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Biografias de Elza Soares e Freddie Mercury nos destaques do cinema do fim de semana

'My Name is Now' e 'Bohemian Rhapsody' contam histórias com linguagens diferentes

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Em My Name is Now – Elza Soares, a diretora mineira Elizabeth Martins tem o desafio de mostrar ao público alguém que dispensa apresentações. Elza, a grande cantora, sambista, companheira de Mané Garrincha, musa de tantas gerações. Elza, que atravessou tragédias e soube, como poucas, se reinventar e reencontrar a alegria, do outro lado do rio. 

Essa é a Elza que aparece no filme, num estudo de rosto, sofrido, marcante, marcado, porém tão expressivo. Elza que, apresentando-se no programa de Ary Barroso, e indagada pelo ácido apresentador de onde viera, respondeu, de bate-pronto: “Venho do país da fome”. 

Cena de My Name is Now Foto: Duda Las Casas

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Essa mulher, que conheceu tantas vitórias e derrotas, é associada ao mito do Fênix, ave que renasce das próprias cinzas. Essa referência mítica dá o tom a um filme que prefere a linguagem alegórica à realista. Evita assim o que seria uma redundância na caracterização da personagem pública que Elza, desde o início da carreira, nunca deixou de ser. 

A cantora magnífica, que usava o gogó e empunhava o microfone com a ginga que o morro lhe deu, não cessou de mudar e se refazer. Poderia ter ficado na, como hoje se diz, zona de conforto, mas inovou na vida, no repertório e no público, hoje dirigindo-se à nova geração e tornando-se musa da vanguarda. 

Elza também que é dona de uma pegada jazzística e foi comparada, por Louis Armstrong, a outra diva, Billie Holiday. Vê-la e ouvi-la, dominando a arte do scat singing dos grandes mestres negros norte-americanos, é um prazer incomparável. 

O filme passa por tudo isso, e, com a câmera colocada rente ao rosto da artista, em super close, conta o que ela mesma tem a dizer sobre si. Como essas palavras duras: “Aprendi a cantar carregando lata d’água na cabeça, subindo o morro”. 

Elza Soares é mais do que uma cantora, mais ainda que uma artista no completo domínio de sua arte. É expressão de um Brasil que podia ser pobre, miserável mesmo, mas era um país talentoso. Bem diferente da vulgaridade atual.

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Freddie Mercury e a vida feita para se tornar filme

Bohemian Rhapsody  (EUA, 2018, 132 min.)  Direção de Bryan Singer, com Rami Malek, Lucy Boynton

Todos os componentes para uma grande saga estiveram na vida real de Freddie Mercury. Conflitos, e muitos, paixão, pecados, redenção, talento e dor. Bohemian Rhapsody é dos filmes que nasce para dar certo e que só uma derrapada absurda de roteiro ou de direção poderia tirar do curso. Assim, essa celebração ao rock and roll e à banda que deu dimensão muitas vezes operística ao gênero surge no tempo certo. Alguns estereótipos são implodidos pela força de Mercury, e os momentos em que ele está no palco falam por si. O concerto do Live Aid, com o líder já sofrendo por ter contraído a Aids, é dos mais comentados.

Aberta a temporada de caça a corruptos

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O Doutrinador  (Brasil, 2018, 108 min.)Dir. de Gustavo Bonafé, com Kiko Pissolato, Samuel de Assis, Tainá Medina

Em O Doutrinador, de Gustavo Bonafé, há uma frase assim: “A corrupção é que faz girar todas as engrenagens no Brasil”. Situou-se? Bem, essa é a ideia. Corrupção generalizada, um mascarado resolve atacar a impunidade e surge para fazer justiça com as próprias mãos. Em especial porque é movido por um sentimento de vingança na história do vigilante mascarado que surge para atacar a impunidade institucionalizada. No Brasil contemporâneo, justiceiros viraram moda e esta infiltrou-se tanto na realidade como na ficção. José Padilha já investiu nesse nicho com O Mecanismo. Está fazendo escola. 

Missão de Johnny: desativar o vírus fatal 

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Johnny English 3.0  (Reino Unido, 2017, 88 min.)Dir. de de David Kerr, com Rowan Atkinson, Emma Thompson, Gary Kiely

Dirigido por David Kerr, o filme que fala de um desastre que atinge um gênio criminoso quando revela as identidades de todos os agentes secretos ativos na Grã-Bretanha traz de volta o personagem Johnny English (Rowan Atkinson). Ele salva o serviço secreto de um ataque cibernético fatal para espiões – ele revela as identidades secretas de todos os agentes do país. A missão, claro, será encontrar o hacker e desativar o vírus fatal, botando tudo em ordem de novo. A franquia está no seu terceiro capítulo e tem público certo. Mistura espionagem com ação, coquetel que sempre dá bons resultados, pelo menos nas bilheterias. 

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Uma aventura pelos quatro reinos

O Quebra-Nozes e  os Quatro Reinos  (EUA, 2017, 100 min.)Dir. de Lasse Hallström, Joe Johnston

Dirigida por Lasse Hallström e Joe Johnston, essa aventura juvenil conta a história de Clara (Mackenzie Foy). Ela perde a chave mágica que permite abrir um valioso presente dado por seu padrinho, o venerável personagem de Morgan Freeman. Assim, a garota tem de ir atrás da chave em jornada por quatro reinos, o dos doces, o das neves, o das flores e um soturno Quarto Reino, este sim indigesto. Hallström é um diretor que começou com o promissor Minha Vida de Cachorro, mas depois decaiu para um cinema açucarado demais. Na fábula da Disney pode ter encontrado o seu próprio reino. 

‘Tamara’, outra mulher fantástica na guerra do Oscar

Tamara (Uruguai-Venezuela-Peru, 2016, 115 min.) Dir. de Elia Schneider, com Luis Fernández, Prakriti Maduro, Mimi Lazo

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Indicada pela Venezuela para concorrer a uma vaga no Oscar, a diretora Elia Schneider não acredita que o fato de uma Mulher Fantástica, de Sebastian Lelio, haver vencido na última premiação da Academia possa ser prejudicial para ela. Seu longa Tamara conta, em chave de ficção, a história da primeira deputada transexual da Venezuela.

Numa entrevista feita por telefone, antes do segundo turno da eleição, Elia acompanhava com preocupação a situação brasileira. Seu envolvimento com Tamara Adrian – e o tema da transexualidade – veio através dos direitos humanos. “Nasci na Venezuela, mas comecei a fazer teatro em Nova York, num meio cosmopolita e libertário. Sempre acreditei na diversidade e o caso de Tamara é exemplar.”

Elia diz que foi uma sorte ter encontrado o ator Luís Fernández, que faz o papel. “Não é um filme sobre uma freak, nem mesmo uma transexual. É sobre uma pessoa. Luís vive com convicção e sensibilidade as duas épocas, de homem e mulher. É excepcional.”

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