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"Chicago" marca o retorno dos musicais

Chicago levou três estatuetas no Globo de Ouro, é páreo no Oscar e pode ajudar a recuperar o prestígio dos musicais em Hollywood. Por trás do sucesso, quase 20 anos de reviravoltas na produção do filme

Por Agencia Estado
Atualização:

Enquanto a equipe de Chicago se revezava no palco do hotel Beverly Hilton, na cerimônia do Globo de Ouro anteontem, a platéia parecia uma grande reunião das estrelas que quase trabalharam no filme. O musical foi consagrado com três estatuetas da Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood e tem boas chances no Oscar ? depois de quase dez anos em desenvolvimento, com direito às "participações" de Goldie Hawn, Nicole Kidman, Madonnna e outras. A performance da fita nas bilheterias americanas tem a missão de confirmar que o gênero pode ser comercialmente viável no país novamente. O produtor Marty Richards, que está com 70 anos, chegou a pensar que não estaria vivo para ver a versão cinematográfica de Chicago pronta. O musical criado por Bob Fosse (com Kender & Ebb) estreou na Broadway em 1975 (a trama baseada em episódios reais já havia rendido dois filmes). Logo depois da chegada da produção aos palcos, ele começou a planejar uma versão para os cinemas, a exemplo de seu bem-sucedido Cabaret, de 1972. Na metade dos anos 80, Richards e Fosse avançavam nas negociações e Madonna, cuja atuação convencera em Procura-se Susan Desesperadamente, teria o papel de Velma (que foi para Catherine Zeta-Jones). A repentina morte de Fosse, em 1987, jogou um balde de água fria no projeto. Foi só no início dos anos 90 que a Miramax entrou no circuito para tentar reavivar o filme. Após muito tempo tentando encontrar um diretor (Baz Luhrman, de Moulin Rouge, Stanley Donen, de Cantando na Chuva, e Milos Forman, de Hair, foram cogitados), eles foram surpreendidos pelo sucesso instantâneo de uma nova montagem do musical na Broadway, que estreou em 1996. Começou aí uma verdadeira dança das cadeiras de elenco e equipe. Goldie Hawn teria vetado vários diretores, até que o escolhido, Nicholas Hytner (de As Bruxas de Salem), achou que a atriz era muito velha para o papel. Pouco depois, com a desistência de Madonna, Nicole Kidman concordou em participar, mas acabou dando o passo certo de aceitar o papel principal de Moulin Rouge. Kathy Bates teria o papel que foi para a rapper reformada Queen Latifah e até a sul-africana Charlize Theron foi cogitada para o papel que acabou com Zellweger. A versão que hoje é sucesso de bilheteria e crítica nos Estados Unidos tinha tudo para dar errado: um diretor estreante, uma fórmula extremamente teatral e um elenco que não se sentia confortável para cantar e dançar. Segundo o diretor Rob Marshall (que havia sido um dos responsáveis pelo sucesso do remake de Cabaret na Broadway, nos anos 90), a insistência com Zellweger e Richard Gere foi muito intensa. Apesar de ter a missão de confirmar a viabilidade dos musicais em Hollywood, um caminho aberto por Moulin Rouge em 2001, Chicago tem pouco a ver com o filme de Luhrman. Enquanto a produção australiana era um musical pop, montado em cima de hits conhecidos, que celebrava uma estética fantástica e o ritmo dos videoclipes, Chicago é o que de mais próximo do estilo Broadway que Hollywood deve chegar em muito tempo. Para o musical de Fosse, a fórmula algo simplista funciona bem. Um grande mito que foi quebrado com Chicago é que não é preciso forçar (muito) a barra para fazer um projeto dar certo. De acordo com a revista Entertainment Weekly, Harvey Weinstein, da Miramax, queria incluir Britney Spears no elenco ? para atrair um público mais jovem. O papel acabou indo para Lucy Liu. Latifah chegou a gravar uma versão hip hop de uma das faixas do musical, em parceria com Lil´Kim e Macy Gray, em uma clara tentativa de repetir o sucesso de Lady Marmalade, de Moulin Rouge, mas a música acabou incluída apenas no disco. Por esta e por outras, o sucesso da produção pode estabelecer novos parâmetros no cinema. Com a premiação de Zellweger e Gere no Globo de Ouro, Zeta-Jones passa a merecer ganhar suas próprias estatuetas ? e entra para um novo patamar de reconhecimento. A indústria do cinema deverá perder o medo de produzir musicais (a aguardada versão de Rent e a duvidosa de O Fantasma da Ópera têm tudo para finalmente virar realidade). Mas, acima de tudo, fica a lição de que músicas boas têm capacidade para levantar uma produção. Mas são poucos os espetáculos que têm a mesma qualidade musical de Chicago.

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