Brasil sai na frente na corrida pelo Oscar

Abril Despedaçado, de Walter Salles, está entre os cinco filmes eleitos como os melhores estrangeiros do ano pela NBR, considerada um termômetro do Oscar

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Por Agencia Estado
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A disputa pelo Oscar de 2002 começou com forte chance para o Brasil de conquistar uma das estatuetas. A eleição das cinco melhores produções estrangeiras de 2001 nos EUA pelos membros da National Board of Review (NBR) incluiu Abril Despedaçado, de Walter Salles. Ao todo, 51 países (confira a relação completa dos filmes) estão tentando chegar à noite consagradora da entrega do prêmio. A escolha da NBR, formada em 1908 e composta por historiadores, professores, roteiristas, teóricos e críticos, é um termômetro para a seleção ao prêmio da Academia de Hollywood. Os indicados serão conhecidos em fevereiro. O filme de Salles, que estréia no dia 14, em Los Angeles, e no dia 21, em Nova York, ficou em segundo lugar na votação, abaixo de Amores Brutos, de Alejandro González-Inãrritu, e à frente de Terra de Ninguém, de Danis Tanovic (da Bósnia-Herzegovina), Dark Blue World, de Jan Sverák (República Checa), e O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, de Jean-Pierre Jeunet (França), este considerado favorito para o Oscar de produção estrangeira. Pela segunda vez em três anos o Brasil é representado por um filme do carioca Walter Salles. Depois das duas indicações que Central do Brasil obteve no Oscar de 1998, ele chega com um longa considerado mais sofisticado, maduro e menos convencional que seu antecessor. Na terça-feira, a fita foi exibida na sede da Academia, em Beverly Hills, mas o próprio diretor não conseguiu perceber uma diferença entre a reação diante de seu novo filme e a provocada por Central do Brasil, no mesmo local, três anos antes. "A seleção da NBR é o primeiro passo de uma longa caminhada para Abril Despedaçado", disse Salles em entrevista ao Estado, por telefone, de Londres. "Foi uma ótima notícia para nós, pois tínhamos feito apenas uma exibição do filme e nem todos os membros da NBR estiveram presentes a ela", continuou. "Os resultados da NBR mostram que o processo de votação para o prêmio de melhor filme estrangeiro parece muito mais aberto do que podíamos imaginar. Uma segunda etapa importante desta temporada é a votação do Globo de Ouro no dia 20, data em que o filme já estará em cartaz em Los Angeles." A sessão da NBR foi acompanhada de debate com Salles. Ele respondeu a perguntas sobre o processo de adaptação do livro do albanês Ismael Kadaré para a realidade brasileira e como foi mais uma vez dirigir atores e não atores. Em 1998, Central do Brasil recebeu dois prêmios da NBR: melhor filme estrangeiro (batendo A Vida É Bela, de Roberto Benigni) e de melhor atriz, para Fernanda Montenegro, única intérprete da América Latina a ser premiada. Salles só não levou o prêmio de melhor filme estrangeiro do ano porque o mexicano Amores Brutos, apesar de ter sido lançado em Los Angeles no final do ano passado, só foi alcançar o circuito nacional no começo de 2001, período considerado assim elegível para o prêmio. Amores Brutos chegou a concorrer ao Oscar de filme estrangeiro este ano, perdendo para O Tigre e o Dragão, de Ang Lee. Miramax versus Sony - Apesar de a Miramax ter abocanhado vários Oscars nos últimos anos, o monopólio de vitórias na categoria de filme estrangeiro pertence à empresa Sony Pictures Classics, que detém o título deste ano, com o hit de Taiwan O Tigre e o Dragão. Desde 1990, a empresa ganhou sete Oscars nessa categoria, contra três da Miramax. Vários críticos apontam, cuidadosamente, que o vencedor do Oscar 2002 de filme estrangeiro talvez seja mais uma vez do acervo da Sony Classics, que tem dois títulos de peso: o filme belga Pauline & Paulette, espécie de Rain Man; e o checo Dark Blue World, de Jan Sverák, que venceu o Oscar em 1997 com Kolya - Uma Lição de Amor. Uma das categorias mais imprevisíveis do prêmio da Academia, o Oscar de filme estrangeiro surpreende com a seleção de produções desconhecidas. São histórias de fantasias sexuais de uma professora, uma rixa no Nordeste brasileiro, a paixão de um romancista por um integrante do esquadrão da morte colombiano, a saga dos Romanovs, a pungente história de uma afegã, o drama de A Professora de Piano, de Michael Haneke. E a mais nova criação de Jean-Luc Godard, Eloge de l´Amour. Abril Despedaçado é um dos títulos na pré-disputa que foi adquirido pela Miramax, empresa conhecida por faturar Oscars e por dar uma grande mão para o cinema independente nos EUA. Da seleção 2001 da Miramax, o representante francês O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, de Jean-Pierre Jeunet, é o favorito do co-presidente da companhia, Harvey Weinstein, que está investindo uma nota preta na campanha dessa fábula para o Oscar. Weinstein quer que o filme, a exemplo de O Tigre e o Dragão, A Vida É Bela e Central do Brasil, saia do nicho de filme estrangeiro e conquiste outras categorias do prêmio. A Miramax ainda distribui O Quarto do Filho, do diretor italiano Nanni Moretti, vencedor da Palma de Ouro; o dinamarquês Italiano para Principiantes, da cineasta Lone Scherfig; e o sensível longa iraniano Baran, de Majid Majidi.

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