Beineix volta com "Um Enigma no Divã"

Novo filme do diretor de Diva e Betty Blue é um thriller sobre psicanalista que adormece durante uma sessão e, ao acordar, descobre que a paciente foi assassinada

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Por Agencia Estado
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Foram oito anos de silêncio, mas não de inatividade. Jean-Jacques Beineix teve problemas com a produção de A Ilha dos Paquidermes, agravados pela morte do astro Yves Montand. Mas não é a isso que ele credita a parada na carreira. A Ilha é de 1993, só no ano passado Beineix fez Um Enigma no Divã, que estréia nesta sexta-feira, na cidade. O novo filme do diretor é um thriller sobre psicanalista (Jean-Hughes Anglade) que adormece durante uma sessão e, ao acordar, descobre que a paciente está morta e mais - foi assassinada. O filme éum thriller, mas Beineix, numa entrevista por telefone, de Paris nega qualquer aproximação com o universo de Alfred Hitchcock, que também trabalhou com a psicanálise em vários policiais. E o diretor diz que seu Enigma não é para ser levado a sério. Acha que foi esse o problema do seu filme com a crítica francesa: Eles não entenderam o humor peculiar do filme, garante. A briga do diretor com os críticos não é uma coisa recente. Seu primeiro filme, Diva, uma trama policial envolvendo uma cantora lírica, foi demolido pelos críticos, mas, descoberto pelo público, terminou vencendo o César, o Oscar do cinema francês. Os críticos continuaram batendo em Beineix. Bateram até mais forte, mas Betty Blue também virou cult - e há algo desse filme no sucesso exagerado que Lúcia e o Sexo, de Julio Medem, faz nas telas de São Paulo, atualmente. Beineix diz que parou porque precisava de um tempo para pensar. Precisava refletir sobre suas escolhas estéticas, sobre o tipo de filme que quer fazer. Ele veio da publicidade e sua estética (cosmética) foi colocada, inicialmente, pelos críticos, no mesmo balaio em que foram atirados os filmes de Luc Besson e Léos Carax. Com esses dois, Beineix formou a onda dos ´neobarrocos´ do cinema francês, nos anos 1980. Beineix se aborrece com isso. Diz que não tem nada a ver com Besson e seu projeto hollywoodiano de cinema. Sente-se mais próximo de Carax. Acha que é possível fazer uma ponte entre Betty Blue e Os Amantes do Pont Neuf, entre os personagens de Béatrice Dalle e Jean-Hughes Anglade e Juliette Binoche e Denis Lavant no filme de Carax. Como diretor, Beineix deplora o projeto de Luc Besson de criar uma Hollywood na França. Ele acha que os críticos franceses estão certos ao defender um cinema de resistência contra a massificação de Hollywood. Só lamenta que, por incompreensão ou seja lá o que for, seja considerado inimigo por esses mesmos críticos. Diz que faz publicidade, mas seu cinema não é publicitário. O casal de Betty Blue, confrontado com a perda, a loucura e a morte, é antes a expressão de um romantismo doentio, até mesmo mórbido, que o diretor retoma em parte - e com um distanciamento nascido do humor - em Um Enigma no Divã. Cheio de expectativa para saber como seu filme será recebido no Brasil, onde ele sabe que Diva e Betty Blue foram muito bem de público, Beineix conta que o trabalho de reflexão (sobre ele mesmo e sua produção cinematográfica) não ficou só como uma coisa de cabeça. Há algum tempo ele escreve um livro no qual relata suas experiências como forma de estimular um debate sobre o cinema francês de autor, como resistência ao americano, e o papel dos críticos no processo de criação artística. Não quer vingar-se, quer dialogar. Ele não antecipa o título do livro nem a editora, mas diz que já tem mais de 60% do texto prontos e espera fazer o lançamento no ano que vem. Serviço - Um Enigma no Divã (Mortel Transfert). Comédia. Direção de Jean-Jacques Beineix. Fr-Alem/2001. Duração: 122 minutos. 16 anos

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