'Baile do Menino Deus' vira filme

Tradicional auto de Natal de Recife chega às telas com história filmada nas ruas da capital pernambucana e participações de Chico César e Lia de Itamaracá

PUBLICIDADE

Foto do author Danilo Casaletti
Por Danilo Casaletti
Atualização:

O espetáculo Baile do Menino Deus, encenado pela primeira vez há 40 anos, em teatro, e que há 18 anos ocupa a Praça do Marco Zero, no Recife, ganha um novo formato este ano.

PUBLICIDADE

Impossibilitado de ser apresentado em seu “palco” original em razão da pandemia – uma apresentação a céu aberto que costuma reunir pessoas 80 mil pessoas em três dias de apresentação – o tradicional auto de natal vira filme dirigido por Tuca Siqueira com estreia hoje, no site e no canal YouTube do Baile, às 20 horas.

Com criação original de Ronaldo Correia de Brito, Antônio Madureira e Assis Lima, o Baile do Menino Deus não tem nada de Papai Noel, renas, neve e ursos polares, ou seja, no Natal importado da Europa Central e dos Estados Unidos e seguido em grande parte do Brasil. Nele, os protagonistas são as manifestações populares e folclóricas, nascidas ou incorporadas pela região nordeste, como reisado, pastoril, lapinha, chegança, maracatu rural e boi de reis.

Tradicional espetáculo no Recife, 'Baile do Menino Deus' ganha novo formato em 2021 Foto: Morgana Narjara

Para essa versão cinematográfica, o roteiro ganhou adaptação escrita por Brito e Tuca. Em vez dos protagonistas centrais serem os dois Mateus – figuras clássicas do teatro popular, embora eles continuem no espetáculo – a história traz as figuras de Maria, personagem da atriz e cantora Isadora Melo, e José, interpretado pelo ator Marcio Fecher.

Maria, grávida, prestes a ter o bebê, vai à Recife na companhia de José para comprar o enxoval para a criança. Eles se perdem, à noite, e atravessando uma ponte, ela sente as dores do parto. Os Mateus, então, saem em busca de uma casa onde o menino Deus possa nascer. 

“Não é uma Maria de Nazaré da Galileia e sim de Nazaré da Mata (de Pernambuco). As portas que os Mateus tentam abrir, na verdade, é algo bem contemporâneo, que remete às fronteiras do mundo, das interdições”, diz Brito.

Os cenários do longa foram praças, mercados, ruas e pontes de Recife. No trajeto de Maria e José aparecerem encontraram cantores, artistas e bailarinos.“É um casamento do neo realismo com o realismo mágico. Sou fã de cinema e posso dizer que não há nada parecido. Em sua concepção, o espetáculo é o que João Cabral de Melo Neto fez em Morte Vida Severina, mas não de forma realista, mas sim de forma mágica. É uma brincadeira musical”, explica o roteirista.

Publicidade

A porta que se abre à Maria e José é a do Teatro Santa Isabel, um dos mais importantes da cidade, de arquitetura neoclássica, mostrando que a salvação vem por meio da arte. Os Reis Magos que vão saudar o rebento são dançarinos de hip hop. O personagem teatro, então, entra em cena. 

Chico César é uma das participações especiais da versão cinematográfica do 'Baile do Menino Deus' Foto: Morgana Narjara

Uma das participações especiais é da cirandeira pernambucana Lia de Itamaracá. Ela faz o papel da burrinha Zabelin, um dos seres mágicos da história que ajudam os Mateus no sortilégio de abrir a porta. Lia aparece cantando um coco, linguagem bem próxima à ciranda.

Em mensagem enviada à reportagem do Estadão, a cirandeira se diz contente em participar da produção. “Fico honrada e feliz que essa história vai sair para o mundo. É cinema! É o mundo! Quanto mais eu conhecer pessoas, melhor. Minha personagem, a burrinha, que traz festa, alegria e emoção, assim como a ciranda que eu faço”, diz, por áudio, Lia.

Outro convidado é o cantor e compositor Chico César. No palco do teatro, ele encena um caboclinho que junto com um tropel de seres encantados cantam para Maria, José e o menino, criam uma atmosfera mágica que os introduzem no teatro.O cantor Carlos Filho, que participou do programa The Voice Brasil deste ano, também faz parte do elenco.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Para Ronaldo Correia de Brito, o Baile do Menino Deus representa o Natal ibérico que chegou ao Brasil e ganhou influência negra e indígena. “O Natal sempre foi celebrado com presépios, lapinhas, reisado, pastoril antes de ser massacrado por outras culturas, virar algo meio Disney. Esse auto é uma forma de resistência cultural. É o teatro popular em sua essência. Quando o lançamos em 1983, nos chamou atenção como as pessoas se reconheceram nele. Era algo guardado lá de trás”, diz. 

Quando estreou no teatro, a ópera nordestina, que fazia parte de uma Trilogia das Festas Brasileiras, em que se incluíam a Bandeira de São João e Arlequim de Carnaval, ficou 8 anos em cartaz e ganhou inúmeras versões pelo Brasil afora. Virou também livro e disco, esse último lançado pela gravadora Eldorado.

Além do YouTube, o longa-metragem Baile do Menino Deus – O Filme será transmitido pela Globo Recife no dia 25 e entrará no catálogo do GloboPlay no dia 27.

Publicidade

Baile do Menino Deus - O Filme – Estreia 23/12, às 20h, no canal oficial no YouTube.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.