PUBLICIDADE

'Blue Jasmine' é o melhor filme de Woody Allen em muito tempo

Em novo filme, cineasta volta à densidade da sua grande fase com a leveza da fase recente

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

É o melhor filme de Woody Allen em muito tempo – desde a fase Mia Farrow? Ok, você pode ter se divertido com Meia-Noite em Paris, pode até ter visto certa densidade em Match Point – o remake alleniano disfarçado de Um Lugar ao Sol, de George Stevens –, mas há tempos que o autor não investia num retrato tão denso quanto ele traça agora de Blue Jasmine.

PUBLICIDADE

O nome do filme é o da personagem de Cate Blanchett, e a atriz está excepcional, numa atuação de Oscar. Woody Allen tem garantido a estatueta da Academia de Hollywood a muitos de seus atores e atrizes (Diane Keaton, Dianne Wiest, Mira Sorvino, Penélope Cruz, Michael Caine). Será uma tremenda injustiça se Cate não ganhar – ficar de fora das indicações, que saem só em janeiro, parece impensável.

Blue Jasmine é da vertente de Hannah e Suas Irmãs, Crimes e Pecados. Cate faz essa mulher cujo marido quebrou, financeira e moralmente. Socialite, acostumado ao bom e ao melhor de Nova York, ela busca refúgio na casa da irmã, em San Francisco. A irmã – Ginger – é interpretada por Sally Hawkins. Você se lembra dela. Era a Poppy de Simplesmente Feliz, de Mike Leigh (mas também estava em O Sonho de Cassandra, do próprio Woody Allen). Ginger é simplória, tem um namorado brucutu – pelos menos aos olhos de Jasmine. Ela acusa a irmã de sempre se haver contentado com pouco. Jasmine é assim. Chega para tensionar, dividir. Cria um mal-estar tão grande que a solução é lhe apontar a porta da rua.

Woody Allen constrói seu filme na oposição – de personagens e ambientes. Alec Baldwin, o ex de Jasmine, é o contraponto perfeito de Bobby Cannavale, Chili, o atual de Ginger. Por pressão da irmã, Ginger arrisca-se a perder um amor sincero por uma relação duvidosa. A antinomia aplica-se às irmãs. Cate, como Jasmine, é absolutamente frenética. Passa o filme à beira de um ataque de nervos, expondo suas carências, mas sempre sem perder a pose. Embora sem um tostão no bolso, e vivendo de favor com a irmã, desembarca em San Francisco viajando de primeira classe – porque é o que os ricos fazem. Sally Hawkins meio que repete a Poppy de Simplesmente Feliz. É o problema de Cate/Jasmine – ela não consegue ser feliz, simplesmente.

O segredo de Blue Jasmine é que Woody Allen volta à densidade da sua grande fase – Dostoievski, Crime e Castigo, etc. –, mas com a leveza da fase recente. Seu novo filme é um dos acontecimentos do ano.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.