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Cauã Reymond confessa que foi difícil encarar a comédia em ‘Uma Quase Dupla’

Ator protagoniza o filme ao lado de Tatá Werneck, e se prepara para ser Dom Pedro I

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Dom Pedro, o 1.º, já foi visitado pelo cinema brasileiro em obras que fizeram história. Carlos Coimbra, honesto artesão, sempre se mortificou por não haver resistido quando o regime militar, em 1972, ainda em plena euforia do ‘Brasil, ame-o ou deixe-o’, colocou seu longa Independência ou Morte! no centro das festividades do sesquicentenário. Independência ou Morte! virou filme oficial, embora não tenha nascido com essa vocação. O próprio Coimbra ressaltava – um filme no qual o herói sai de trás da moita, levanta a calça e saca da espada ainda com as mãos sujas para gritar as palavras imortais está longe de ser respeitoso. Bem depois disso, em 2005, Carla Camurati mostrou Marcos Palmeira como o jovem – e priápico – príncipe Dom Pedro, um jovem folgado na corte e nas ruas do Rio do século 19, em Carlota Joaquina.

Embora definido como ‘chanchada histórica’ pela maioria da crítica, o filme de Carla foi o primeiro grande sucesso da chamada Retomada, quando o ex-presidente Collor, após o saque das economias, desmantelou a estrutura de produção e distribuição da Embrafilme em nome da moralidade. A própria diretora saiu distribuindo seu filme pelo País e conseguiu o prodígio de bater no milhão de espectadores, mostrando que havia, sim, público para o cinema nacional. Um outro Dom Pedro se ergue agora e será interpretado pelo moço da foto ao lado. Cauã Reymond aproveitou a estada em São Paulo na junket de Uma Quase Dupla, a comédia de ação de Marcus Baldini com Tatá Werneck e ele para encontrar-se com a diretora Laís Bodanzky, que vem de um prestigiado filme de recorte feminista – Como Nossos Pais – e se prepara para abordar, com sua cinebiografia de Dom Pedro I, o universo masculino num ambiente histórico.

Cauã Reymond como Cláudio. Desafio de fazer rir Foto: ALFREDO ALVES

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Cauã está entusiasmado com o personagem e o filme. “Tem um recorte diferente, porque mostra Dom Pedro na volta a Portugal.” Ele continuará mulherengo? “Isso você só vai saber depois que ficar pronto.” E Laís? “Ela possui aquele talento que todo mundo sabe e é muito meticulosa, consciente de si e do seu trabalho. Como é seu primeiro filme histórico, está se preparando mais que nunca. Creio que o filme trará muitas surpresas na abordagem de um personagem complexo, e que ainda é controverso.” Cauã conta tudo isso para o repórter na junket de Uma Quase Dupla, em São Paulo. A expressão surgiu na indústria norte-americana, que convida jornalistas para as pré-estreias de filmes considerados importantes. As despesas são pagas pelas companhias produtoras e/ou distribuidores e nesses encontros realizam-se entrevistas com atores e diretores. No caso, sendo em São Paulo, não houve despesa nenhuma com a imprensa local.

Ator conhecido por seu perfil dramático, no cinema e na televisão, Cauã foi tentado pela produtora Bianca Vilar, que, numa conversa, lhe jogou a isca. Cauã não gostaria de fazer uma comédia. Ele achou que seria bacana, Bianca jogou um nome. E se fosse com Tatá Werneck? “Muito legal, e para mim seria algo novo.” Bianca imediatamente contactou Tatá, ela topou e a roda da produção foi colocada em movimento. Uma história foi escrita, baseada na improbabilidade dessa união – Uma Quase Dupla. A entrada do diretor Baldini provocou alguns desvios na história e no roteiro, porque ele não é homem de assumir um filme sem querer colocar a sua ‘pata’ – a sua digital –, como dizem os franceses. 

Desde 2010, para ficar somente nessa década, Cauã Reymond esculpiu na tela sua persona mais dramática, fazendo filmes de um perfil quase sempre mais autoral. Não se Pode Viver sem Amor, Estamos Juntos, Meu País, Reis e Ratos, Alemão, Tim Maia, Reza a Lenda, Não Devore Meu Coração. Uma Quase Dupla parece agora um refresco, em meio a papéis tão intensos, mas veja o que diz Cauã. “Cara, quando cheguei ao set, estava mais nervoso do que quando fiz Meu País. Fazer humor era algo novo para mim, e ainda mais com a Tatá, que é muito rápida. Mas rolou uma química, nessa coisa que os americanos fazem tão bem, que são os filmes de duplas, onde rola um antagonismo até que as coisas se acertem. No nosso caso era uma diferença de estilo de interpretação que o Baldini (o diretor) foi harmonizando. No final, não houve estresse nenhum, e tudo foi feito no maior profissionalismo.”

Tatá já explicou, em entrevista ao Estado, que foi muito divertido fazer essa mulher, Keyla, que urina de pé, “não porque seja machona, mas porque tem pressa em tudo o que faz e o Cláudio/Cauã parece muito devagar para ela”. Afinal, Keyla é uma policial da cidade grande e ele, um subdelegado do interior, numa cidade que parece pacata – até que um serial killer comece a fazer vítimas. No fim de semana de estreia, Uma Quase Dupla ficou em sexto na lista de dez maiores bilheterias do Filme B. Segundo a distribuidora Paris Filmes, entre os filmes para jovens e adultos foi o que apresentou menor queda em relação à semana anterior, está com 303 mil ingressos acumulados, renda de R$4,4 milhões e, em sua segunda semana em cartaz, ficou com um circuito superior ao da primeira semana – 452 salas em todo o Brasil, o que indica que deve crescer na bilheteria. Ou seja – está dando certo.

Na TV, Cauã começou em Malhação e participou de séries e novelas como Justiça, Alemão, Amores Roubados, Cordel Encantado, Avenida Brasil. Atualmente, pode ser (re)visto, muito jovem, em Belíssima, no Vale a Pena Ver de Novo. Faz um michê envolvido com Vera Holtz e que termina a novela de Sílvio de Abreu em Paris, com a vilã Fernanda Montenegro. Cauã admite que foi um papel importante para ele e, se você acha que bastou o physique du rôle, leia essa. “Fui fundo no papel, como gosto de fazer. Cheguei a entrevistar michês de verdade para entender melhor o Mateus.” Quando conversou com o repórter, Cauã estava relaxado, num momento de pausa entre projetos. E o que ele faz? Curte séries. Acha True Detectives “espetacular” e Twin Peaks, o Retorno, de David Lynch, “muito crazy”. E agora sua expectativa é por Dom Pedro.

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