"Cama da Gato" faz carreira internacional

Longa digital de Alexandre Stockler, com baixo orçamento e elenco recrutado pela Internet, estréia no Festival Internacional de Cinema de Montreal

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Por Agencia Estado
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O filme Cama de Gato, de Alexandre Stockler, estréia nesta quinta-feira para o público do Festival Internacional de Cinema de Montreal e terá reapresentações na sexta e no sábado. Mas não será tão cedo que chegará ao circuito nacional, já que vai rodar primeiro os festivais estrangeiros, como o de Quebec e outros da América do Norte, antes de desembarcar nos cinemas brasileiros. Cama de Gato é a típica produção que tenta conciliar baixo orçamento e boa qualidade. Não consumiu mais do que R$ 120 mil e um mês de filmagens. Reúne atores desconhecidos, recrutados para testes por meio da Internet. A equipe técnica e a trilha sonora também foram selecionadas após campanhas promovidas na rede mundial de computadores. O número de atores inscritos foi maior do que o esperado. Foram cerca de 700 atores interessados em garantir um papel no filme. O único rosto famoso na produção é o do jovem ator global Caio Blat. Segundo Alexandre Stockler, o próprio Blat manifestou interesse pelo roteiro, mas não foi a primeira opção do diretor. "Um outro ator deu problemas e Caio veio a São Paulo fazer o teste", relata. "O primeiro teste não foi bom, porque ele deu uma leitura própria ao personagem. Dias depois, fez nova tentativa e foi muito bem." Caio Blat faz parte do trio de personagens centrais de Cama de Gato. As sucessivas ações deles desencadeiam a trama. Utilizando-se de elementos como drama, humor negro e crítica social, Stockler constrói o retrato de uma juventude de classe média alta paulistana, que tem acesso a tudo que os bens materiais permitem. Para sair da mesmice, buscam novas emoções em suas vidas. Os três, que acabam de entrar na universidade, acreditam que esta é a última chance de se divertirem. Depois virá trabalho, família, responsabilidades. A busca de diversão a qualquer preço induz os jovens a tomarem atitudes inconseqüentes, o que lhes causa problemas a partir do momento que rompem regras de comportamento. Suas ações impensadas acabam provocando incidentes não premeditados, como crimes e estupro. Ao tentarem resolver os problemas, criam outros. "O filme trata de conflitos éticos, públicos e pessoais. É aquela história: as pessoas não podem fazer certas coisas, que são permitidas quando envolvem entes queridos", analisa o diretor. A trama ficcional é permeada por depoimentos verídicos, de jovens entre 16 e 20 anos, que discorrem sobre diversos assuntos de seu universo, como sexo, política, pais, Deus. "Eles expõem situações parecidas com as que os personagens estão passando na tela." Para criar climas apropriados às cenas Stockler faz uso de diferentes bitolas de vídeo digital e 16 mm. Trata-se da primeira produção do manifesto Trauma (Tentativa de Realizar Algo Urgente e Minimamente Audacioso), lançada em 1999, como uma resposta latino-americana ao movimento dinamarquês Dogma 95, que estabelece dez mandamentos para a produção de um filme. O Trauma prega a realização de longas-metragens de qualidade, por meio de baixos orçamentos. As dificuldades de produção devem servir como fonte criativa e não como barreira para a concepção de um filme. Nesse seu primeiro trabalho para o cinema, Alexandre Stockler sentiu na pele os dissabores de fazer uma produção com parcos recursos financeiros. Mesmo assim, não renegou os fundamentos do manifesto Trauma. Rodado entre julho e agosto de 2000, Cama de Gato demorou quase um ano para ser finalizado. Stockler, que vinha de uma carreira no teatro, sabia que enfrentaria dificuldades, mas nem tantas. "Eu não tinha idéia dos problemas que poderia vir a enfrentar sem ter dinheiro." Ele afirma que buscou patrocínio, mas não conseguiu por causa de certas cenas do filme, como a do estupro. Para ter o investimento, precisaria modificar o roteiro. Preferiu preservá-lo. Diz ter enfrentado também propostas inescrupulosas de algumas empresas. Elas prometiam fazer investimentos, por meio de leis de incentivo, desde que Stockler assinasse notas frias confirmando o recebimento de quantia muito maior do que realmente tinha recebido. Parte do dinheiro, então, ficaria com a empresa. Quem quiser saber mais sobre a produção pode visitar o site www.camadegato.com.br.

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