Björk vence em Cannes e promete nunca mais filmar

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Por Agencia Estado
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Quando o presidente do júri do 53.º Festival de Cannes, o diretor francês Luc Besson, pediu licença para anunciar, cantando, o nome da vencedora do prêmio de melhor atriz, Björk disse que teve uma vertigem. "Meu coração disparou, parti dos 60 batimentos cardíacos para mais de 300, a sensação era de que ia sufocar." Hoje toda a imprensa francesa abriu espaço para celebrar o sucesso da pop star islandesa. O jornal Libération refreou um pouco o seu entusiasmo, mas deu na capa a vitória de Björk e de Lars Von Trier na Palma de Ouro pelo filme dinamarquês Dancer in the Dark. Le Figaro estampou uma manchete gigantesca, "A Palma da audácia", ilustrada por uma foto de Björk e nenhuma do diretor. Nice Matin foi o mais radical: deu uma foto pôster da cantora. De maneira geral, a vitória de Dancer in the Dark foi muito bem recebida pela imprensa. Ofuscou o filme do encerramento, mesmo que Stardom, do canadense Denis Arcand, lance um olhar irônico sobre o mundo das top models e promova o surgimento de uma nova estrela. Jessica Paré é linda, parece muito com Liv Tyler, mas possui brilho próprio. Resta saber se vai mesmo ultrapassar as fronteiras de seu país. No total, houve 5.200 jornalistas aqui em Cannes, a maioria críticos, mais de mil deles fotógrafos. Rodopiavam como loucos ao redor de Björk no photocall. Mas o diretor Von Trier também estava eufórico. Ajoelhou-se e rezou para a Palma de Ouro. Embora seja figura carimbada no festival - todos os seus filmes passaram em Cannes -, o mais perto que esteve antes da palma foi com Ondas do Destino, que recebeu o prêmio especial do júri. Ele destacou a importância de Cannes para sua carreira, agradecendo o apoio que sempre recebeu do delegado-geral, que seleciona os filmes, Gilles Jacob. Houve tentativas de polemizar. O filme, sobre uma checa que perde a visão nos EUA, projeta um retrato terrível da sociedade americana. Os jornalistas queriam saber de Von Trier se Dancer in the Dark é o seu testemunho contra os Estados Unidos. Ele disse que nunca esteve lá. Fez o filme com base no que ouviu dizer. Mas ressaltou duas coisas. Primeira: a história de Dancer in the Dark lhe interessou como possibilidade de voltar, em forma de musical, aos temas que o atraem - mulheres e sacrifício. Segunda: ele ambientou Ondas do Destino numa pequena comunidade da Escócia que talvez fosse até pior do que a do novo filme. E nunca foi acusado de fazer um filme antiescocês. "Quando criticamos algo grande, como os EUA, a tendência é forçar a barra para criar um caso - é só um filme, pessoal." Como se quisessem desfazer os rumores de que brigaram o tempo todo no set - a versão mais freqüente é que Björk não agüentou o rojão e fugiu das filmagens por três ou quatro dias, criando um problema para a equipe, que não sabia se voltaria ou não -, Von Trier e a cantora ficaram o tempo todo trocando abraços, beijinhos, carícias. Se houve problemas, pertencem ao passado. A euforia da vitória reconciliou os dois. Explicando a diferença entre atuar e cantar, Björk fez questão de dizer que não é uma atriz. "Para mim, o que caracteriza o cinema e a música, é a oposição entre as palavras e o som que vem do coração." Ela disse que vive um conflito permanente entre o interior e o exterior, entre a sua timidez e a necessidade de corresponder ao que se espera de uma personalidade pública, ainda por cima, uma estrela pop. "Sou muito lógica e uso esse lado quando tenho de me comunicar, discutir com advogados, essas coisas; quando canto, me entrego inteiramente à emoção do meu mundo interior." Ela lembrou que Von Trier a chamou apenas para fazer a música do filme. Só um ano depois, ele lhe propôs que fosse também a atriz. É um papel difícil - Björk carrega o filme nas costas. Ela diz que se sente recompensada por essa "experiência única, inesquecível", mas disse que Dancer in the Dark, sendo seu primeiro filme, será também o último. ´Tenho só mais 50 anos pela frente e muitos discos para gravar", justificou. Oriente Se Björk e Von Trier foram os campeões da noite, Tony Leung também recebeu um carinho todo especial. Foi o melhor ator por sua participação no belíssimo filme de Wong Kar-wai In the Mood for Love. Leung é um grande astro no Oriente. Reina no cinema de Hong Kong. No Ocidente, talvez seja mais lembrado como um dos protagonistas do casal gay que vive uma relação terminal em outro filme de Kar-wai, Felizes Juntos. Leung talvez seja o equivalente masculino de Björk. Para alguém que vive de uma imagem pública, parece reservado. Sorria um sorriso tímido. Ele fez sua declaração de amor a Kar-wai, dizendo que é um diretor extraordinário. Mas também ressaltou o desafio que é trabalhar com ele. "Nunca se sabe direito o filme que vai resultar: Wong filma muito e depois destrói o filme na sala de montagem, para reconstruí-lo." Dessa maneira, só no fim, quando o filme está pronto, é possível avaliar o que foi feito. Leung adora In the Mood for Love. Elegante, aproveitou para agradecer o apoio de Maggie. Maggie é Maggie Cheung, a grande estrela do Oriente, casada com o diretor francês Olivier Assayas que faz a heroína dessa história de amor triste, em que um homem e uma mulher casados não conseguem consumar o adultério por excesso de pudor. Ela estava por perto, assistindo à entrevista. Mandou um beijo para Leung. Os dois formaram um dos casais mais lindos desse festival.

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