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Ator sustenta "Harry Chegou para Ajudar"

Sergi Lopez está impecável no papel-título da comédia francesa de humor negro de Dominik Moll, que estréia nesta sexta-feira

Por Agencia Estado
Atualização:

Foi o que se pode chamar de feliz coincidência. O repórter ligou para a França, para falar com o diretor Frédéric Fonteyne, quando seu filme Uma Relação Pornográfica estreou em São Paulo. Encontrou-o em pleno horário de almoço. Fonteyne almoçava com o ator Sergi Lopez, que também conversou com a reportagem. Lopez havia recebido, dois dias antes, o prêmio de melhor ator europeu do ano. Recebeu-o por Harry, un Ami Qui Vous Veux du Bien. Com o título de Harry Chegou para Ajudar, o filme estréia nesta sexta-feira na cidade. Talvez não seja tão bom. Ou melhor, não é. Mas Lopez é prodigioso no papel-título. Havia críticos que apostavam nele para o prêmio de melhor ator no Festival de Cannes do ano passado. Mas o júri presidido pelo diretor francês Luc Besson preferiu o Tony Leung de Amor à Flor da Pele, de Wong Kar-wai. Foi uma das raras decisões acertadas daquele júri, que errou feio ao dar a Palma de Ouro ao mistificador Dançando no Escuro, quando havia, em concurso, produções da Ásia muito mais interessantes. Há ecos hitchcockianos na história, até a partir do título. Você poderia perguntar: o que há de errado com Harry? Era mais ou menos o título original de O Terceiro Tiro, o thriller de Alfred Hitchcock com Shirley MacLaine, no qual o problema de um punhado de pessoas era fazer desaparecer o cadáver que irrompeu na vida delas. The Trouble with Harry. Por mais que o título do filme dirigido por Dominik Moll o aproxime de Hitchcock, sua vertente é outra. O amigo que chegou para ajudar pertence a um outro tipo de thriller. Harry é da família de O Iluminado, de O Inquilino e Barton Fink - Delírios de Hollywood. E, embora Moll não seja Stanley Kubrick, Roman Polanski ou mesmo os irmãos Coen, seu filme tem de ser visto. Senão por sua direção, pelo menos por Sergi Lopez. Na entrevista, Lopez contou como foi chamado pelo diretor para fazer o papel de Michel. Você ainda não viu o filme. Não sabe quem é. Michel é o pai de família que, logo no começo de Harry Chegou para Ajudar, viaja com a mulher e as filhas para a casa de veraneio, nas montanhas. O calor é infernal, a família derrete dentro de um carro sem ar condicionado. Marido e mulher estão com os nervos à flor da pele as crianças gritam, brigam. Se há um paraíso na terra, o carro de Michel, com certeza, perdeu o rumo para ele. É quando surge Harry. Michel e ele se encontram no toilette do posto de serviços. Estudaram juntos, Michel era o ídolo de Harry, que agora vai querer ajudá-lo. Isso significa matar todo mundo que ele acha que está prejudicando o amigo. Pois bem: Moll queria que Lopez fizesse Michel. O ator sacou que o personagem forte da história era o outro, Harry. Achou que seria mais interessante criar o papel do sedutor monstruoso, pois Harry, se é um monstro, também possui um charme peculiar. Moll estava obstinado. Queria Lopez como Michel, mas o ator insistiu num teste. Dispôs-se a fazer a leitura das falas de Harry. Convenceu o diretor de que era o homem certo no papel certo. Ganhou até prêmio e não pouca coisa: o de melhor ator do ano passado na Europa. Assim como há ecos de Hitchcock no título, há ecos de Claude Chabrol na trama. Harry poderia, muito bem, inscrever-se na galeria dos monstros com que Chabrol recheia seus thrillers. A diferença é que o monstro chabroliano típico pertence à burguesia e Harry chega para subverter, desde o interior, as convenções familiares e burguesas que regem a vida de Michel. Nosso herói é humilhado pela mulher, manipulado pelos pais. Harry vai dar um jeito em tudo. Empilham-se os mortos e ele sempre se justifica com o sorriso inocente, mais do que cínico, de quem está querendo só ajudar. Na França, o público adorou, mas os críticos... Esses disseram que Dominik Moll não teve coragem de radicalizar, como Kubrick, Polanski ou os irmãos Coen. Seu humor negro, nunca devastador, não eleva Harry Chegou para Ajudar de um nível apenas médio. O filme médio, você sabe, é o filme medíocre. Críticos erram e o bom crítico erra muito. Desta vez, talvez tenham acertado. Mas a simples presença de Sergi Lopez faz de Harry um programa imperdível. O espanhol radicado na França, onde virou o ator de Manuel Poirier (Western), Frédéric Fonteyne (Uma Relação Pornográfica) e agora Dominik Moll, é cada vez mais uma das figuras emblemáticas da arte da representação na Europa. Os europeus sabem disso. O prêmio que recebeu por Harry é a prova. Harry Chegou para Ajudar (Harry, un Ami Qui Vous Veut du Bien). Comédia. Direção de Dominik Moll. Fr/2000. Duração: 117 minutos. 14 anos

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