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Berlim anuncia neste sábado os melhores do festival

Por Agencia Estado
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E a 55.ª Berlinale termina neste sábado à noite com a premiação no Berlinale Palast, na Marlene Dietrich Platz. É um prédio moderníssimo, como, de resto, toda a arquitetura ao redor de Potsdamer Platz. A questão que se discute - como vai agir o júri presidido por Roland Emmerich? O diretor de Independence Day não é certamente alguém confiável, política e esteticamente, mas Emmerich já passou um recado que não tem compromisso com ninguém e a atriz Framka Potente, que integra o júri, tem dito em todas as suas entrevistas que isso aqui não é sucursal de Hollywood. Se o júri fizer a coisa certa, dificilmente deixará de premiar filmes como o palestino Paradise Now, de Hany Abu Assad, ou Sophie Scholl - The Final Days, de Marc Rothemund. É possível que filmes melhores do que os que integram a mostra competitiva, tenham sido apresentados ao comitê de seleção. Na verdade, filmes muito ruins estão concorrendo ao Urso de Ouro. O mesmo tema de Hotel Ruanda, de Terry George, é tratado de outra forma por Raoul Peck em Sometimes in April. E Paradise Now e Sophie Scholl, apesar de todas as diferenças que os caracterizam, tratam, no limite, de um tema sempre presente neste festival. Pode ser uma simplificação, mas todos ou quase todos os filmes da competição dizem a mesma coisa. No mundo global, permanecem os conflitos ou jogos de interesses regionais. Existe o império, com seu poderio econômico e militar, pairando sobre tudo (e todos). Mas os ricos continuam explorando os pobres em toda parte, fora do socialismo não há salvação, é o que diz o François Mitterrand de Le Promeneur du Champ de Mars, de Robert Guédiguian. O homem consciente de que vai morrer e de que o seu sonho talvez vá morrer com ele, num mundo que se transforma, é obcecado pelo poder - demais, até. Inversamente, o imperador japonês de Solnze ("Sol"), de Alexander Sokurov, recebe como um alívio a sua transformação em homem comum, obrigado que foi, pelos norte-americanos, após a derrota militar do Japão, a abrir mão do status de divindade. Neste quadro, uma divertida aliança - de refugiados políticos e torcedores de futebol - é proposta pelo Ken Loach de Tickets como solução possível para os problemas da humanidade. Os espoliados e os chamados alienados. Histórias de famílias, de nações. Histórias de genocídio, de culpa. Os palestinos de Abu Assad infligem mais sofrimento aos palestinos dos que os próprios judeus. Os nazistas de Marc Rothemund são alemães que barbarizam a garota alemã que tem a visão de que o que eles estão fazendo com os judeus é anti-humano. Ela grita que será seguida no banco dos réus por esses mesmos representantes de uma justiça inexistente, mas que se utilizam de seus privilégios e do silêncio coletivo para condená-la à morte. Numa seleção desigual, na mostra principal e nas várias mostras paralelas que integraram a Berlinale, foi possível ver bons filmes engajados na discussão de grandes temas da atualidade. O festival repete todos os filmes da mostra competitiva neste sábado. Quem o júri vai premiar? Que sejam prêmios à lucidez e à ousadia.

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