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Cannes reverencia anos de ouro da comédia

Este ano, o festival de cinema mais famoso do mundo reverencia de novo os reis do humor de Hollywood. Cannes sempre realiza uma retrospectiva. A de 2001 é dedicada à idade de ouro da comédia americana, em que reina Katharine Hepburn

Por Agencia Estado
Atualização:

Há nove anos Cannes vestiu-se de gala para homenagear Blake Edwards, um príncipe da comédia sofisticada e elegante. Este ano, o festival de cinema mais famoso do mundo e que começa nessa quarta-feira, reverencia de novo os reis do humor de Hollywood. Cannes sempre realiza uma retrospectiva. A de 2001 é dedicada à idade de ouro da comédia americana. Valeria ir à Croisette só para ver essa seleção de 27 títulos. Com o advento da televisão, um tipo de comédia tornou-se conhecido em todo o mundo. A sitcom, comédia de situações, é praticada hoje em dia até no Brasil. Antes disso havia a comédia dos grandes mestres, o humor universal de Charles Chaplin, criador de Carlitos, o pastelão do Gordo e o Magro, o verborrágico dos irmãos Marx. Sempre houve tudo isso, mas nos anos 30 e 40, a época de ouro focalizada, havia um gênero específico - a screwball comedy. Costuma-se traduzir esse gênero ou estilo de comédia como maluca. A definição vale, mas o conceito de maluco daquela época não é o mesmo das comédias teens que hoje fazem sucesso nem do besteirol tipo Austin Powers, celebrizado por Mike Myers. Eram muito bem escritas, possuíam diálogos brilhantes. Pegue alguns filmes da admirável seleção que Cannes vai ver. Núpcias de Escândalo e A Costela de Adão, de George Cukor, ambas com Katharine Hepburn, Levada da Breca, de Howard Haws, de novo com Katherine Hepburn, A Mulher do Dia, de George Stevens, ainda e sempre com Katharine Hepburn. Houve outras grandes comediantes naquela época. Claudette Colbert, Mae West, Jean Arthur - mas Kate é insuperável. Basta comparar a maneira como ela ajusta seu timing ao de diretores tão diferentes quanto Cukor, Hawks e Stevens. Em Núpcias de Escândalo, ela é a milionária que está para casar-se quando chega o ex-marido com uma dupla de jornalistas. James Stewart ganhou o Oscar, mas a velocidade com que Katharine diz suas falas e a sofisticação daquele jovem galã que depois virou um dos homens mais sedutores da tela (Cary Grant), é isto o que o espectador retém deste filme. Em A Costela de Adão, ela forma dupla com Spencer Tracy, seu parceiro na arte e na vida. Fazem casal de advogados que se enfrenta no tribunal - marido e mulher, um na defesa e outro na acusação e pelo mesmo caso. Opondo a solidez de Tracy ao estilo elétrico de Kate, o diretor Cukor fez desse filme escrito pela dupla Garson Kanin e Ruth Gordon uma espécie de comédia pré-feminista, discutindo os papéis de homens e mulheres numa sociedade controlada pelos primeiros. Por mais carismáticos e dominadores que sejam Tracy e Hepburn, A Costela de Adão celebra também outra dupla - Judy Holiday e Tom Ewell. E o mais divertido é que este clássico da comédia foi refeito na Bulgária nos anos 50, numa versão em que a heroína se rebela contra a tradição (e o marido) como conseqüência da sua conversão ao marxismo-leninismo. O feminismo ainda não estava na moda e já estava em questão em A Mulher do Dia, em que Kate faz a jornalista de política que se envolve com Tracy, o repórter de esportes. A cena em que ela vai ao estádio e tenta compreender as regras de sua primeira partida de basquete é uma delícia. Em Levada da Breca, a parceria é com Cary Grant, de novo. Ele é o paleontologista que se envolve com uma herdeira e ela tem um leopardo. Na melhor cena, Kate põe abaixo o esqueleto do dinossauro que, há anos, Grant tenta montar. É genial. Era mesmo a era de ouro da comédia.

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