PUBLICIDADE

Berlinale pára para ver Madonna passar

Pop star fala com os jornalistas sobre sua vida e seu primeiro longa-metragem, 'Filth and Wisdom'

Por Flavia Guerra e de O Estado de S. Paulo
Atualização:

Briga, tumulto, guerra? Nada disso. Era só a imprensa literalmente se (de)batendo na entrada da sala de coletivas de imprensa na tarde desta quarta-feira, 13, na Berlinale para ver e ouvir a pop star Madonna falar de seu filme e, claro, de sua vida. Veja também:  Madonna traz 'sabedoria' e tumulto ao Festival de Berlim Madonna: cantora, atriz e agora também diretora de cinema  "Eu não vejo nada de conflitante entre ter filhos e maridos e continuar sendo uma mulher. E uma mulher sexy", disse a cantora diante da pequena-grande multidão de jornalistas. Filth and Wisdom é dirigido, roteirizado e produzido pela Blondie. Em entrevista à Reuters Television, ela disse que este filme é só o começo. Filth and Wisdom (Imundície e Sabedoria), que teve sua primeira exibição nesta quarta somente para a imprensa, no Festival de Cinema de Berlim, já havia causado tumulto pela manhã. A confusão continuou durante a tarde. A coletiva estava prevista para as 17h, porém às 15h30 já havia fila na porta. Às 17h30, quando de fato teve início a conversa com mais de 200 jornalistas, muita confusão já tinha deixado a imprensa e a segurança do Festival de Berlim de cabelo em pé. E a sessão de gala desta noite promete ser uma das mais disputadas do festival. Mas tudo se dissipou diante da entrada de Madonna e sua equipe (o ator e cantor Eugene Hutz e as atrizes Vicky McClure e Holly Weston). A trupe tentou conversar com a platéia, mas quem falou mesmo foi Madonna, sempre muito ácida e perspicaz diante de perguntas um tanto enfadonhas como "O que te levou a dirigir um longa-metragem depois de já ter tanto sucesso na vida?" Ela se saiu sempre bem. "Eu queria contar uma história que fosse divertida, falasse de Londres, cidade em que vivo e é tão cosmopolita, e tivesse o que eu acredito, que se encontra muitas vezes a dualidade da sabedoria na imundície. E a imundície na pretensa sabedoria." Tiradas Com esta e outras tiradas mais que bem sacadas da cantora, a platéia de jornalistas se derretia. "Você continua linda e sexy mesmo com quase 50 anos. Como faz para continuar sexy mesmo depois de estar casada e com filhos?", perguntou um jornalista norueguês. "Agradeço o elogio, mas ele não me parece tão cortês quando você muda para a segunda frase. Eu não vejo nada de conflitante entre ter filhos e maridos e continuar sendo uma mulher. E uma mulher sexy", rebateu a estrela, para alegria geral da platéia feminina. "Você é casado", perguntou ela para o mesmo jornalista. E ele respondeu "Sim. Sou". Madonna não perdoou, provando porque ainda hoje é (e sempre será) ícone das mulheres que endurecem, mas não descem do salto nem perdem a ternura, e conclui "Então tá explicado. A gente conversa mais sobre este assunto se você quiser. Porque agora estou aqui para falar do meu filme. Estou neste festival somente como uma diretora." O tal do filme, Filth and Wisdom (que integra a Mostra Panorama, não competitiva) é um espécie de resumo do que é a sabedoria, e a geléia geral, de Madonna. Dirigido, produzido e co-escrito pela cantora, o filme é protagonizado por Eugene Hutz, que divide a cena com Holly Weston, Vicky McClure, Richard E. Grant, Stephen Graham, Inder Manocha, Shobu Kapoor. "É claro que o filme tem muito da minha vida. Eu me lembro que, quando saí de Detroit para estudar dança e tentar a vida em Nova York, achava que era única. Quando cheguei lá, descobri que havia centenas de garotas como eu, como o protagonista do filme, que nada mais faz do que lutar para poder fazer o que gosta. Meu filme é sobre isso. Sobre pessoas que estão batalhando, como eu também batalhei muito no início da minha carreira", afirmou Madonna. Quem são os alter-egos de Madonna? Para resumir, são os personagens de Eugene Hutz (o ‘lado musical’ da cantora, que no filme é um imigrante ucraniano), e as atrizes Vicky McClure e Holly Weston (uma loira ingênua e sonhadora, o lado ‘blond ambition like a virgin’ de Madonna). "Se bem que like a virgin (como uma virgem) apesar deste ser meu primeiro filme, eu nunca fui", brincou a blondie ambiciosa. E a platéia mais uma vez se derreteu. O filme De volta ao filme, do qual ela pouco de fato falou porque os interesses eram mesmo sobre sua vida, vale lembrar que, bem ao gosto da diretora, Filth and Wisdom é uma comédia, meio de costumes, meio ácida, meio ingênua. Conta a história de um cantor ucraniano que quer fazer sua vida em Londres. Na diversa e efervescente capital inglesa, conhece outros solitários e sonhadores, como suas colegas de quarto Juliette e Holly. Uma trabalha em uma farmácia e sonha em ajudar as crianças pobres da África; a outra sonha em ser atriz e bailarina, mas tudo que consegue, por ora, é um emprego como dançarina (vejam só... Não é só na novela Duas Caras que a pole dance está em alta!) de um cabaré. No fim, é uma despretensiosa brincadeira cinematográfica de Madonna. Divertido, leve e bem sacado, tem tudo para ser, como a diretora, sucesso de público. "Eu queria fazer um curta-metragem, mas a história foi crescendo e no final acabou virando um longa-metragem." Deu certo. Não só pelas piadas leves e engraçadas, mas muito pela persona de Hutz, Filth and Wisdom agradou a imprensa, que torcia para ‘não gostar’ do filme antes de vê-lo. Deu o braço a torcer. E bateu palmas. No fim da entrevista, Madonna perguntou "Vocês não querem ouvir o Hutz cantar?" E todos em coro: "Sim" . E a coletiva terminou aos versos de Imigrant, Imigrant. I Legalize Myself, de Hutz. Ele, o protagonista, é de fato cantor e lidera a banda Gogol Bordello. Esta, aliás, não é sua estréia no cinema. Hutz jé dividiu a cena com o ator Elijah Wood em Everything Is Illuminated, de Liev Schreiber. Nascido na cidade Bojarka, próxima de Kiev, em 1972, é filho de um açougueiro que também tocava guitarra. Nascida na cena rock underground, a Gogol Bordello acabou se tornando fenômeno da música cult e já tocou em festivais pelo mundo, como os emblemáticos Reading, Leeds, Coachella, e Glastonbury.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.