Babel é exibido em Cannes e se consagra como favorito

Foram mais de dez minutos de ovação para o mexicano Alejandro González Iñárritu no fim da sessão oficial do filme

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Por Agencia Estado
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Foram mais de dez minutos de ovação para o mexicano Alejandro González Iñárritu no fim da sessão oficial de Babel. O novo filme do diretor de Amores Brutos (2000) e 21 Gramas (2003) leva jeito de ganhar a Palma de Ouro. O júri presidido por Wong Kar-wai dificilmente poderá ignorar uma acolhida tão consagradora. Na fileira em frente àquela em que González Iñárritu e sua equipe estavam sentados - Cate Blanchett, Gael Garcia Bernal, Koji Skokishu e outros veteranos das batalhas de Cannes -, Chiara Mastroianni e Elodie Bouchez choravam copiosamente e três fileiras adiante o próprio Pedro Almodóvar, considerado forte candidato com seu magnífico Volver, comentou alguma coisa no ouvido de Penelope Cruz e ambos cruzaram as mãos sobre o peito, enviando um abraço para o concorrente. A sessão da noite é a de gala aqui em Cannes. Pompa e circunstância. A organização do festival escolheu a de ontem para a montée des marches do júri que vai outorgar a Camera d´Or, o prêmio que o festival dedica a diretores estreantes. É o terceiro longa de González Iñárritu, como os anteriores escrito em parceria com Guillermo Arriaga, que ganhou no ano passado o prêmio de roteiro de Cannes por Três Enterros. É um filme coral, contando três histórias de paternidade que se articulam dentro da mesma temporalidade de Amores Brutos. Uma desenrolada no Marrocos, outra na fronteira mexicana, a terceira em Tóquio. Um incidente que parece isolado num lugar qualquer repercute lá longe, neste mundo globalizado. De alguma forma, González Iñárritu e Arriaga conseguiram fazer a nova versão de Intolerância que Fernando Meirelles e seu roteirista Braulio Mantovani querem fazer, mas isso será assunto para a cobertura de quinta do Caderno 2. Elenco tem Brad Pitt, Cate Blanchett, Gael García Bernal, Adriana Barraza Babel, estrelado por Brad Pitt, Cate Blanchett, Gael García Bernal, Adriana Barraza, Koji Yakusho, Rinko Kikuchi, Said Tarchani e Boubker ait el Caid, o longa encerra a trilogia de forma coerente e sem a perda de qualquer das qualidades apresentadas pela equipe de produção, que também conta com o diretor de fotografia mexicano Rodrigo Prieto e com o músico argentino Gustavo Santaolalla. Assim como os filmes anteriores, esta torre tem como alicerces a força do acaso, a fatalidade e a inflexibilidade do destino, além dos apoios secundários de três histórias cuja interconexão parece inexistente no início. Babel aborda temas tão diferentes como a imigração de mexicanos para os EUA, a paranóia antiterrorista e o isolamento causado pela invalidez. O enredo é tão bom que, apesar de a projeção ter sido interrompida por alguns minutos, o público demonstrou que estava ligado no filme. Na verdade, este episódio foi apenas mais uma prova da qualidade da produção cinematográfica, de quase duas horas e meia. Uma das explicações para a boa aceitação pode estar na história, baseada na narrativa bíblica da Torre de Babel. Entretanto, a confusão de línguas não foi "um problema" para González Iñárritu. Diretor diz que se interessa por aquilo que nos une "O problema são os preconceitos que separam os seres humanos", disse hoje à imprensa o diretor, que estava acompanhado por boa parte do elenco, menos o astro Brad Pitt, que se encontra na Namíbia com a mulher, a atriz Angelina Jolie, grávida de nove meses, e os filhos adotivos, Maddox e Zahara. "Queria que meu filme tratasse daquilo que nos une", porque de um extremo a outro do mundo, e inclusive em uma mesma família, "como seres humanos, nosso conceito da felicidade é muito diferente, mas o que nos faz sentir mal é o mesmo para todos: a impossibilidade de sentir e expressar o amor", declarou. "Isso é o que une os personagens", entre os quais "não queria que houvesse maus e bons", disse González Iñárritu, que afirmou que "o que acontece na fronteira - entre EUA e México - é terrível". Esta questão é abordada no filme através dos personagens vividos pelos mexicanos García Bernal e Barraza, em papéis diferentes aos que tinham em Amores Brutos. "Quando fizemos este filme tivemos interdependência, todos dividimos um sentimento de fragilidade", disse García Bernal. Opinião semelhante apresentou Blanchett, que disse que a fita "trata das relações entre pais e filhos". "É perigoso não entender os outros, seja entre países ou entre pais e filhos", afirmou González Iñárritu, confirmado após a projeção de hoje como um dos grandes concorrentes à Palma de Ouro. Diante da expectativa de uma premiação, um jornalista perguntou ao diretor se ele tinha preparado um discurso para receber o prêmio. "O melhor é não esperar nada, para poder manter a calma", respondeu com um sorriso González Iñárritu.

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