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Ben Affleck encarna herói atípico no suspense 'O Contador'

Ator tem papel ideal para usar o seu minimalismo em favor de um personagem com dificuldades de interação social

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Por Redação
Atualização:

Não serão poucos os espectadores que sairão da sessão de O Contador com a impressão de que Christian Wolff, ou seja lá qual for o verdadeiro nome do inusitado protagonista do filme de Gavin O’Connor, é mais durão e eficiente do que o próprio Batman de Ben Affleck – ainda que o ator tenha construído um Bruce Wayne interessante em sua primeira aparição.

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Neste novo trabalho, Affleck tem em mãos um papel ideal para usar o seu minimalismo em favor de um personagem com dificuldades de interação social. Diagnosticado com autismo já na infância, Wolff (vivido por Seth Lee quando jovem) recebeu treinamento psicológico e físico do seu pai (Robert C. Treveiler), que era do Exército, para adquirir o mínimo de sociabilidade e sobreviver numa sociedade que não sabe lidar com o diferente.

O modo que encontrou para isso foi colocar suas habilidades matemáticas em prática através da contabilidade: o detalhe é que ele presta serviço a máfias, cartéis e quadrilhas que precisam de alguém de confiança para checar as contas, além de saber se defender muito bem de qualquer ameaça, com armas ou as próprias mãos.

Cena de'O Contador' Foto: EFE

Precisando pegar um cliente dentro da legalidade, o contador aceita desvendar o rombo de milhões de dólares na empresa de próteses e robótica do sr. Black (John Lithgow), Living Robotics, detectado por Dana Cummings (Anna Kendrick), forçadamente, sua nova colega de trabalho. Contudo, por mais que Christian seja a espinha dorsal da estrutura deste thriller, o roteiro de Bill Dubuque se caracteriza pela narrativa de encaixe, com tramas paralelas no passado e no presente, revelando um pedaço aqui e ali de cada uma.

Além dos flashbacks, acompanha-se uma investigação do Tesouro Nacional, liderada por Ray King (J.K. Simmons) e sua pupila, a agente Medina (Cynthia Addai-Robinson), e a caçada de um assassino profissional (Jon Bernthal).

Por mais que o roteirista Dubuque force encaixar algumas peças na profusão de interligações das tramas, oferece uma virada eficiente no clímax, não pelo fator surpresa e sim pela construção dos personagens; especialmente o principal, que, pelo seu caráter, instiga o público a desvelar suas camadas.

O protagonista de Affleck é muito complexo, não pelo seu diagnóstico, mas pela maneira como o Transtorno do Espectro Autista influenciou a sua ambivalência moral, característica de qualquer anti-herói.

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Ainda que peque por alguns excessos e repetições, mais visíveis em escolhas de montagem, Gavin O’Connor faz uma direção segura, com uma atmosfera setentista e de mistério. E, de quebra, retoma um tema que lhe é muito caro: como as relações familiares se dão em meio à violência. Isso é claro nos irmãos lutadores de MMA de "Guerreiro” (2011), competente trabalho que o pôs em destaque em Hollywood, e, antes, no parentesco colocado em cheque em “Força Policial” (2008), mas também de forma psicológica em “Livre Para Amar” (1999).

Para O Contador, foi na família que ele aprendeu a reagir à violência social de sua condição, pagando na mesma moeda.

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