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Cannes mostra dois competidores simpáticos, mas sem originalidade

O americano About Schmidt, com participação brilhante de Jack Nicholson, e o finlandês O Homem sem Passado agradam sem entusiasmar

Por Agencia Estado
Atualização:

O finlandês Aki Kaurismaki mostrou nesta quarta-feira, na competição do Festival de Cannes, O Homem sem Passado. É bom. Também não deixa de ser bom o filme de Alexander Payne com Jack Nicholson, About Schmidt. Pode-se discutir que esteja aqui em Cannes concorrendo à Palma de Ouro, mas não que possui qualidades superiores à média da produção de Hollywood. Jack Nicholson deu um show na coletiva de About Schmidt. É um astro de brilho indiscutível e é a própria razão de ser do filme de Payne. O cinema já contou muitas histórias de velhos em crise. O próprio Payne disse que começou a escrever um filme sobre o assunto há coisa de dez, 12 anos. Deveria chamar-se The Coward e seria um filme sobre um sujeito que se aposenta, perde toda a estabilidade afetiva e profissional e começa a questionar-se sobre o sentido da vida. A New Line comprou os direitos do filme com Nicholson. Convidou Payne para dirigi-lo. Ele manteve seu roteiro original, acrescentando-lhe alguns incidentes previstos no script para Nicholson. A New Line topou, o ator topou. O resultado está aqui em competição. Já houve filmes parecidos: Harry e Tonto, de Paul Mazursky, Ainda Há Fogo sob as Cinzas, o único filme dirigido pelo ator Jack Lemmon. About Schmidt segue essa via mas se diferencia dos outros filmes pelo humor, pouco freqüente nas histórias sobre a velhice, e pela interpretação de Nicholson. Ele faz o Schmidt do filme. Aposenta-se, perde a mulher, põe o pé na estrada - em busca do seu passado, da filha. Faz descobertas assombrosas: a mulher teve um caso com seu melhor amigo. A filha não lhe quer bem. About Schmidt não termina sem que o personagem se reconcilie consigo mesmo. Parte dessa reconciliação vem por meio da caridade. Schmidt assume a proteção de um garoto pobre do outro lado do mundo. Escreve-lhe cartas. Recebe um... Parando: é melhor não ir em frente para não tirar a graça do desfecho do filme, que foi bastante aplaudido, mais por Nicholson, reconheça-se, embora a direção tenha toques delicados e até originais dentro de um tema que, afinal, não é novo. O Homem sem Passado também não parece novo. Você já viu muitas histórias de desmemoriados. O protagonista, aqui, é atacado logo no começo e deixado à morte, sem documentos e com o corpo arrebentado. Salva-se - para descobrir o quanto é difícil (sobre)viver sem identidade. Kaurismaki mostra um retrato pouco lisonjeiro da Finlândia. Punks violentos, bêbados, todo tipo de marginais urbanos. Há um tom no filme que talvez nem seja novo. Está em Os Cowboys de Leningrado, por exemplo. Mas é tudo tão simpático, encantador, o romance do homem sem passado com uma integrante do Exército de Salvação, os diálogos que são clichês satirizados. Kaurismaki fez um filme inteligente e sedutor. Não é pouco.

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