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"Brilho Eterno" prende atenção pelo roteiro

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Por Agencia Estado
Atualização:

Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, que estréia hoje, tem uma singular mistura de drama, comédia romântica e ficção científica. O filme é dirigido por Michael Gondry, mas a referência maior é o roteirista Charlie Kaufman, também escritor de Adaptação, Confissões de uma Mente Perigosa e Quero Ser John Malkovich, este último cult por excelência do cinema americano inteligente. A criatividade do enredo justifica a fama do seu inventor. Aparentemente não é nada: há um casal, Joel (Jim Carrey) e Clementine (Kate Winslet), com seus conflitos. Para resolvê-los, a moça resolve recorrer aos serviços de um profissional que apaga as lembranças dolorosas dos clientes. Desesperado, Joel procura fazer o mesmo, de modo a "deletar" Clementine dos seus neurônios. A história é exposta de maneira criativa. Primeiro, não segue o tradicional caminho linear no tempo. Segundo, porque, a partir de certo momento, o que se vê na tela passa a boiar entre pelo menos dois planos distintos, o da "realidade" objetiva e o do delírio de uma mente que está sendo em parte apagada. Brilho Eterno respira essa dificuldade de contato com o real e com o mundo das emoções. Joel é um tipo tímido, fechado em si; Clementine é extrovertida, aquela espécie de mulher que enche de arestas um relacionamento e por isso o torna instável, encantador e perigoso. Dada a intensidade do encontro, tanto um como outro procuram alívio no esquecimento. No mundo supersaturado de informações, o esquecimento só pode aparecer como medida salvadora - e não apenas no caso particular de um amor frustrado. Luiz Zanin Oricchio Leia entrevista com Charlie Kaufman, por Elaine Guerini O nome do roteirista costuma passar despercebido nos créditos. Menos o de Charlie Kaufman, que caiu nas graças de Hollywood e do público pela irreverência e imprevisibilidade de suas tramas. Com apenas quatro longas no currículo, o escritor de 45 anos já figurou na lista dos mais poderosos da indústria, divulgada pela revista Première. Uma façanha para um roteirista que não acumula a função de diretor . Como é o seu processo criativo? Antes de começar a escrever, já define como as peças vão se encaixar no final? Charlie Kaufman - Não. Para manter o processo de criação vivo, prefiro começar sem saber onde vou parar. Conforme o texto vai ganhando corpo, vou para frente e para trás, ajustando coisas e acrescentando informações. Gosto da sensação de que estou me deixando levar. É como se os personagens me surpreendessem, ganhando vida própria. A narrativa se desenvolve em vários níveis. Como amarrou tudo sem deixar a trama confusa? Uma certa confusão é intencional, principalmente no início. Gosto de deixar claro que, se a platéia não abrir bem os olhos, vai se perder. O que está escrevendo? Mais um roteiro que joga com a mente? Estou retomando a parceria com Spike Jonze (de Malkovich e Adaptação). Mas mudamos a nossa estratégia. Apesar do tom surreal, a idéia é botar medo na platéia. Será um desafio, já que o filme não está sendo escrito como um thriller. Quero testar se uma história é capaz de aterrorizar as pessoas por si só, sem que o roteirista precise recorrer aos artifícios do gênero.

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