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Caixas trazem clássicos dos samurais

Épicos de espada, incluindo a obra-prima ‘Rebelião’, com a dupla Mifune/Nakadai, chegam ao mercado

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Durante séculos, entre os anos de 1100 e 1867, houve uma casta de guerreiros muito especiais no Japão. Serviam à aristocracia do governo militar chamado ‘xogunato’. Eram samurais, dotados de grande habilidade com a espada. Possuíam um rígido código de honra. Um samurai tinha de estar disposto a morrer por seu xogun. E então, com o fim da era Meiji, houve a rápida derrocada do que representavam. Como o Velho Oeste para Hollywood, a saga dos samurais deu origem a um gênero – o filme de espada. Foram épicos, e filmes de sabre, os primeiros que o Japão enviou para o Ocidente e que arrebentaram em festivais nos anos 1950. O mundo encantou-se com os samurais de Keisuke Kinoshita, Kenji Mizoguchi, Akira Kurosawa e Tomu Uchida.

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Muitos críticos no Ocidente sempre viram uma proximidade do gênero com o western. Grandes filmes de samurais viraram westerns – e há o caso célebre de Os Sete Samurais, de Kurosawa, que virou Sete Homens e Um Destino, de John Sturges. A Versátil lança agora as caixas de DVDs Cinema Samurai e Os 47 Ronins. A primeira traz, entre outros, A Lança Ensanguentada, de Uchida, e o que talvez seja o maior filme japonês de todos os tempos – Rebelião, de Masaki Kobayashi, com o duelo antológico entre Toshiro Mifune e Tatsuya Nakadai. A caixa dos 47 ronin traz diferentes versões da história que acaba de ser refeita em Hollywood com Keanu Reeves (e estreia em janeiro nos EUA).

Os 47 ronins viveram no Japão do século 18 e entraram para a história – para a lenda – ao vingar a morte de seu mestre. O tema é recorrente no cinema japonês e a melhor das três versões na caixa da Versátil é a do mestre Mizoguchi, de clássicos como Contos da Lua Vaga e O Intendente Sansho. O filme de 1942 transpira a violência e serenidade típicas de Mizoguchi. Há outra versão dirigida por Hiroshi Inagaki, realizador de O Homem do Riquixá, também com Toshiro Mifune (resgatado em outro lançamento da empresa). Os primeiros filmes de Inagaki abordaram temas sociais, mas o sucesso de Musashi Samurai nos EUA – e o prêmio de Veneza para Riquixá – o direcionaram para a aventura.

Tomu Uchida teve uma vida tão movimentada que daria um filme. Desertou do Exército japonês e exilou-se com revolucionários chineses na Manchúria, só retornando ao país após a 2.ª Grande Guerra. A Lança Ensanguentada integra uma trilogia – e na verdade encerra uma tentativa de desmistificação do Kendô, o caminho do samurai. Uchida ressalta em tons picarescos as diferenças sociais do xogunato e a violência do bushido. É um diretor que tem olho para a beleza e o exotismo. A Lança, qualquer um dos três filme – mas este, em particular –, enche os olhos do público.

E chega-se, enfim, a Kobayashi. Sua trilogia Guerra e Humanidade, também chamada de A Condição Humana, faz a revisão do Japão, durante a guerra, do ângulo de Kagi, interpretado por Tatsuya Nakadai. Foi o ator fetiche do cineasta, presente em seus maiores filmes – Hara-kiri, Rebelião. Depois, virou alter ego de Akira Kurosawa, com quem havia filmado em Yojimbo e Sanjuro, estrelados por Toshiro Mifune. Rebelião é de cortar o fôlego, e na época foi um escândalo que tivesse sido rejeitado no Festival de Veneza. O tema é o choque entre samurais. Mifune, querendo denunciar as atrocidades do xogun, choca-se com Nakadai, que deve defender seu senhor. Mas Nakadai é ético e sabe que Mifune está certo. Se o derrotar, estará indo contra tudo o que acredita. Se não lutar, será indigno do bushido (e de si mesmo). É um conflito fordiano – a glória do derrotado. Só esse duelo, como é filmado, garante o lugar de honra de Kobayashi no cinema.

OS 47RONINSCaixa com três versões da história, incluindo as de Kenji Mizoguchi e Hiroshi Inagaki (com Toshiro Mifune). Versátil. R$ 69,90

CINEMA SAMURAICaixa com seis filmes inclui A Lança Ensanguentada, de Tomu Uchida, e Rebelião, de Masaki Kobayashi, com Mifune e Nakadai. Versátil, R$ 69,90

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