"Bicho" é aplaudido em Locarno

Bicho de Sete Cabeças, de Laís Bodansky, foi aplaudido três vezes ao ser exibido hoje, na abertura do 54.º Festival Internacional de Cinema de Locarno

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Por Agencia Estado
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Cerca de dois mil espectadores aplaudiram hoje o filme Bicho de Sete Cabeças, como o qual se abriu a competição no 54.º Festival Internacional de Cinema de Locarno, na Suíça. Os aplausos se repetiram por três vezes, durante os créditos do filme. Laís Bodanzky, a diretora do filme, o roteirista Luís Bolognesi e Austregésilo Carrano, responderam a seguir perguntas do público. Até chegarem os aplausos pairava sobre a equipe do Bicho a interrogação sobre como reagiria o público europeu, diante da realidade e crueza dos manicômios brasileiros. A reação positiva do público de Locarno abre caminho para a carreira internacional do filme e garante o êxito do Bicho, nos festivais de Montreal, Toronto e Manhein, com os quais já tem encontro marcado. Para Laís Bodanzky, os aplausos do público já constituem uma importante retribuição e qualquer prêmio, se houver, será bem-vindo. Marco Muller, ex-diretor do Festival de Locarno e produtor do Bicho, colocou todo o peso de sua influência e da Fábrica da Benneton, em favor do filme brasileiro. De Locarno a Veneza - Rodrigo Santoro, ator principal do Bicho de Sete Cabeças, é também o ator principal de Abril Despedaçado, de Walter Salles. Aplaudido em Locarno, agora ele espera a estréia do filme em setembro, na competição do Festival de Veneza. Outra coincidência, é o fato de comentários de bastidores dos festivais indicarem a existência de apenas três grandes filmes entre os filmes selecionados para Veneza - o de Walter Salles, um iraniano e um iraquiano. O filme iraquiano foi também produzido por Marco Muller, o produtor do Bicho. Agência Estado - Como se sentiu na pele do jovem que por ter puxado uns baseados foi internado numa manicômio para desintoxicação e viveu toda aquela miséria? Rodrigo Santoro - Desde o princípio eu tinha em mente ser um trabalho com cunho social, a história ocorrida na vida real com Austregésilo Carrano. Foi difícil porque o personagem vivia cenas muito intensas e de grande dramaticidade. Me preparei dois meses antes para fazer o filme, visitei manicômios, tive contato e observei pacientes, conversei com enfermeiros e médicos, enfim, pesquisei todo esse universo das instituições mentais. Fiquei satisfeito com o resultado obtido no Brasil e aqui, neste importante Festival de Locarno. Dá para resumir sua carreira? Comecei em 1993, na TV Globo eu fiz muitas novelas no Brasil, trabalhei em duas peças de teatro e, no ano passado, fiz dois filmes - o Bicho, de Laís Bodanzky, e Abril Despedaçado, de Walter Salles, com estréia mundial, em setembro, no Festival de Veneza. Qual seu papel em Abril Despedaçado? Vivo o dilema do personagem central que terá de assassinar o assassino do seu irmão. O filme fala sobre vinganças, lutas entre famílias pela posse de terras e as famílias vão se exterminando até se extinguirem completamente. A partir do assassinato, meu personagem está marcado para morrer, com uma trégua de 28 dias. O filme conta a história desses últimos 28 dias de vida desse homem, onde começa a descobrir o valor das coisas mais simples da vida, como o amor. Há alguma semelhança com os sem terra, nessa história de Ismail Kadaré? Há, na abordagem da terra, mas nem tanto, porque a história se passa há muito tempo e as duas famílias lutam pela terra mais no sentido de domínio da região. Não se trata de terras sem dono, mas de uma família querer roubar a terra da outra. O tema central do filme é a vingança. Os membros da família vão se assassinando, numa bola de neve, até a extinção. Como foi trabalhar com Laís e com Walter Salles? Laís me convidou por ter visto um trabalho meu na televisão. Eu não a conhecia. Ela é muito talentosa, sabe o que quer, tinha tudo na cabeça e tivemos um relacionamento muito bom. Quanto ao Walter, já era uma pessoa que eu admirava, tinha visto seus filmes dos quais gostava muito. É um diretor de muito talento que tem uma forma de dirigir particular, pois induz o ator, falando baixo no seu ouvido, e assim o ator sem perceber faz tudo como ele quer. Estou ansioso para ver o filme, em Veneza.

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