PUBLICIDADE

Cantor Luciano se envolve com cinema nacional

Depois do sucesso de 2 Filhos de Francisco, ele pretende valorizar o cinema brasileiro criando prêmio e sonha em rodar a história do traficante Escadinha

Por Agencia Estado
Atualização:

Zezé di Camargo, depois de ver a história de sua família no cinema quebrar recordes de bilheteria e por pouco não parar no Oscar, volta ao palco como se nunca tivesse saído de lá. Faz gargarejos pela manhã, grava CD à tarde e cumpre a extensa agenda de shows - algo como 140 por ano - pela noite. Luciano é menos desapegado. O filho mais novo de Francisco pretende valorizar o cinema e, paralelo à carreira com o irmão, investe em idéias ousadas. Welson David de Camargo, o Luciano, 33 anos, quer produzir um novo prêmio para o cinema nacional. A idéia já está em uma entusiasmada mesa de negociações com parceiros que Luciano prefere ainda não revelar. "São pessoas que entendem muito do negócio". O que pode adiantar: será um prêmio realizado em São Paulo; os jurados serão críticos que deverão mudar a cada ano; haverá homenagens a nomes de expressão do meio, como o cineasta Glauber Rocha; será um prêmio destinado à produção de filmes sobretudo de caráter popular. A premiação de longas de outros países latino-americanos pode entrar em uma segunda etapa. A experiência na produção extra oficial de 2 Filhos de Francisco, em 2005, fez o cantor se tornar, de cinéfilo, um empreendedor em potencial. Capaz de discutir tanto a linha evolutiva do cinema brasileiro pós chanchadas quanto os motivos que levaram o filme O Coronel e o Lobisomem, de Maurício Farias, fechar a trilogia iniciada com O Auto da Compadecida e seguida com Lisbela e o Prisioneiro sem sucesso, Luciano brilha ao falar de cinema. "Quando a euforia do Oscar acabou, senti mesmo um vazio por achar que não estaria mais naquele meio. Foi nesta época que conheci pessoas que antes só admirava à distância. Não voltei ao normal porque amo demais isso tudo." De Carla Camurati, que Luciano classifica como "heroína" desde que tomou conhecimento de sua produção hercúlea de Carlota Joaquina, em 1995, um e-mail elogioso inflou seu ego. "Me emocionei". Da premiada diretora Laís Bodanzky, de Bicho de Sete Cabeças, de 2000, veio um convite para que o cantor participasse de um projeto de cinema realizado em comunidades carentes. "Aceitei na hora". Nelson Motta, um eterno crítico da música sertaneja, fez inúmeros elogios a 2 Filhos de Francisco, mesmo ressaltando que continuava sem sentir cheiro ou sabor no repertório dos irmãos. Um outro projeto a flutuar no plano das idéias de Luciano é a história do criminoso e ex-presidiário José Carlos dos Reis Encina, o Escadinha, assassinado em 2004 quando cumpria pena em regime semi-aberto. "É um velho desejo fazer um filme sobre a história de um homem que me lembra muito Robin Hood". Sem maiores discussões que poderiam explicar a frase em miúdos, Luciano guarda a idéia em local seguro. Seu faro de cineasta, diz, tem sido bem treinado. "Quando pensei em como seria bonito rodar a história do livro Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez, fiquei sabendo que seus direitos haviam sido vendidos para um cineasta há pouco tempo. Pelo menos eu estava certo." A vida na música após 2 Filhos de Francisco também não tem sido a mesma. A dupla de Goiás irá lançar em breve uma nova caixa com os CDs de sua carreira, incluindo o DVD de 2 Filhos, e um disco novo até o final de agosto. Os irmãos sentem que, depois do longa, passaram a contar com um surpreendente público infantil. Além de garantirem com isso longevidade à vida artística, Zezé & Luciano fazem agora matinês em algumas cidades. O CD novo, com 90% de músicas inéditas, terá duas participações daquelas que garantem mídia, seja lá o que for que eles cantem. Chico Buarque divide com Zezé di Camargo a canção Minha História e Ivete Sangalo faz presença em outra, ainda sem nome. Os cantores se preparam ainda para embarcar para suas primeiras apresentações em cidade de Portugal. Um festival de cinema em meio ao ciclone pós ´blockbuster´ que tem garantido à dupla sua melhor e mais rentável fase desde que os irmãos chegaram a São Paulo, no início dos anos 90, não é tratado por Luciano como algo descabido. No calor das respostas que tem dado a jornalistas sobre suas investidas cinematográficas, já disse que seus batimentos cardíacos se alteram mais pela sétima arte do que pela música. Faz questão de esclarecer, porém, que não é diretor. E nem tem pretensões de ser.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.