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Brasil leva oito filmes a Roterdã

o 32º Festival de Roterdã verá uma seleta da mais recente produção do cinema brasileiro. Tão recente que entre os filmes está Os Narradores de Javé, longa finalizado por Eliane Caffé há duas semanas

Por Agencia Estado
Atualização:

Ponto de referência cada vez mais forte para o cinema independente dentro da Europa, o Festival de Roterdã dá início à sua 32.ª edição nesta quarta-feira, com a projeção de Distantes do Paraíso, de Todd Haynes. Como o início da festa este ano coincidiu com as eleições na Holanda, o título de abertura foi escolhido por voto direto, a partir de uma lista distribuída aos convidados para a sessão inaugural. Até o dia 2 de fevereiro, mais de cem produções desfilarão pelo Programa Principal, seção informativa, composto por obras inéditas e uma seleção dos melhores longas exibidos em outros grandes festivais ao longo dos últimos 12 meses - oito deles brasileiros. O cinema brasileiro, aliás, participa da única mostra competitiva do evento, dedicada a cineastas estreantes ou em seu segundo longa-metragem. A paulista Eliane Caffé, que há quatro anos lançou Kenoma, compete com mais 13 jovens diretores pelo troféu VPRO Tiger com Os Narradores de Javé. O filme, que foi produzido com o apoio do Hubert Bals Fund, programa holandês criado para servir como combustível à carreira de cineastas iniciantes, foi finalizado há apenas duas semanas. A história de uma comunidade do interior de Minas Gerais, que luta contra a construção de uma barragem, ganhará première de luxo em Roterdã. "A primeira vez que verei o filme Os Narradores de Javé junto ao público será em Roterdã. É quando o ciclo vai fechar-se após quatro anos trabalhando no projeto e, de certa forma, será quando ele virá à luz pela primeira vez. Estou muito contente de poder apresentá-lo num festival que incentiva novos diretores dentro de uma produção mais independente. Torço para que o filme possa ser compreendido na sua ´oralidade´, em que está o principal eixo dramático e poético deste trabalho - apesar, é claro, das perdas sofridas em qualquer tradução de legendas", diz a diretora, em entrevista ao Estado, antes de embarcar para a Europa. Os Narradores de Javé é protagonizado por José Dumont, que também atuou em Kenoma. Ele e Vania Cattani, produtora mineira radicada no Rio, fazem parte da comitiva que defenderá na Europa o conteúdo universal de um drama de geografia bem localizada. Eliane diz que, apesar de o seu filme se apoiar numa linguagem bem particular, ele será compreendido pelo espectador estrangeiro porque fala de um tema sem fronteiras, "a defesa da própria identidade frente ao extermínio de um progresso na maior parte das vezes desumano e desvinculado das reais necessidades sociais e ambientais." "A universalidade também pode ser vista no resgate da riqueza da oralidade, da prática de contar histórias que revigora e poetiza a linguagem falada - ao contrário daquela que exercemos, meramente utilitária e à qual estamos tão acostumados nesta era da informatização, da ´mesmice´ hegemônica dos grandes veículos de comunicação de massa", esclarece a diretora, que batalhou por quatro anos para tirar o projeto do papel. "As dificuldades são parte inerente da criação e acabam por definir o resultado final de qualquer filme - ainda mais nas condições árduas da produção independente. Entretanto, a maior alegria nesse projeto foi a convivência intensa e surpreendente com a comunidade de Gameleira da Lapa, lugar onde realizamos a maior parte do filme. Na interação com o povoado, o roteiro modificou-se, abriu-se para o inusitado, ganhou novos saltos e inspirações dentro da maneira tão peculiar de atuação e expressão dos habitantes lado a lado com os atores profissionais", diz a cineasta. Além de Os Narradores de Javé, o escrete de longas brasileiro em Roterdã é formado por Cidade de Deus, de Fernando Meirelles e Kátia Lund, Durval Discos, de Anna Muylaert, A Festa de Margarette, de Renato Falcão, Madame Satã, de Karim Aïnouz, Ônibus 174, de José Padilha, Rocha de Voa, de Eryk Rocha, e As Três Marias, de Aluizio Abranches. Oito curtas-metragens completam a participação nacional na Holanda: À Margem da Imagem, de Evaldo Mocarzel, Artesãos da Morte, de Miriam Chnaiderman, O Bloqueio, de Claudio de Oliveira, Dona Cristina Perdeu a Memória, de Ana Luiza Azevedo, A Morte, de José Roberto Torerto, Onde Andará Petrucio Felker, de Allan Sieber, Reminiscência, de Eduardo Nunes, e Todos os Dias São Iguais, de Allan Sieber.

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