Cannes faz festa para Woody Allen

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Por Agencia Estado
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A reclusa figura de Woody Allen foi recebida de forma estrondosa hoje no Festival de Cannes, para dar o pontapé inicial ao maior festival de cinema do mundo. "Estou tentando dominar o pânico", disse o diretor de 66 anos, respondendo a perguntas sobre seus primeiros passos no célebre tapete vermelho de Cannes. Allen é há muito tempo reverenciado na Europa e especialmente na França, mas apesar dos pedidos que sempre lhe chegaram para participar do festival, ele nunca havia comparecido, deixando que outros promovessem seus filmes. Woody Allen disse que chegou a hora de agradecer ao público francês por anos de apoio. Seu filme mais recente, Hollywood Ending, também lhe pareceu perfeito para Cannes, exatamente porque brinca com público e a crítica francesa. "Senti que depois de tantos anos eu deveria dar uma mostra de gratidão ao público francês, dizendo sim uma vez", disse Allen. "Estou nas nuvens", afirmou o normalmente contido Gilles Jacob, presidente do festival. Segundo ele, Cannes vem convidando Allen há 25 anos. Após anos de auto-isolamento de Hollywood e outros festivais igualmente glamourosos, Allen acordou para o grande circuito este ano. Primeiro, apareceu de surpresa no Oscar, em março, mostrando solidariedade à cidade de Nova York. Agora, Cannes. Mas ele insiste que é tudo coincidência. "Sei que parece um caso de conversão religiosa, mas volto para a toca em algumas horas", brincou. Coincidência ou não, as aparições de Woody Allen no mundo dos famosos acontecem quando seus filmes precisam de uma promoção mais agressiva. Hollywood Ending estreou em 3 de maio nos Estados Unidos com resultados decepcionantes. Estrear a fita em Cannes é um impulso para a carreira européia de sua última produção. O filme conta a história de um cineasta idoso, Val Waxman, cuja carreira vai tão mal que ele é obrigado aceitar rodar comercial de desodorante numa floresta gelada do Canadá. De repente, surge uma grande chance, mas com um preço: sua ex-esposa, Ellie (Tea Leoni), que se tornou uma executiva de cinema, quer voltar para ele. Ela tem um projeto de filme com filhotes de animais e quer o ex-marido na direção. Há um problema: Hal (Treat Williams), que conquistou Ellie e a separou de Val, dirige o estúdio. Val aceita o trabalho, mas, prestes a filmar, fica repentinamente cego, mas esconde da equipe que perdeu a visão. Ainda que alguns críticos tenham notado que Allen, no filme, não pareça um cego, muitos apreciaram o sarcasmo do diretor para com Hollywood, como no momento em que Ellie pede que sua assistente envie a Haley Joel Osment (o garoto de Sexto Sentido e Inteligência Artificial) flores congratulando-o por um prêmio de conjunto da obra. A despeito da cegueira do diretor, o filme é feito. E no fim, Val Waxman corre a Paris para mostrar o filme ao público francês, que adora. "Achei que a platéia de Cannes iria gostar particularmente disso", disse Allen. Amado pelos franceses desde o tempo de Bananas, ele se surpreende com a agilidade cultural da França. "Nos Estados Unidos achamos impressionante como os franceses descobrem nossos artistas antes de nós", disse, mencionando Edgar Allan Poe e William Faulkner como exemplos.

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