinha o tipo físico para os filmes que eles gostavam de fazer", explica. Trabalhou com grandes diretores que eram hostilizados pelo grupo cine-novista. "Fiz As Amorosas com o Walter Hugo Khouri, que era definido como alienado pelo pessoal do Cinema Novo." Alienado também era Joaquim Pedro - "O Padre e a Moça virou um clássico, mas, em 1966, a visão era outra. Em A Vida Provisória, Maurício Gomes Leite foi nouvelle vague. Sua crítica do País é, também, a crítica do cinema. A mais bela e triste história de amor do cinema brasileiro dos anos 60. O pathos de uma geração destruída pela ditadura, representada pelo vilão das chanchadas, José Lewgoy. O brado retumbante do bravo guerreiro Paulo César Pereio, denunciando a repressão (em 1969!). A fala final da deslumbrante Dina Sfat - "O silêncio é a arma contra o sofrimento." Pode ser, mas é preciso romper o silêncio sobre Maurício Gomes Leite e resgatar o grande de um filme só, como o mitológico Mário Peixoto. Mostra Paulo José - 40 Anos de Cinema. Hoje, 20h, A Vida Provisória (1968), de Maurício Gomes Leite. Centro Cultural Banco do Brasil. R. Álvares Penteado, 112, Centro, 3113-3651. 3.ª a dom. R$ 4. Até 2/10. www.bb.com.br/cultura

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