Berlim confirma atração pelo cinema brasileiro

Fora da briga pelo Urso de Ouro, o cinema brasileiro fez bonito em Berlim. Com destaque para O Outro Lado da Rua, que rendeu aplausos renovados a Fernanda Montenegro

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Por Agencia Estado
Atualização:

É uma história de amor que já dura quatro décadas. O Brasil ganhou Ursos de Prata e Ouro e três atrizes brasileiras (Marcélia Cartaxo, Ana Beatriz Nogueira e Fernanda Montenegro) receberam os prêmios de interpretação no Festival de Berlim. A atração começou nos anos 1960, no auge do Cinema Novo, que influenciou decisivamente vários diretores do novo cinema alemão. O diretor da seção Panorama diz que não seleciona a produção nacional por favor nem amizade. Palavras de Wieland Speck: "O público da Berlinale tem um interesse muito grande pelo cinema brasileiro e farei o possível para que ele esteja sempre representado neste festival." Este ano, Speck colocou três longas nacionais no Panorama - o documentário Fala Tu, de Guilherme Correa e Natanael Lecléry, e as ficções Contra Todos, de Roberto Moreira, e O Outro Lado da Rua, de Marcos Bernstein. Os dois primeiros, segundo o próprio Speck, têm mais a cara daquilo que se espera do cinema do Brasil. Tratam de conflitos sociais, põem na tela a voz da periferia e a violência urbana sempre associada com as belezas naturais. Speck elogiou muito a inteligência de Fala Tu e a força dos rappers filmados pela dupla Correa-Lecléry. "O que a música diz no filme deles impressiona pela poesia e pela indignação", comenta. Speck também gostou muito de Contra Todos, tanto que selecionou o filme de Roberto Moreira. Ele não acredita em democracia em arte. Na seleção dos filmes do Panorama, o que prevalece é o seu gosto. Dois filmes põem na tela aquilo que o público estrangeiro espera do cinema brasileiro. O terceiro, segundo o próprio Speck, foi aquele em cuja seleção mais prevaleceu o seu gosto. O Outro Lado da Rua mostra a violência do Rio, mas o recorte é mais intimista, o estudo da deterioração social e humana do Brasil, das desigualdades sociais, se faz por meio de personagens mais densos, cuja solidão enche a tela. E o filme tem Fernanda Montenegro. É uma rainha em Berlim. A sala não estava cheia quando o filme passou para a imprensa, de manhã. De noite, na sessão oficial, foi uma loucura. A sala ficou lotada e Fernanda foi aplaudida antes, durante e após a projeção. O diretor Marcos Bernstein escreveu O Outro Lado da Rua para ela. Curtiu, encantado, o sucesso de sua atriz. O Brasil não concorreu ao Urso de Ouro, mas não saiu de mãos vazias de Berlim, em 2004. O Outro Lado da Rua ganhou o prêmio da Confederação Internacional dos Cinemas de Arte para os filmes do Panorama. A entidade distribui dois prêmios, um para o Panorama e outro para o Forum, reconhecendo que é nessas duas seções que a arte verdadeiramente se manifesta na Berlinale. Foi uma importante vitória para O Outro Lado da Rua, que deve estrear em maio no País. Veja galeria de fotos

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