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Centro Cultural Banco do Brasil homenageia Robert Bresson

Público pode conferir, a partir de quarta-feira, mostra de filmes do cineasta francês

Por Agencia Estado
Atualização:

Sobre o cineasta francês Robert Bresson, outro diretor, o também francês François Truffaut, defendia uma idéia que parecia definitiva - para ele, o colega, um dos maiores da cinematografia mundial, era "um gênio condenado a não fazer escola". Motivos não faltavam a Truffaut: grande solitário do cinema francês que trouxe para a tela grande seu olhar de pintor, Bresson (1907-1999) buscava capturar o olhar. Para ele, o cinema sempre foi uma arte autônoma, feita de ligações: imagens com imagens, imagens com sons, sons com outros sons. O tempo, porém, transformou a afirmação de Truffaut em contradição, como pretende comprovar a mostra Robert Bresson e o Cinema Contemporâneo, que começa quarta-feira, no Centro Cultural Banco do Brasil. Até o dia 22, serão exibidos não apenas filmes de Bresson mas de cineastas influenciados pelo estilo e pensamento bressonianos, veteranos e novos realizadores da Europa, Ásia e América. Um exercício de filiação e vinculação, como prega o próprio programa, uma maneira de pensar o cinema por meio de relações entre filmes e filmografias a princípio distantes entre si. É o caso de diretores como Tsai Ming-liang, Lodge Kerrigan, Bruno Dumont, Jean-Luc Godard, Aki Kaurismarki e Jia Zhang-Ke, entre outros. A mostra começa quarta-feira justamente com O Rio, de Ming-liang, Claire Dolan, de Kerrigan, e As Damas do Bois de Boulogne, um Bresson de 1944, que serão exibidos nessa ordem, a partir das 14h30. Com O Rio, o cineasta nascido na Malásia alcançou projeção internacional quando foi divulgado como o Bresson do Oriente. Tal fama se deve aos longos planos fixos, ausência de trilha sonora e forte presença de ruídos ambientais, elementos vitais dos mandamentos bressonianos. Puro e essencial Já em Claire Dolan, Kerrigan, um dos mais consistentes nomes do cinema independente americano, impõe uma precisão cirúrgica na narrativa, com elipses perturbadoras, o que resulta em uma interpretação minimalista do elenco. Com isso, Kerrigan executa com eficiência as lições que aprendeu com Robert Bresson de quem é admirador confesso. Segundo filme de sua carreira, As Damas do Bois de Boulogne pode ser visto na quarta como um melodrama convencional, mas Bresson já revela uma intimidade com ambientes que se acentuaria com o tempo. Como comparativo, o filme é um belo exemplo do caminho radical tomado por Bresson em seguida, na busca de um cinema puro e essencial. Na quinta-feira, a mostra começa com Gente da Sicília, de Danièlle Huillet e Jean-Marie Straub, casal conhecido pelas experiências radicais propostas em seus filmes, compostos basicamente por alguns poucos planos longos, com personagens segurando papel na mão e lendo suas falas. A experiência pode desagradar a alguns, mas permite ao espectador mais atento descobrir a beleza da composição de cada quadro, os sutis e precisos movimentos de câmera e, Bresson em estado puro, closes dos objetos que pontuam a narrativa. A mostra continua, nesse dia, com O Homem sem Passado, do finlandês Aki Kaurismäki, que, inspirado em Bresson, recorre a suaves sobreposições de imagens, além de interpretações perturbadoramente realistas. O dia termina com Diário de um Padre, exibido em DVD, filme com que Bresson lançou as coordenadas de seu estilo único, como conexão precisa entre os planos, fragmentação de imagem por meio de closes de objetos e de detalhes do corpo humano. Bresson pregava uma nova percepção da realidade, uma luta solitária no cinema atual marcado pela industrialização e pasteurização. Em filmes como Pickpocket - O Batedor de Carteiras, O Processo de Joana d?Arc, A Grande Testemunha e Mouchette, a Virgem Possuída, que serão exibidos ao longo da mostra, Bresson oferece não apenas uma lição de cinema construtivo, mas principalmente elementos que permitem ao espectador, em uma experiência única e radical, reinventar a vida em sua plenitude. Bresson e o Cinema Contemporâneo. Quarta-feira, 14h30, O Rio, de Tsai Ming-Liang; 17h, Claire Dolan, de Lodge Kerrigan; 19h30, As Damas do Bois de Boulogne, de Robert Bresson. Centro Cultural Banco do Brasil (70 lug.). Rua Álvares Penteado, 112, Centro, (11) 3113-3651. R$ 4 (grátis para filmes em DVD). Até 22/4

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