PUBLICIDADE

Caixa com quatro DVDs homenageia Katherine Hepburn

Uma das atrizes mais sensuais de Hollywood, que morreu em junho de 2003, quatro vezes vencedora do Oscar, está agora em caixa de DVDs

Por Agencia Estado
Atualização:

Quando Katharine Hepburn morreu, em junho de 2003, aos 94 anos, os elogios foram unânimes e até o presidente George W. Bush, que não é exatamente o cara mais popular do planeta, não encontrou nenhuma voz contrária ao dizer que ela foi um grande ícone americano. Quatro vezes vencedora do Oscar, um recorde nunca igualado - por Manhã de Glória, Adivinhe Quem Vem para Jantar?, O Leão no Inverno e Num Lago Dourado, em 1933, 1967, 1968 e 1981 - Kate, como era, afetuosamente, chamada, encantava o público e os críticos por seu talento e franqueza. Sem ser espetacularmente bela, ela conseguiu impor um padrão na Hollywood dos anos dourados. Foi uma feminista avant la lettre, celebrando um tipo de mulher moderna e independente que não era a tônica no cinema americano de 50, 60 anos atrás. A mulher que Kate representava queria sempre conquistar seu espaço, mas, como a atriz, que aceitou ser a outra na vida de Spencer Tracy, até a morte dele, em 1967, ela sabe onde e como transigir. Andrógina, angulosa, Kate adotou, pela praticidade, as calças compridas, mas ao contrário de Greta Garbo e Marlene Dietrich, sua fama nunca esteve associada a um mito de ambigüidade sexual. Até se fixar em Spencer Tracy, ela foi uma grande devoradora de homens, tendo tido um caso célebre com John Ford, quando fizeram Maria Stuart, em 1936. Tudo isso pode ser lembrado agora que está saindo uma caixa da Warner dedicada a Katharine Hepburn. A era de ouro do cinema São quatro filmes que Kate interpretou entre 1935 e 52, dois sob a direção de George Stevens (A Mulher Que Soube Amar e A Mulher do Dia), dois sob a direção de George Cukor (A Costela de Adão e A Mulher Absoluta). Três deles se contam entre os nove que interpretou em dupla com seu amado Tracy, o que realça ainda mais a preciosidade da caixa - diretores e elencos pertencem à era de ouro do cinema. Sete anos mais tarde, Stevens refez a parceria com Kate e realizou o primeiro filme dela em dupla com Tracy. A atriz faz uma comentarista política que se envolve com repórter esportivo. Apesar das tensões decorrentes da diferença de interesses, ambos se casam. A cena notável é aquela em que Kate tenta aprender as regras de um jogo de beisebol. O roteiro co-escrito por Garson Kanin deu origem, depois, a um musical da Broadway. Kanin co-escreveu, em parceria com sua mulher, a atriz Ruth Gordon (de O Bebê de Rosemary e Ensina-me a Viver/Harold and Maude), os roteiros de A Costela de Adão e A Mulher Absoluta. Os dois foram filmados, em 1949 e 52, por George Cukor, que entrou para a história como o diretor que mais entendia de mulheres (até Pedro Almodóvar, pelo menos. Casualidade ou não, Cukor era, como Pedro, gay assumido). No primeiro, Kate e Tracy fazem advogados que se defrontam no tribunal, no caso de uma mulher (Judy Holiday) acusada de desferir tiros ao descobrir o marido (Tom Ewell) na cama com outra. A tese de Kate no tribunal é que, se fosse Ewell a atirar, os jurados o estariam felicitando. Tracy a acusa de burlar-se da Justiça. O filme envelheceu sem perder um milímetro da graça. É uma das grandes comédias sobre a batalha dos sexos no cinema. A Mulher Absoluta é tão boa quanto. Mesmo que o diálogo não seja tão brilhante, os atores o dizem com tanta graça (e ritmo) que você se entrega ao prazer de ver a dupla contracenar. Kate faz uma atleta que quer superar seus limites e vencer em todas as modalidades; Tracy é o treinador que tenta fixar limites para ela. A metáfora sobre o casamento, e a própria união dos dois, é clara. O feminismo cede ao machismo, mas até isso fazia parte do jogo entre Hepburn e Tracy. Com tanta gente importante, a caixa de Kate é um presente para os cinéfilos.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.