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'Chato', personagem e filme são discutidos com paixão na Paraíba

Debate no Fest Aruanda reúne diretor, autor de livro, professores e até o compositor Geraldo Vandré e comprova o inegável fascínio do empresário

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

JOÃO PESSOA - O debate de Chatô – O Rei do Brasil foi o mais movimentado da história do Festival Aruanda do Audiovisual Brasileiro, o Fest Aruanda. Reuniu os responsáveis diretos pelo filme – o diretor Guilherme Fontes, o autor do livro, Fernando Morais, o intérprete do personagem, Marco Ricca – e mais professores universitários e gente que havia convivido com Assis Chateaubriand, como o ator Lima Duarte e o documentarista Vladimir Carvalho. Até o compositor Geraldo Vandré participou, dizendo que o cinema nacional não terá futuro enquanto não se converter em indústria. A sala de hotel em que se deu o encontro esteve lotada durante as quatro horas em que filme e personagem foram apaixonadamente discutidos.

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O mínimo que se pode dizer é que o controverso Assis Chateaubriand ganhou um debate à altura de sua personalidade vulcânica. É inegável o fascínio que ainda exerce sobre os que dele se ocuparam em livros, filmes ou estudos. O jornalista Fernando Morais lembrou Chatô em atos de generosidade e mesquinhez. “Ele era as duas coisas e reduzi-lo a uma ou a outra é apequenar o personagem.”

O ator Lima Duarte, que encantou a plateia com sua verve, disse que a relação com Chatô era pessoal e envolvia apenas os anos finais da vida do empresário. Chateaubriand estava paralisado e tinha muita dificuldades para se expressar em razão do acidente vascular cerebral sofrido. Lima era apenas um jovem empregado da Tupi, uma das empresas dos Diários Associados, e foi chamado à casa do patrão. Conseguiu compreendê-lo e com isso o cativou. “Viramos bons amigos até o fim da vida dele”, conta.

Já a professora de História Monique Citadini apontou tendência determinista tanto no livro como no filme – “Dão a entender que, sem Chatô, certos fatos da História não se produziriam.” Mas admite que o estudo do personagem pode ser interessante para sacar o poder da mídia em formar consensos. E tentou mostrar que a caracterização de Chatô como tropicalista era equivocada. “Ele tinha desprezo pela cultura popular. Chateaubriand é fruto da aristocracia açucareira nordestina e se pautava por valores culturais europeus.”

No entanto, os termos tropicalismo e carnavalização continuaram a emergir no debate. Por exemplo, na aproximação feita entre Chateaubriand e Getúlio Vargas, “dois construtores do País”, segundo Chico Pereira, pró-reitor de cultura da Universidade Estadual da Paraíba. Temperamentos opostos, Chatô e Getúlio chegaram a partilhar uma amante e mostravam-se dispostos a unificar o País. Um através de medidas políticas racionais, outro pela prática pouco ortodoxa do jornalismo. O filme seria resultado do esforço de compreensão de tal ambivalência e daí sua pegada anárquica, tida como sinônimo de tropicalismo. Já o diretor Guilherme Fontes disse que a motivação para fazer o filme foi a de meditar sobre as relações entre mídia e poder. Tema atual, embora o empresário tenha morrido em 1968.  

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