PUBLICIDADE

"Capitão Corelli" vale pela paisagem

O filme coloca numa gaveta profunda o resto da história para privilegiar o banal: como o rapaz ganha a moça, perde a moça e ganha de novo

Por Agencia Estado
Atualização:

Se alguém nunca pensasse em fazer O Capitão Corelli ninguém sairia prejudicado. O filme já foi feito - e muito melhor - por Gabrielle Salvatore, em 1991.O ponto de partida de ambos é o mesmo, um grupo de soldados italianos que, na 2.ª Guerra Mundial, vai para uma ilha grega como tropa de ocupação. O isolamento faz com que se integrem com a população local, sobretudo com as garotas, e façam com que tudo acabe em pizza. Ou quase. Um filme italiano seria assim e ponto final. Mas O Capitão Corelli é um filme americano, dirigido por John Madden (o competente e leve diretor de Shakespeare Apaixonado, aqui mostrando uma mão pesada e conservadora). À ilha grega de Cefalônia - responsável por paisagens maravilhosas, de tirar o fôlego do mais colorido dos cartões-postais - chega o contingente peninsular com o capitão Corelli de bandolim às costas. Com seu quépi caído para o lado e olhos muito azuis, ele já se interessa por uma garota vista de relance, Pelagia (Penelope Cruz). O filme coloca numa gaveta profunda o resto da história para privilegiar o banal: como o rapaz ganha a moça, perde a moça e ganha de novo. Para rechear um pouco uma história vazia, providencia-se um noivo para ela, que volta da frente de batalha; um pai filósofo do bom senso proverbial de todos os Zorbas que sucederam Anthony Quinn em filmes com Grécia no meio (se Quinn estivesse disponível, é inegável que estaria no elenco). Também a mãe grega por excelência desde seus tempos de Electra e Medéia, Irene Papas, foi acionada. Com a competência habitual ela destrói Penelope Cruz como atriz com um simples olhar (veja-se a cena em que as duas se encontram após Pelagia se entregar a Corelli). Tudo é muito pitoresco e étnico entre gregos e italianos, a cor local vai dos sotaques a cançonetas. Mas nada convence muito, fica com jeito de peça encenada com alunos de curso de línguas do Bronx. Penelope Cruz, encarregada da latinidade, é um desastre de escalação de elenco e ainda deixa que a beleza fique apenas para a paisagem da ilha.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.