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Carolina Kasting estrela filme sobre Oswaldo Cruz

Sonhos Tropicais, de André Sturm, baseia-se em livro de Moacyr Scliar. Revê a história da revolta da vacina, no Rio de Janeiro do início do século, quando Oswaldo Cruz lutava para criar plano de saneamento básico na cidade

Por Agencia Estado
Atualização:

André Sturm sonhava alto. Queria Emmanuelle Béart para o papel de Ester, a judia polonesa que vem para o Brasil atraída pela promessa de casamento e termina prostituindo-se. A estrela francesa interessou-se pelo papel, pelo filme. Chegou a conversar com Sturm, que, como distribuidor dono da Pandora, trouxe para o Brasil O Tempo Redescoberto, que ela interpretou. Mas não houve acordo. Nem foi por causa de dinheiro, mas porque Emanuelle, com a agenda lotada, exigia que o filme fosse marcado com um ano de antecipação. Nas condições atuais do cinema brasileiro, é impossível. Sturm dependia dos patrocinadores, da Lei do Audiovisual, toda aquela história conhecida de quem acompanha as vicissitudes da produção nacional. Sturm voltou-se para outra star francesa - Sandrine Bonnaire. De novo o interesse, de novo a impossibilidade. Sturm não está mais preocupado, encontrou a sua Ester e está encantado com a atriz que vai fazer o papel. É a bela Carolina Kasting, a Rosana da novela Terra Nostra. O filme começa a ser rodado nessa sexta-feira, em Castro, no Paraná. Carolina Kasting é a protagonista feminina. Bruno Giordano é o protagonista masculino no papel de Osvaldo Cruz. O filme chama-se Sonhos Tropicais baseia-se em Moacyr Scliar e trata do episódio que entrou para a história como "a revolta da vacina". Passa-se no Rio, no começo do século, durante a presidência de Rodrigues Alves. A cidade é assolada pela febre amarela, mas esse é só um sintoma dos problemas políticos e sociais da república incipiente. Oswaldo Cruz, que chega da Europa quando o filme começa - no mesmo navio que traz Ester -, luta para instituir um programa de saneamento básico. Quer livrar o Rio dos ratos, da febre amarela e da varíola. Cria um programa de obrigatoriedade da vacina. A população civil movimenta-se. As crises sucedem-se, explodem. É o primeiro longa de Sturm, que já dirigiu curtas (dois: Arrepio e Nem Tudo Que É Sonho Desmancha no Ar). Ele não está nem um pouco assustado com a responsabilidade de dirigir um filme de época, com personagens históricos e cenas de multidão. Nos quatro anos que já dura o projeto, amadureceu bastante o roteiro (de Fernando Bonassi e Victor Navas), criou o que não chega a ser um storyboard, mas um planejamento meticuloso que vai orientar a rodagem dos planos mais complicados. O filme está em preparação desde março. Em pré-produção, desde julho. Será rodado em Castro, beneficiando-se da infra-estrutura criada na cidade paranaense com a rodagem de Os Xeretas. Mas também terá cenas em Lapa e Paranaguá, também no Paraná. A rodagem deve durar seis semanas. "Cinco semanas e meia", corrige-se o diretor. A produção está orçada em R$ 2,8 milhões. Sturm conseguiu levantar só a metade. Seus patrocinadores são o Banespa e o PIC, o Programa de Integração Cinema e TV Cultura. Poderia esperar, quem sabe, até o fim do ano, quando as empresas podem apoiar projetos por meio da Lei do Audiovisual, decidindo, do Imposto de Renda devido, o que vão aplicar na produção cinematográfica. Só que Sturm decidiu correr o risco. Fará o filme de qualquer maneira. Tem dinheiro suficiente para colocar Sonhos Tropicais na lata. Vai brigar depois pela finalização. Ele não pensa duas vezes quando a pergunta é - por que quer fazer o filme? Vê na história de Sonhos Tropicais, que se passa por volta de 1900, o mesmo desencanto com o governo do País que observa hoje, em pleno 2000. "O descaso, o oportunismo a falta de projetos, é tudo a mesma coisa", diz. "Acrescenta que não era, mas esse governo conseguiu transformá-lo num homem de esquerda. "Até a febre amarela continua a nos assolar, só que com outro nome, agora é dengue." Acha fascinante retratar um momento de transformação violenta, o embate entre o Brasil arcaico e o País que se moderniza. Agrada-lhe misturar a História, com maiúscula, com a história de pequenos personagens. Além de Osvaldo Cruz e do presidente Rodrigues Alves, outro personagem importante é o prefeito Pereira Bastos, que pôs abaixo os cortiços do centro do Rio para abrir a Avenida Rio Branco, seguindo o modelo de urbanização estabelecido pelo barão Hausmann, em Paris. Acrescenta que o livro de Scliar está no filme, mas o filme toma suas liberdades em relação ao original. Com o diretor de arte Cristiano Amaral, de Anjos da Noite, de Wilson Barros, escolheu as locações e fez todo o planejamento visual. Explica como escolheu Bruno Giordano. Inicialmente, pensava em outro ator para fazer Osvaldo Cruz, chegou a conversar com ele. Giordano ia fazer outro personagem, o senador Lauro Sodré, conservador e artífice da revolta. Pensava no seu Osvaldo Cruz como um equilíbrio entre o homem público e o privado. Chegou à conclusão de que o primeiro predomina sobre o segundo. Está feliz com Giordano. Agora, é rodar. Sonhos Tropicais está saindo do papel. O sonho de André Sturm não se desmancha no ar. Vira realidade.

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