"Banhos" mostra as contradições chinesas

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Por Agencia Estado
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O embate entre tradição e modernidade na China, contado a partir das relações familiares, é o mote usado pelo cineasta Zhang Yang na premiada comédia Banhos, a maior bilheteria da China neste ano e produção aclamada em festivais europeus. O filme, em cartaz na cidade, conta a história do bem-sucedido empresário Da Ming (interpretado por Pu Cu Xin), que, após rejeitar suas raízes e se refugiar em um bairro rico de Pequim, decide voltar à casa de seu do pai, Master Lui (Zhu Xu), dono de uma tradicional casa de banhos na periferia da cidade. A cena inicial do longa mostra Da Ming deixando o seu sofisticado bairro. A seqüência é entremeada com flashes que mostram um rapaz tomando banho em uma cabine de banho pública, algo parecido com um lava-rápido de gente. O empresário acredita que seu pai já está morto, mas o reencontra na decadente casa de banhos. Aos poucos, Da Ming vai sendo seduzido pelas histórias dos clientes da casa e pelo estilo de vida do pai e do irmão caçula, um deficiente mental (Jiang Wu) que vive em um mundo de fantasias, em meio aos tanques e aos clientes da casa. Toda a trama do filme se desenvolve em uma sala de massagens e em um tanque de água azulada. É por este local que passa a mais variada gama de personagens, como um cantor de banheiro perito em cantarolar a italiana Sole Mio debaixo do chuveiro, senhores aficionados em briga de grilos, um marido traído e bêbados da vizinhança. O ápice do filme ocorre com a chegada de um comunicado das autoridades municipais informando que a casa de banhos terá de ser derrubada para ceder lugar para a construção de um shopping. Considerado um dos novos talentos do cinema asiático, Zhang Yang conseguiu, com o modesto orçamento de U$ 400 mil, fazer um filme primoroso e elogiado, o segundo de sua carreira (o anterior é Spicy Love Soup). Banhos é o maior sucesso de bilheteria do ano na China. A repercussão foi tão grande no país que a prefeitura de Pequim resolveu voltar atrás e não implodir uma área decadente da cidade. Em entrevistas à imprensa européia, Zhang tem falado que seu segredo é fazer filmes para o povo chinês e não para os críticos franceses. "Não tenho orçamento, nem efeitos especiais, nem Brad Pitt. Tento fazer algo com o qual os chineses possam se identificar."

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