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"Bufo & Spallanzani" sai do papel e estréia no Rio

Thriller psicológico de Flávio R. Tambellini, adaptado da obra de Rubem Fonseca, deve ser exibido no dia 14 pelo Festival do Rio BR, que começa na quinta

Por Agencia Estado
Atualização:

Antes dele houve Medeiros e Albuquerque, Jerônimo Monteiro e Luís Lopes Coelho. Rubem Fonseca não inventou o policial à brasileira, mas foi com ele que esse tipo de literatura adquiriu sua carta de nobreza no País. A Grande Arte é um grande policial e um belo romance - melhor que o filme que dele tirou Walter Salles. Três anos depois Fonseca produziu outro policial - Bufo & Spallanzani. Outro policial sim, e também um romance de aventuras, erótico, burlesco, picaresco, tudo isso, nada disso e muito mais, como escreveu um dos exegetas do livro, na época do lançamento. Bufo & Spallanzani está saindo do papel. Virou filme dirigido por Flávio R. Tambellini, que deve estrear no Festival do Rio BR, que começa nesta quinta-feira. Será exibido no dia 14, integrando a Première Brasil, que mostra só filmes brasileiros inéditos. Como tal, poderão habilitar-se aos prêmios em dinheiro que a Distribuidora BR, que patrocina o evento do Rio, vai dar com base na votação do público - R$ 200 mil para a melhor ficção e R$ 100 mil para o melhor documentário, a título de incentivo à comercialização. Tambellini embarcou há quase um mês para os Estados Unidos. Foi para Nova York e de lá viajou para Los Angeles, para fazer a pós-produção (leia-se edição de som e outros detalhes de acabamento). A BR é a principal patrocinadora do filme de Tambellini, por meio da Lei do Audiovisual. Estimulou-o a colocar Bufo & Spallanzani na mostra. O diretor não teme ser acusado de nada, caso seu filme venha a ser premiado. Afinal, quem vai escolher é o público. É um policial, esclarece Tambellini, mas não um policial americano, estruturado a partir daqueles códigos que Hollywood já banalizou e servem apenas para veicular tiros e patadas. Também não é um policial francês, metido a intelectual e alicerçado nos diálogos. Tambellini recebe a reportagem na sede da sua produtora, a Ravina, no Jardim Botânico. Logo na entrada há um cartaz do filme Ravina, de Rubem Biáfora, que seu pai produziu nos anos 50. Vem daí o nome da produtora. Tambellini pai foi produtor e diretor. Tambellini filho seguiu seus passos. São homônimos, exceto pelo R que o segundo usa como nome intermediário. Há quem o confunda com o pai, ele está acostumado. Como produtor, Tambellini tem seu nome ligado a diversos filmes, de A Ostra e o Vento, de Walter Lima Jr., a Eu Tu Eles, de Andrucha Waddington (é sócio da Conspiração). Dirigiu um curta sobre Tim Maia, dois documentários (um sobre os mistérios de Paraty e outro sobre a Mata Atlântica, tal como é vista na música de Tom Jobim). Pensava estrear no longa com um argumento próprio. Como gostava do livro de Fonseca, terminou optando por Bufo & Spallanzani. DivulgaçãoPara ser fiel ao escritor, Tambellini anuncia um produto de linguagem complexa, com uma história se desenvolvendo no passado, outra no presente Primeiro teste - "É um thriller psicológico", diz o diretor. "É seco", acrescenta. Diz que é de ação, mas sem ação, para diferenciar dos produtos de Hollywood. Não queria fazer uma cópia e menos ainda do livro de Fonseca, que os críticos já chamaram de romance da carpintaria perfeita, dizendo que o autor investe na trama do mistério policial para dar espaço a um texto refinado, repleto de humor corrosivo, com recursos à paródia e à ambigüidade temática. A trama, propriamente dita, acompanha o percurso do narrador Gustavo Flávio, pseudônimo literário de Ivan Canabrava. Homem de passado negro, mantém um caso com Delfina, mulher de um milionário. Ela é encontrada morta, no volante de seu carro. Entra em cena o investigador Guedes, personagem reincidente na obra de Fonseca, pois já apareceu no conto Mandrake, do livro O Cobrador. Tambellini chamou a escritora Patrícia Melo para escrever o roteiro. Fonseca começou a palpitar e também ganhou crédito no roteiro. Tambellini fez a revisão do roteiro final dos dois, mexeu aqui e ali e a dupla fez questão de que ele também assinasse o script. A Distribuidora BR, o Banespa e o BNDES são os principais investidores da produção orçada em R$ 3 milhões. O elenco traz Tony Ramos, a quem Tambellini não poupa elogios, José Mayer, Isabel Gueron, Juca de Oliveira, Matheus Nachtergaele (o genial João Grilo de O Auto da Compadecida), Zezé Polessa, Maitê Proença, Gracindo Júnior, Milton Gonçalves, Otávio Augusto e Celso Frateschi. O filme não é linear, adverte o diretor, que chega ao Rio com a cópia definitiva debaixo do braço, às vésperas da exibição de Bufo & Spallanzini, no dia 14. Até para ser fiel ao escritor, Tambellini anuncia um produto de linguagem complexa. Há uma história que se passa no passado, outra no presente. Há três personagens que são comuns a ambas, o passado explica e ilumina o presente, mas não se trata de um flash-back, garante o diretor. Para a música, ele chamou Dado Villa-Lobos, do Legião Urbana. Explica o conceito da trilha - queria alguma coisa no espírito techno rock de Takeshi Kitano em Hana-Bi - Fogos de Artifícios. Amou o trabalho de Villa-Lobos. O filme deve estrear só em março ou abril, distribuído pela Columbia. O Festival do Rio será seu primeiro teste. Projetos não faltam para Tambellini, nos próximos meses. Hector Babenco chamou-o para fazer a produção de Carandiru, o filme que está adaptando do livro de Dráuzio Varela, com roteiro de Fernando Bonassi e Victor Navas, mas ainda não se acertaram. E Tambellini vai produzir a estréia de José Henrique Fonseca na direção. É o filho de Rubem Fonseca. O Homem do Ano baseia-se em O Matador, de Patrícia Melo, e desta vez Tambellini fez o contrário. Com a cumplicidade de José Henrique, chamou seu pai, Rubem, para adaptar o texto de Patrícia. O filme entra em preparação em janeiro. Outro policial. Os fãs do gênero estão tinindo por esse revival do policial no cinema brasileiro. Afinal, de O Assalto ao Trem Pagador, de Roberto Farias, a O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla, e A Rainha Diaba, de Antônio Carlos Fontoura, grandes policiais já foram produzidos pelo cinema nacional. Espera-se que Bufo & Spallanzani e, na seqüência, O Homem do Ano venham engrossar a lista.

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