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Berlim revela Catalina Moreno, jovem atriz colombiana

Festival onde Salma Hayek despontou exibe filme decepcionante, mas com uma atriz que pode ter futuro no cinema, Catalina Sandino Moreno, estrela Maria Llena Eres de Gracia

Por Agencia Estado
Atualização:

Foi aqui mesmo na Berlinale, há nove anos, que Salma Hayek despontou para o estrelato internacional, com o filme El Callejón de los Milagres, de Jorge Fons. Ontem, outra latina caliente causou forte impressão pela mistura de talento e beleza, mas é cedo (ou arriscado) fazer prognósticos sobre o futuro da carreira de Catalina Sandino Moreno. É colombiana. Estrela Maria Llena Eres de Gracia, o longa de estréia de Joshua Marston. Nova-iorquino do Queens, ele sempre foi atraído por histórias de imigrantes. Ouviu várias de imigrantes da Colômbia no bairro do Queens, onde passou a adolescência. Maria Cheia de Graça é uma co-produção americano-colombiana, mas a Colômbia de Marston, por questões de segurança, foi filmada pelo diretor no vizinho Equador. Catalina é a Maria do título. Sem muitas oportunidades na pequena cidade onde vive, ela aceita trabalhar como mula, usando o próprio corpo para transportar, em seu interior, droga para os EUA. Marston fez um filme que possui qualidades, mas termina sendo decepcionante. Ele diz que filma para entender as pessoas e isso se percebe no seu método. Mais do que condenar a personagem, Marston tenta compreendê-la. O filme tem todo um lado quase documentário que impressiona, mostrando como se faz e como age uma mula. Maria viaja com duas amigas para Nova York. Uma morre quando uma das cápsulas da droga arrebenta em seu estômago, as outras duas - Maria e a melhor amiga - passam por maus momentos nos EUA. Lá pelas tantas, encontra uma colombiana que faz um discurso sobre a superioridade da vida americana. Maria, na hora de voltar para seu país, prefere ficar na América. Marston tenta entender a América Latina, mas não adianta. É americano demais para perceber o que se passa e o que deve mudar abaixo da fronteira mexicana. Há uma metáfora do corpo presente aqui no Festival de Berlim, quase tão forte quanto os conflitos entre pais e filhos. No filme do coreano Kim Ki-duk, The Samaritan Girl, uma garota que se prostitui prefere morrer a ser presa, lançando-se no vazio. Mais tarde, no mesmo filme, um homem não suporta a vergonha de ser humilhado diante da família e também se atira da sacada do apartamento (leia entrevista com o diretor). Corpos estão caindo aqui em Berlim. Em The Final Cut, a fantasia futurista do diretor estreante Omar Naim, Robin Williams, cuja função é recriar a versão oficial, positiva, da vida de pessoas que podem pagar por isso, é marcado por uma queda ocorrida no passado. O que ele supõe que tenha sido uma morte molda seu caráter, mas as aparências enganam. Outro homem também não suporta a dor do abandono e se atira da sacada em Nightsongs, o primeiro filme alemão da competição, exibido ontem. Cenas de um casamento: o casal jovem de Nightsongs cria um inferno. Romuald Karmakar fez o que talvez seja o filme mais desconcertante do festival. Lembram-se do clássico de Ingmar Bergman com Liv Ullman? As novas cenas de um casamento fazem o filme antigo parecer uma comédia de lua-de-mel. O casal do filme alemão se ofende o tempo todo. Ele tem o pai que vai levar o Urso de Limão, como o mais frio e desumano desse festival. A mulher quer abandoná-lo. Não consegue. Karmakar fez um filme inteiramente baseado na palavra e teatralizado. O público riu o tempo todo da sua tragédia, o que transformou a sessão de Nightsongs numa aula de desrespeito. Enfim, como disse um jornalista inglês na saída - democracia também é isso. As pessoas se manifestam como podem. Mais leve, Before Sunset, de Richard Linklater, retoma a dupla que Ethan Hawke e Julie Delpy interpretaram em Depois do Amanhecer, do próprio diretor. Com o anterior, Linklater ganhou o Urso de Prata aqui em Berlim há alguns anos. A impressão é que ele fez o primeiro filme para chegar ao segundo - no mesmo sentido que Peter Jackson diz que fez os dois primeiros episódios de O Senhor dos Anéis para chegar ao terceiro, o que realmente importa. Before Sunset é muito interessante. O filme passa-se em tempo real - o tempo de um passeio por Paris, à espera do horário de um vôo - e o diretor recorre a uma linguagem de planos-seqüência que rejeitam o princípio absoluto do plano único. Quando a seqüência começa a demorar, ele corta. E corta diversas vezes, mas mantém a idéia do tempo, como Agnès Varda em Cléo das 5 às 7. Em Depois do Amanhecer, Hawke e Julie marcavam um encontro em Viena muito tempo depois da noite que passaram juntos no trem. Agora, ele está na capital francesa lançando um livro sobre esse encontro e o curioso é que, na vida, o ex-marido de Uma Thurman também virou escritor, quando ela aparece. Foram, não foram? A conversa começa hesitante, cheia de pistas falsas. Depois, eles vão se abrindo, revelando e, apesar da vida que cada um construiu, descobrem que continuam ligados. Before Sunset termina quando Hawke diz que acha que vai perder o avião. Linklater já admite que daqui a alguns anos poderá fazer nova continuação, quem sabe, Before the Night. Veja galeria de fotos da Berlinale

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