'Atentado ao Hotel Taj Mahal' retrata terrorismo sem apelo à violência espetacular

Filme de Anthony Maras trata do paradoxo de transformar o paraíso num inferno

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Para o espectador que assiste a Atentado ao Hotel Taj Mahal, talvez seja inevitável a comparação com Utoya 22 de Julho – Terrorismo na Noruega. O norueguês Erik Poppe ganhou elogios por sua reconstituição dramática, participou de festivais. Foi indicado para representar seu país no Oscar. Anthony Maras, que dirige Hotel Mumbai (título original), foi recebido com mais reservas.

Seu filme ora é chamado de disaster movie, ora de popcorn movie. Utoya recria a chacina que um atirador solitário promoveu num acampamento de férias. Viver ou morrer pode ser uma questão de sorte, ou azar. O atirador nem aparece, mas o som dos tiros, e o sangue parecem muito reais. Representam a barbárie neonazista.Em Hotel Taj Mahal, o grupo que chega pelo mar – outra história real – vai atacar uma estação de trens na Índia, e o hotel cinco estrelas. Maras concentra sua ficção no hotel, que tem a fama de ser o paraíso na Terra. Cria uma narrativa coral. Várias histórias. Tem o chef que realmente organizou o pessoal do hotel, mas o Arjun de Dev Patel é a soma de vários personagens. Certos hóspedes tornam-se emblemáticos. O mercenário russo, o casal rico, formado pelo americano e pela islamita. 

Dupla. Os atores Dev Patel e Armie Hammer valem o filme Foto: IMAGEM FILMES

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Os terroristas pertencem a um grupo islâmico do Paquistão. Reportam-se, por telefone, ao chefe, um tal de Touro. Agem em nome de Alá, são mártires da Jihad, creem que irão para o paraíso. O paradoxo é que transformam o paraíso, o hotel, num inferno. Um deles, ferido, liga para a família. Diz ao pai que não se esqueça de cobrar o dinheiro prometido (para a família) – veio de algum bolsão de miséria, com certeza. A hóspede islâmica vira suspeita aos olhos de outra hóspede, que também implica com o turbante de Patel.

Maras não apenas reconstitui, Busca, digamos, explicações. O Touro evoca a exploração colonial, a hóspede expõe a desconfiança – o ódio? - ao outro. São informações que somam e, a todas essas, nós, o público, esperamos que Armie Hammer, o americano, ou Jason Isaacs, o russo, reajam e tudo vire um grande espetáculo de ação, mas eles não são Schwarzenegger. Os heróis são anônimos. É curioso – bizarro? - que o herói seja uma instituição cinco estrelas, o hotel de luxo em que o hóspede é Deus. 

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