PUBLICIDADE

Berlim assiste primeiro ao filme "Memórias Póstumas"

Por Agencia Estado
Atualização:

Machado de Assis já teve inúmeras de suas obras adaptadas para o teatro, televisão e cinema. Agora é a vez do cineasta paulista André Klotzel trazer para às telas mais uma adaptação. Memórias Póstumas conta a história do defunto-autor Brás Cubas, que relembra as passagens mais importantes de sua vida depois que morre. "Só tinha lido Machado de Assis na adolescência, por causa da leitura obrigatória na escola", conta Klotzel. Tempos depois, já adulto, o diretor releu Memórias Póstumas de Brás Cubas (lançado em 1881) e descobriu uma grande empatia com a história. No filme de Klotzel, que já dirigiu A Marvada Carne (1985) e Capitalismo Selvagem (1993), o personagem-título é interpretado por dois atores: Reginaldo Faria e Petrônio Gontijo. O primeiro faz o Brás-defunto e o Brás velho, e o segundo interpreta sua fase jovem. Vietia Rocha faz o principal papel feminino, o de Virgília, o grande caso de amor na vida do protagonista. Sônia Braga também participa da produção como Marcela, prostituta que amou Brás durante "15 meses e 11 contos de réis". André Klotzel não esconde que foi um grande prazer trabalhar com a estrela internacional Sônia Braga e conta que não foi difícil trazê-la. "Foi muito bom ter trabalhado com ela, acho que ela também gostou. A Sônia ajudava todo mundo, ela realmente gosta do que faz. Ela é de cinema mesmo". O roteiro foi escrito pelo André Klotzel com a parceria do escritor José Roberto Torero, que escreveu O Chalaça. A estréia de Memórias Póstumas acontece no dia 14 de fevereiro em um cenário muito especial, o Festival de Cinema de Berlim. O filme de Klotzel foi selecionado para participar da mostra não-competitiva Panorama. O público brasileiro só poderá assistir o longa em abril quando Memórias estréia nos cinemas nacionais, distribuído pela Lumière. "Não planejei que meu filme passasse primeiro lá e não aqui, as coisas simplesmente aconteceram", diz o diretor. No livro, Brás Cubas, morto, começa contando detalhes do seu funeral. Depois de algumas digressões, ele retoma a ordem cronológica dos acontecimentos, relatando a infância e a primeira paixão da adolescência, aos 17 anos. Lembra-se também do amor que teve por Virgília, o sonho de tornar-se político, as vaidades, o fato de que não teve filhos e portanto não transmitira a ninguém "o legado" da sua "miséria" - para ele uma dádiva. Pouco antes de morrer, Brás Cubas tenta inventar um emplasto para conseguir ser famoso, mas morre antes de fazê-lo. É na morte que Brás Cubas consegue analisar toda sua vida de maneira crítica e muitas vezes bem-humorada. As filmagens duraram 12 semanas e aconteceram em Salvador, Rio de Janeiro, Parati, São Paulo e Portugal, entre 1998 e 1999. Tantas locações tornaram a produção cara (para padrões brasileiros) e o filme totalizou um gasto de R$ 5 milhões. Klotzel usou dos benefícios da tecnologia para trazer o defunto-autor voltar através dos tempos para contar sua história aos espectadores. André Klotzel avisa que seu filme Memórias Póstumas de Brás Cubas não tem nada de didático, já que não foi feito para os estudantes ávidos por uma adaptação que dispense a leitura da história original. Em 1985, o diretor Julio Bressane já havia feito sua adaptação para o livro de Machado de Assis, mas Klotzel fez uma releitura diferente. "O livro é leve, divertido, super-importante para a literatura. Eu não estava a procura de nenhum clássico. Só quis fazer a minha leitura dessa obra", conclui.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.