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Charlotte Rampling de volta à tela

Depois de passar anos fora do meio cinematográfico, a atriz que filmou com Luchino Visconti e Sidney Lumet volta às telas envolvida com seu novo trabalho na música

Por Agencia Estado
Atualização:

Ela tem consciência do seu mistério. "Sou uma atriz muito intimista, muito interiorizada; não me deixo revelar com facilidade", diz Charlotte Rampling. Ela sabe que a voz faz parte desse mistério - uma voz aveludada, um pouco grave. Gravou um disco com canções de amor de Michel Rivgauche, especialmente compostas para ela. "Algumas eu canto, em outras digo os versos. Eles falam da expectativa das mulheres diante do amor e dos homens." O CD vendeu bem. Charlotte quer fazer outro disco, mas sem pressa. Quer escolher bem as músicas, quer transformar esse disco num show, melhor dizendo, num musical. Gostaria de levá-lo ao Brasil. "Adorei là-bas", ela diz, referindo-se dessa maneira à sua viagem ao País. Para os que vivem no Hemisfério Norte, o Brasil fica là-bas, no Sul. Casal - Charlotte participa do Encontro do Cinema Francês, promovido pela Unifrance, na capital francesa. Ela está no elenco do novo filme escrito, dirigido e interpretado por Michel Blanc, Embrassez qui Vous Voulez. Forma um casal com Jacques Dutronc. O filme conta a história de casais desajustados e infelizes. O casal formado por Charlotte e Dutronc, tão conhecido e apreciado na França como ator que como cantor e compositor, é particularmente perfeito. Parecem casados de verdade. "Eu mal o conhecia, foi uma dessas idéias de escalação de elenco que deram realmente certo." Confessa que, no início, não queria fazer o filme. Não achava que fosse um papel para ela. Uma dona de hotel, envolvida com seus problemas e que participa dos problemas dos outros, durante um veraneio. "Quando soube que Michel (o diretor, Blanc) também não me via no papel, resolvi encontrá-lo. Foi uma idéia da direção de casting dele. Conversamos, nos entendemos e eu fiz o filme mais por ele do que pelo papel. Não me arrependo. É um dos bons filmes que fiz." Sua carreira inclui trabalhos polêmicos e alguns brilhantes. Trabalhou com Luchino Visconti em Os Deuses Malditos, com Liliana Cavani em O Porteiro da Noite, com Sidney Lumet em O Veredito. Ia filmar de novo com Visconti, mas adoeceu, ele também estava enfermo, queria filmar rapidamente, antes de morrer. Foi substituída por Laura Antonelli em O Inocente. Lá pelas tantas, parou de filmar. Queria pensar na vida, avaliar tudo o que havia feito. Foi, como diz, bem fundo nesse mergulho interior. Poderia ter enlouquecido, mas saiu fortalecida. Logo em seguida, François Ozon lhe ofereceu o papel da mulher cujo marido desaparece em Sob a Areia. Charlotte ganhou muitos elogios. A carreira recomeçou espetacularmente. Fez mais dois ou três filmes, incluindo o de Michel Blanc e agora acaba de concluir o novo filme de Ozon, Swimming Pool, que estréia em março na França. Diz que é uma história de duas personagens, como a de Sob a Areia. Lá eram um homem e uma mulher, agora, duas mulheres. E mais não fala, porque há um compromisso com o diretor de nada revelar sobre o novo trabalho. Poderia ter integrado o elenco de Oito Mulheres. Afinal, além de atriz é cantora. Brinca: "Lá eu teria de dividir a cena com mais sete mulheres, prefiro ser só eu." Interpretou papéis marcantes, Visconti e Cavani a enquadraram sob o pano de fundo das pulsões perversas do nazismo. Admite que era preciso coragem para fazer aqueles papéis e isso ela tem. Inglesa, foi criada pela família com essa inquietação de tudo conhecer, tudo experimentar. E passou por uma escola católica na França. "Isso ajuda a perturbar um pouco", confessa. Aceita filmar com diretores e diretoras, indistintamente. Não tem muita certeza de que exista essa coisa, uma sensibilidade feminina. Mas prefere ser filmada por homens. Enfim, por diretores do sexo masculino, sem que isso revele nenhuma preocupação pela sexualidade deles. "Os diretores respeitam mais o meu mistério, as diretoras agem como se quisessem decifrar-me, revelando o que eu quero manter secreto." Brasil - E o que é isso que ela quer esconder? "Se eu respondesse, tornaria público, não?" E dá uma gostosa gargalhada. Está de excelente humor. Adorou o Brasil, mas quando deu outra entrevista ao repórter do Estado, durante o Festival do Rio BR de 2001, lembra que estava mal. Conta que sempre teve curiosidade pelo Brasil. Conheceu apenas o Rio e superficialmente, mas acha que o País correspondeu à sua expectativa. "Vocês são muito abertos, muito francos; tinha vontade de abraçar as pessoas que eu via là-bas." Embora divida seu tempo entre Paris e Londres, é um de seus problemas com a França. "Os franceses se escondem demais, preocupam-se demais com a imagem. Os atores, então, representam todo tempo, mais na vida do que na arte." Isso a irrita, mas ela se casou com um francês. "Repeti o erro." Casou-se com outro francês. Dessa maneira, permanece presa à França. "Talvez eu devesse experimentar os brasileiros", observa rindo, como numa provocação. "Estamos todos à sua disposição", diz o repórter. O clima continua ameno e ela confessa: "Os brasileiros vão ter de esperar. Vou agora para a Itália fazer o novo filme de Gianni Amelio."

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