Caixa ‘Obras-Primas do Terror’ reúne seis clássicos do gênero

Box traz mistério, tensão e cenas assustadoras; ‘A Morte do Demônio’ é uma das pérolas do pacote

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Em 1957, o terror já estava mudando no cinema e a empresa Hamer, especializada em Dráculas e Frankensteins, começava a usar a cor para carregar na violência gráfica. Montes de sangue, somados ao sexo. Logo em seguida, a cena do assassinato na ducha em Psicose, de Alfred Hitchcock – que o mestre filmou em preto e branco justamente para evitar o que, para ele, era a vulgaridade do vermelho sangue –, tornou-se emblemática de uma revolução da imagem. Mais 13 anos e William Friedkin, em O Exorcista, senão inventou, aperfeiçoou o terror gore, com sangue, vômito e tudo o mais. Mas, em 1957, quando tudo começava a mudar, Jacques Tourneur assinou o canto do cisne de um terror baseado na sugestão, mais do que na exposição crua.

Última obra-prima do autor, A Morte do Demônio integra e talvez seja a pérola da caixa Obras-Primas do Terror. São seis filmes. No de Tourneur, um renomado cientista vai a Londres participar de um simpósio, mas, na verdade, o que ele quer é ajudar o amigo a expor outro cientista que tem ligação com o diabo. O amigo morre e o herói arrisca-se para concluir sua missão. O filme pertence a uma fase do terror em que os diretores usavam o gênero para discutir a ciência. Existem cenas tão intensas – a partir do nada – que o espectador vê o filme com o peito apertado. Um passeio na floresta, rico em sugestões, torna-se angustiante. Tourneur era mestre na arte de sugerir. Ele foi o mais ilustre dos diretores que se destacaram sob a bandeira do produtor Val Lewton.

Maldade. O ator Vicent Price em 'A Orgia da Morte' Foto: Reprodução

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Conta a lenda que o produtor de A Morte do Demônio fez reescrever o roteiro de Charles Bennett, um antigo parceiro de Hitchcock, e obrigou Tourneur a filmar e montar a cena em que o demônio aparece. O maléfico é tão impressionante que o próprio Tourneur talvez não tenha sido obrigado a nada. A cena é antológica, além de assustadora. Dos demais títulos, há muito a destacar, a começar por A Orgia da Morte, The Mask of the Red Death, o melhor filme da série que Roger Corman adaptou de Edgar Allan Poe, no começo dos anos 1960. Suntuosamente filmado – direção de arte de Daniel Haller, fotografia de Nicolas Roeg –, Orgia tem curiosos pontos de contato com O Sétimo Selo, que Ingmar Bergman havia feito anos antes.

Em ambos, a peste desempenha um papel importante e, se os cristãos de Bergman imploram a Deus para poupá-los, o castelão Vincent Price, devotado ao demo, acredita que satã também vai salvá-lo, mas, embora isso não ocorra, é curioso ver como Corman evita o maniqueísmo. Bons e maus ardem na mesma fogueira e nem um nem outro é absoluto. Todos os personagens, até a mocinha, que seria pura, constroem-se numa área de ambivalência. Para incrementar o pacote, os extras incluem depoimentos de Vincent Price e Roger Corman. O primeiro, um príncipe da elegância que se especializou em interpretar dementes, e o segundo, o gênio do pequeno orçamento, têm muito o que contar, você vai ver.

O episódio de Alberto Cavalcanti – O Ventríloquo – em Na Solidão da Noite, a ambivalência dos personagens de Henry Daniell e Boris Karlof em O Túmulo Vazio, de Robert Wise, e o erotismo carregado de Mario Bava em O Chicote e o Corpo somente aumentam os prazeres perversos dessa caixa. Mas a outra, a segunda pérola, é A Aldeia dos Amaldiçoados, que Wolf Rilla dirigiu em 1960. Um blackout ocorre numa pequena cidade, as mulheres engravidam – e ninguém se lembra de nada. Todas dão à luz no mesmo dia e hora. Nascem essas crianças loiras, e estranhas. Possuem poderes telepáticos. Um professor que investiga o caso suspeita que sejam alienígenas. E ele bola um plano para que não consigam ler sua mente. Quem vir o cult de Rilla e comparar com o remake de John Carpenter terá de admitir – o obscuro Rilla dá de 100.

OUTROS VAMPIROS

Entrevista com o Vampiro

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O longa que Neil Jordan adaptou do livro famoso de Anne Rice fez sensação por seu homoerotismo. O beijo de Tom Cruise e Brad Pitt causou frisson, mas a verdade é que, embora bem-feito, o filme não é dos melhores de Jordan. E trama seduz. Em New Orleans, o vampiro Lestat conta tudo a um repórter, e você pode imaginar como termina a entrevista. 

Drácula de Bram Stoker

Ou de como o diretor Francis Ford Coppola reinventou o cinema de vampiros no começo dos anos 1990. Drácula atravessa o tempo buscando a mulher que perdeu. Reencontra-a metamorfoseada numa jovem em Londres, no começo do século passado. O romantismo mórbido traduz-se em imagens suntuosas e numa trilha (de Wojech Rilla) insuperável.

Sombras da Noite

Só para fãs de carteirinha da dupla Tim Burton/Johnny Depp. Baseada na série cult de TV, o filme mostra Depp como vampiro que acorda no mundo contemporâneo. A ideia era fazer do ator um vampiro tão afetado quanto o Jack Sparrow da série Piratas do Caribe. O problema é da direção, que, à força de tanto querer dizer, significa nada.

OBRAS-PRIMAS DO TERROR

Direção: vários Gênero: Terror Distribuidora: Versátil Preço: R$ 69,90 (box com 3 DVDs)

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