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'Cantando de Galo' traz um frangote mexicano corajoso

Desenho apresenta certas diferenças em relação aos produtos em geral apresentados às crianças

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

É tão raro um longa de animação mexicano chegar ao Brasil que, só por isso, Cantando de Galo deve merecer alguma atenção. No original, chama-se Un Gallo con Muchos Huevos, o que é intraduzível. Segundo a trama, e o título faz alusão a isso, o tal do galo deve ser muito macho mesmo para se desincumbir da missão para a qual é chamado.

O desenho é ok, a história vem pontuada por elementos pouco usuais em produções atuais destinadas a crianças, e certas cenas têm lá sua graça. A história é apresentada pelo cotidiano de uma simpática granja, na qual os animais vivem em harmonia com uma proprietária simpática. O “anti-herói” é um frango que desponta para a maturidade e prepara-se para dar seu primeiro canto de galo, saudando a manhã. O frangote parece ter as cordas vocais pouco desenvolvidas e desafina de forma lamentável, atormentando os tímpanos de todos seus colegas de mundo rural.

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O conflito surge quando a dona da fazenda se vê atolada em dívidas, o que talvez a obrigue a vender a propriedade. A única saída é partir para o desafio com um galo valentão e temido, ganhar a aposta e restabelecer a segurança no terreiro. Quem é designado para representar os moradores? Sem dúvida, o simpático frangote, que não consegue nem cantar e atende pelo nome de Toto.

Dito isso, é forçoso reconhecer em Cantando de Galo uma antologia de clichês. A começar pelo tema central, a luta do fraco contra o forte, sendo o primeiro representante do Bem e o segundo, do Mal. Temos tendência a torcer pelo mais fraco, daí que o filme já sai com esta vantagem. Jogo certo, mas passa longe da originalidade.

Depois, o longa leva o espectador ao mundo do pugilismo que, como é exercido por galináceos, remete às rinhas de galo, atividade proibida em vários países, porém invariavelmente tolerada em razão de longas e renitentes raízes culturais. Basta percorrer o interior do Brasil para ver como são populares as rinhas. Em países hispânicos, dá-se o mesmo. Pode não ser lá uma atividade louvável, e não é, mas existe, e o filme não foge a essa realidade.

Esse é um subtexto, importante porque “normaliza”, no inconsciente infantil, a tolerância com a violência. Pelo menos, esta é uma vertente crítica. A outra sustenta que ao longo do processo de formação não se deve esconder o que existe de mal no mundo. Mesmo porque a “mensagem” positiva do filme é que as melhores intenções acabam por triunfar, ainda que use as mesmas armas do oponente.

O que mais vale notar, no entanto, são as características do desenho. Não é de forma alguma notável, mas, pelo menos, não tenta imitar animações mainstream da Disney. O desenho de Gabriel e Rodolfo Riva Palacio Alatriste pode parecer até um tanto tosco para espectadores habituados à “limpeza” dos desenhos made in USA. Como a história corre por trilhos às vezes pouco habituais, o filme propõe uma experiência audiovisual pelo menos diferente para quem já se encontra saturado da mesma dieta, servida ano após anos em tempo de férias.

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