'Cabíria' também abriu caminho para o surgimento dos primeiros ídolos da tela

O filme contou ainda com roteiro do grande escritor italiano Gabrielle D'Annunzio

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Por João Villaverde
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O filme Cabiria também foi vanguardista ao trabalhar com o conceito de celebridades, antecipando um fenômeno que poucos anos depois se tornaria a marca registrada de Hollywood. A atriz Italia Almirante-Manzini, considerada a primeira diva do cinema italiano, abriu caminho para Anna Magnani, Sophia Loren, Ingrid Bergman e outras. O ator Bartolomeo Pagano, cujo personagem Maciste viria a ser o primeiro herói da história do cinema, reencarnaria anos depois em atores como Arnold Schwarzenegger, Sylvester Stallone e outros."Cabiria foi o primeiro blockbuster da história do cinema, iniciando uma era que perdura até hoje, com filmes como Titanic, O Senhor dos Anéis e tantos outros", disse o especialista Jonathan Kuntz, professor de cinema da Universidade de Califórnia (UCLA). Sem dispor de computadores, o diretor Pastrone registrou cenas clássicas na marra, como a travessia dos gélidos Alpes no norte da Itália, e o gigantesco cenário montado no estúdio da Itala, em Turim. Ao todo, foram quase 5 mil figurantes, 200 elefantes, 900 cavalos, 200 camelos e 4 locações (Turim, Alpes, Sicília e Tunísia). O filme contou ainda com roteiro do grande escritor italiano Gabrielle D'Annunzio.Cultuado como "o filme que culminou com o surgimento do cinema épico", nas palavras de Gene Zonarich, especialista em cinema do início do século 20 e autor do blog 11 East 14th Street, Cabiria tem para si uma área nobre no Museu Nacional de Cinema, em Turim. O cenário onde as cenas mais emocionantes foram feitas, chamado de "O Templo de Moloch", está parcialmente recriado no museu.Quem pensa em cinema italiano, imediatamente pensa em Roma, o cenário de clássicos como A Doce Vida (1960), de Federico Fellini, Mamma Roma (1962), de Pier Paolo Pasolini, ou até o vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2014, A Grande Beleza, de Paolo Sorrentino. Mas, antes dos grandes estúdios da Cinecittá, na capital italiana, Hollywood (EUA), Berlim (Alemanha) ou Paris (França), foi Turim, no norte da Itália, que sediou a principal indústria de cinema, no período de 1907 a 1915."A entrada da Itália na 1ª Guerra Mundial arrasou com a indústria cinematográfica italiana, ou seja, arrasou com Turim", disse o especialista Jonathan Kuntz, da Universidade da Califórnia (UCLA). A Itália que ressurge com o fascismo de Benito Mussolini, que governou de 1922 a 1945, tem um desenho claro para as principais cidades: à Roma cabe a cultura, incluindo o cinema, enquanto Milão se estabelece como centro comercial e financeiro, e Turim serve como polo industrial, tendo a fábrica da Fiat como ponta de lança.Os esforços para retomar a liderança cultural perdida são grandes em Turim. O Estado visitou o complexo industrial Cineporto, na zona norte da cidade, que conta com infraestrutura para todas as etapas de produção de um filme - equipamentos de registro, edição, sonorização, montagem, efeitos especiais, além de locação e cenografia. Coincidentemente, o Cineporto fica a apenas um quarteirão do local onde os maiores cenários de Cabiria foram montados, na Rua Mantova, 38. Ao lado do Cineporto, há um restaurante, La Piola del Cine, com motivos de cinema e cartazes dos filmes realizados na cidade, como Quo Vadis (1912), Os Últimos Dias de Pompeia (1913) e Cabiria (1914).Além de berço do cinema, Turim também foi a primeira capital da Itália após a unificação, em 1860. Sediados na capital do Piemonte, também estão a montadora Fiat, o tradicional jornal La Stampa, e o clube de futebol mais popular da Itália, a Juventus. Além disso, foi em Turim que o grande pensador comunista Antônio Gramsci iniciou sua luta contra Mussolini, que o levaria para o cárcere, onde ficou por 11 anos, saindo pouco antes de morrer, em 1937.

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