
21 de dezembro de 2018 | 03h00
No ano passado, o presidente do júri de Cannes, Pedro Almodóvar, não fez segredo algum na coletiva final que seu candidato à Palma de Ouro havia sido 120 Batimentos por Segundo, de Robin Campillo. Este ano, a competição de Cannes abrigou outro filme sobre a aids e seus desdobramentos. Conquistar, Amar e Viver Intensamente estreou na quinta, 20, depois de integrar e ser premiado no Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade.
Christophe Honoré pertence a uma linhagem de autores ‘nouvelle’ vague que inclui o sul-coreano Hong Sang-Soo e o brasileiro Tiago Mata Machado. Há dez anos, com A Bela Junie, livremente baseado no clássico A Princesa de Clèves, Honoré já fizera um desagravo ao movimento. Em 1960, quando Jean-Luc Godard, François Truffaut e cia. se iniciavam, o grande prêmio técnico do cinema francês foi para a adaptação do romance psicológico de Madame de Lafayette por Jean Delanoy, um dos expoentes do chamado ‘cinema de qualidade’ que Truffaut, como crítico, desprezava.
Baseado na saga Transformers, ‘Bumblebee’ estreia esta semana nos cinemas; confira a programação
Honoré faz agora sua homenagem a Truffaut, assinando o que não deixa de ser a versão gay de Um Só Pecado/La Peau Douce, de 1964. Dramaturgo parisiense vai à província para um encontro com o público e se envolve com garoto local. Iniciam uma ligação algo conturbada, porque o dramaturgo é soropositivo, ainda nos primórdios da aids, com todo o preconceito que havia. O filme é sensível, ousado – nas cenas de sexo –, aborda novas conformações de família. Atrás do seu amor, o jovem Vincent Lacoste vai a Paris, onde Pierre Deladonchamps se esconde dele. Numa cena, ele visita o cemitério de Pierre Lachaise – o túmulo de Truffaut. Faz todo sentido.
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.