Aventuras de um intelectual português no Brasil viram filme

O documentário Agostinho da Silva: Um Pensamento Vivo foi o segundo e último filme brasileiro apresentado na mostra competitiva do Cine Ceará 2006

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Por Agencia Estado
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A vida de um intelectual é fascinante a ponto de ser contada pelo cinema? Pode, desde que esse intelectual seja tão inquieto e multifacetado quanto o português George Agostinho Baptista da Silva (1906-1994). O documentário Agostinho da Silva: Um Pensamento Vivo, dirigido pelo neto do personagem, o baiano João Rodrigo Mattos, foi o segundo e último filme brasileiro a ser apresentado na mostra competitiva do Cine Ceará 2006. E como se explica que Agostinho tenha deixado um neto brasileiro? É que ele viveu por aqui cerca de 25 anos. Saiu de um sufocante Portugal salazarista porque não concordou em assinar o documento exigido dos funcionários públicos, garantindo que não pertencia a qualquer sociedade secreta. Recusou-se, foi preso, perdeu o emprego. Chegou ao Brasil em 1947. Se em sua terra natal Agostinho era já personalidade conhecida, logo que chegou ao Brasil tratou de empregar sua energia e inteligência em projetos que o tornaram figurinha carimbada entre a parte progressista da nação. Participou da fundação das Universidades de Brasília e de Santa Catarina. Em Salvador fundou o Centro de Estudos Afro-Orientais, o Ceao, tão importante no diálogo entre Brasil e África. Foi filósofo, poeta, educador. Como se nota por suas atividades, era um nômade. E também um nômade mental, que recusava qualquer certeza. Do ponto de vista da forma, o documentário é bem tradicional. Não inventa e passa o seu recado, que é informar ao público leigo sobre a vida de um personagem que a maioria desconhece. Trabalha com declarações do próprio Agostinho, captadas, em especial, em programas de TV que o entrevistavam em sua terra natal. Sim porque, ao voltar para Portugal em 69, Agostinho transformou-se, durante um período, em pop star da vida intelectual, como às vezes acontece. Tornou-se um guru que opinava sobre tudo. E compreende-se o interesse da mídia porque o fazia com graça, era incisivo e original. Quando compreendeu que havia se tornado um joguete da mídia, nunca mais concedeu uma entrevista. Às imagens de Agostinho somam-se depoimentos de quem o conheceu, como Mário Soares, Caetano e Gil. Segundo o diretor, abrigar os fatos da vida de Agostinho nos 80 minutos do filme exigiu esforço de síntese. Coletou mais de 90 horas de gravações em Portugal e nos seis Estados brasileiros onde o avô atuou. O material fará parte de um acervo destinado a divulgar a obra de Agostinho no Brasil por ocasião do centenário do seu nascimento. É uma vida e tanto. Digna de ser conhecida. O repórter viajou a convite da organização do festival

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