‘Até Logo, Meu Filho’ narra morte de um menino e os esforços dos pais para entender

Exibido na 43.ª Mostra de Cinema de São Paulo, filme do diretor chinês Wang Xiaoshuai constrói uma crônica familiar

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Vencedor do Urso de Prata no Festival de Berlim, em fevereiro, Até Logo, Meu Filho é uma das atrações desta terça, 22, na 43.ª Mostra. Será um dia pródigo em filmes “internacionais”, como se chamam agora os candidatos estrangeiros no Oscar. Justamente o prêmio da Academia – você pode ver Papicha, que fez sensação em Cannes, em maio. O filme deve estrear na sequência da Mostra, que termina dia 30, embora role por mais uma semana com a repescagem. Papicha concorre – com A Vida Invisível, de Karim Aïnouz – a uma indicação pela Argélia. Conta a história de garota que desafia o conservadorismo social, no país dividido pela guerra civil, ao planejar desfile de modas.

Ainda da seleção de Cannes, a Mostra exibe na terça o novo filme dos irmãos Luc e Jean-Pierre Dardenne, O Jovem Ahmed. Duas vezes vencedores da Palma de Ouro, os irmãos belgas somaram mais um prêmio – o de direção – à sua galeria por essa história sobre garoto islâmico de 13 anos que se convence de que sua professora é pecadora e resolve matá-la. Em matéria de tema polêmico – explosivo? –, compete com Adam, de Rhys Ernst, dos EUA, sobre garoto hétero que se faz passar por transgênero para namorar menina lésbica, por quem está apaixonado. A questão de gênero virou um tema contemporâneo tão transcendente quanto o meio ambiente, para citar um exemplo. A Mostra está atenta.

Urso de Prata. No filme premiado em Berlim, pais de menino afogado tentam entender a tragédia que os atingiu e buscam uma reconciliação íntima Foto: Mostra de Cinema de São Paulo

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De volta a Até Logo, Meu Filho/So Long, My Son, o chinês Wang Xiaoshuai, cineasta da chamada sexta geração, é um habitué da Berlinale, onde já foi premiado anteriormente, em 2001 e 2008. Afeito ao circuito dos festivais, fez bela figura também em Cannes, onde Shanghai Dreams venceu o prêmio do júri em 2005. Ele segue a trilha de Jia Zhang-ke retrata as transformações ocorridas na China, nas últimas décadas. Num período curto, em termos de grande História, o país foi arremessado do comunismo à linha de ponta do capitalismo, competindo por mercados com a América. 

Xiaoshuai constrói uma crônica familiar. Começa com dois garotos que se banham numa represa, um se afoga, a família corre para o hospital e o que se segue é um relato complexo que se constrói no tempo, seguindo gerações e sua adaptação, ou não, ao mundo que muda radicalmente.

Os pais do garoto afogado separam-se, são levados pelo turbilhão da história, mas nunca deixam de tentar entender a tragédia que os atingiu. Em busca da verdade sobre o caso, procuram também uma espécie de reconciliação – senão como casal, a reconciliação íntima, cada um consigo mesmo. E não é só o casal. É também a dor do garoto que sobreviveu e segue uma vida errática – sua culpa e a de seus pais.

Em Berlim, o diretor explicou seu título: “Às vezes pode demorar muito tempo para se dizer adeus”. Jia Zhang-ke tem seguido esse caminho, mostrando como relações interpessoais e a tumultuada evolução da China produzem conflitos difíceis, senão impossíveis de conciliar. Mas, enquanto Jia tem adotado a fórmula do cinema de gênero, com certo apelo ao espetacular – gângsteres, trilha internacional –, Xiaoshuai internaliza mais sua narrativa.

É um filme um tanto longo, com mais de três horas, mas com tantos momentos fortes que o espectador não consegue desgrudar o olho da tela. Isso se deve também ao carisma do elenco principal. Wang Jingchun e Yong Mei são excepcionais, e ele, com as têmporas grisalhas, uma inefável expressão de tristeza no rosto, pergunta-se sobre a morte e seu significado – sobre a perda. Num avião que sofre turbulência, dão-se as mãos. “Não é incrível que ainda tenhamos medo de morrer?” Por mais serenos que esses personagens pareçam, após tanto tormento, o tema do filme é a (in)conformidade perante o inevitável, o destino. Conformar-se nunca é o melhor remédio.

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Exibições de 'Até Logo, Meu Filho' na Mostra de São Paulo

Sábado, 19/10 ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA - FREI CANECA 2 16:00

Domingo, 20/10 CINESESC 14:00

Terça-feira, 22/10 ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA - FREI CANECA 3 18:20

Quinta-feira, 24/10 RESERVA CULTURAL - SALA 1 18:20

Domingo, 27/10 ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA - FREI CANECA 1 18:00

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