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Berlinale vira vitrine de revival do cinema alemão

Por ERIC KIRSCHBAUM
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O cinema alemão foi no passado o patinho feio no Festival de Cinema de Berlim. Apenas alguns poucos filmes nacionais eram admitidos na programação, e isso a contragosto. Mas a Berlinale virou vitrine do cinema alemão nos nove anos passados desde que Dieter Kosslick assumiu a presidência do festival, tomando o lugar do suíço Moritz de Hadeln, que foi odiado por cineastas alemães durante a maior parte de seus 22 anos de reinado em Berlim. Fã declarado das produções alemãs, Kosslick já chefiava o principal conselho alemão de subsídio ao cinema e agora vem ajudando a renovar o cinema alemão com seu apoio declarado. Foi uma iniciativa arriscada da parte de um dos maiores festivais de cinema do mundo. Sete dos 26 filmes da seleção principal deste ano foram feitos por cineastas alemães ou com dinheiro alemão -- é o caso do thriller "The Ghost Writer", de Roman Polanski, sobre um ex-primeiro-ministro britânico, que foi filmado em Berlim e no estúdio Babelsberg. Outros filmes importantes feitos com direção ou financiamento alemão incluem "The Robber", sobre um maratonista austríaco que assalta bancos; "Jew Suss - Rise and Fall", sobre o nazista Joseph Goebbels, "Shahada", sobre muçulmanos na Alemanha, e "The Hunter", ambientado no Irã. "Virou tradição nossa incluir filmes alemães na programação", disse Kosslick à Reuters. "Isso vem sendo ótimo. O cinema alemão precisa ser divulgado. A aposta vem tendo resultado. No início, foi um pouco de ousadia, mas hoje já não é nada demais." A iniciativa certamente vem sendo importante para os cineastas alemães, que se queixavam amargamente de descaso no passado. Desde 2002, filmes alemães ganharam vários prêmios Urso de Ouro e Urso de Prata em Berlim. "A Berlinale voltou a abrigar filmes alemães", comentou Doris Doerrie, cuja comédia "Die Friseuse", sobre uma cabeleireira obesa, foi vista em uma das seções fora da competição principal e recebeu resenhas altamente elogiosas, tendo sido vendida para o exterior. "É uma grande honra voltar a ter um filme em Berlim", disse a cineasta. Dos 392 filmes da edição 2010 do festival, 80 são alemães. NÃO MAIS APENAS FILMES SOMBRIOS DE AUTOR Benjamin Heisenberg, o diretor alemão da co-produção germano-austríaca "The Robber", disse que os cineastas mais jovens vêm fazendo filmes de todos os gêneros, não se limitando a trabalhos de autor sombrios, como no passado. O tabu autoimposto contra dramas sobre a era nazista desapareceu após o sucesso comercial e crítico de "A Queda", sobre os últimos dias de Hitler. Antes disso, os cineastas alemães evitavam tratar do passado nazista de seu país. Embora o cinema de Hollywood ainda domine na Alemanha e em muitos outros países, filmes alemães foram responsáveis por 27,4 por cento da bilheteria alemã no ano passado, superando os 26,6 por cento de 2008. Filmes feitos na Alemanha também vêm tendo presença forte em outros festivais e premiações. Kate Winslet recebeu um Oscar de melhor atriz e outros prêmios por "O Leitor," filmado em Babelsberg e vários pontos da Alemanha, com apoio financeiro alemão. O drama "A Fita Branca", do diretor austríaco nascido em Munique Michael Haneke, foi filmado e financiado na Alemanha e recebeu a Palma de Ouro de melhor filme no festival de Cannes em 2009, além de duas indicações ao Oscar este ano. E "Bastardos Inglórios", de Quentin Tarantino, foi filmado em Babelsberg com grande apoio local. O filme recebeu oito indicações ao Oscar e sua bilheteria mundial supera os 300 milhões de dólares. O apoio vem do Fundo Federal Alemão para o Cinema (DFFF), lançado em 2007. O fundo já gastou 178 milhões de euros, fornecendo até 20 por cento do orçamento de vários filmes. Isso levou ao investimento de 1,1 bilhão de euros em 300 filmes na Alemanha desde 2007. Além do DFFF, há outros 250 milhões de euros disponíveis em outros subsídios de conselhos públicos de cinema. (Reportagem adicional de Matthias Baehr)

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