Ciclo exibe raridades de Kurosawa

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Por Agencia Estado
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Talvez ele não fosse realmente o maior diretor do Japão. Afinal, a cinematografia japonesa teve autores como Kenji Mizoguchi e Yasujiro Ozu. Mas Akira Kurosawa foi um dos grandes, com certeza. Para confirmá-lo, basta assistir ao ciclo que a Sala Cinemateca promove a partir desta sexta-feira. Até o dia 28, a sala exibe 13 filmes do diretor. As cópias foram depositadas na Cinemateca Brasileira pelos herdeiros do antigo representante da Toho International para a América Latina, Massao Oshida. E quatro dos filmes estão tão deteriorados que as sessões chamam-se "do adeus": será a última exibição dessas cópias. São filmes como Os Homens Que Pisaram na Cauda do Tigre, Cão Danado, Rashomon, Viver, Anatomia do Medo, Trono Manchado de Sangue, Ralé, O Homem Mau Dorme Bem, Yojimbo, Sanjuro, Céu e Inferno e Dersu Uzala. Faltam Os Sete Samurais e as obras-primas do final da carreira do grande artista: Kagemusha, a Sombra do Samurai e Ran. Mesmo sem elas, o ciclo compõe um vasto painel que cobre o período de 1945 a 1974 da carreira de Kurosawa. Mostra que não havia um Kurosawa, mas vários. Há filmes de inspiração neo-realista (Viver), aventuras de samurais (Yojimbo) e incursões pelo universo shakespeariano (Trono Manchado de Sangue, que se baseia em Macbeth). Nesses filmes e nos demais, todos muito diferentes entre si, Oriente e Ocidente encontram-se na obra de Kurosawa. O humanismo é sua marca. Ele pode ter denunciado os males da sociedade japonesa no pós-guerra, pode ter ajudado a popularizar a ética dos samurais, mas o que dá unidade ao seu estilo é a crença, confuciana, de que não adianta mudar os sistemas políticos se o homem não mudar. Era essa sua convicção. Transparece nos 13 títulos que integram a programação. Qual é, entre esses, o maior Kurosawa? Você pode achar que é Viver, com sua história do velho que sofre de uma doença terminal e tenta usar os últimos dias para redimir-se do fato de que nada fez em sua vida. Ou então Ralé, que transpõe Máximo Gorki para o Japão. Ou ainda Céu e Inferno, no qual Kurosawa, baseado numa história do norte-americano Ed McBain, bebeu na fonte da grande tradição noir de Hollywood. Ou talvez os influentes Rashomon e Yojimbo, que foram refilmados no estrangeiro - o primeiro, por Martin Ritt, As Quatro Confissões, e o segundo por Sergio Leone, Por Um Punhado de Dólares, dando início à tendência chamada de spaghetti western. Escolher o melhor talvez seja uma coisa muito íntima. E todos espelham a complexidade de um artista que fez por merecer a definição de "mestre". Quando Kurosawa morreu - em 1998, aos 88 anos -, os críticos chamaram-no de cineasta do movimento e do paradoxo. O paradoxo é que um dos grandes cineastas japoneses nem sempre foi compreendido no seu país, onde era considerado muito ocidental. Festival Akira Kurosawa. Sexta, às 18 horas, Sanjuro/62; sexta e quinta, às 20 horas, Ralé/57. Sábado, às 16 horas, Yojimbo, o Guarda-Costas/60; sábado, às 18 horas, Anatomia do Medo/55; sábado, às 20 horas, Sessão Adeus com exibição do filme Cão Danado/49. Domingo, às 19 horas, Trono Manchado de Sangue/57; domingo, às 21 horas, Os Homens que Pisaram na Cauda do Tigre/45. Quarta, às 18 horas, Rashomon/50; quarta, às 20 horas, Sessão Adeus com o filme O Homem Mau Dorme Bem/60. Quinta, às 18 horas, Céu e Inferno/63. De quarta a domingo. R$ 6,00. Sala Cinemateca. Largo Senador Raul Cardoso, 207, tel. (11) 5084-2318. Até 28/3.

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