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Com um toque de Pixar, 'Astérix' se renova e vira destaque no cinema

Louis Clichy, de ‘O Domínio dos Deuses’, é cria de John Lasseter

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Louis Clichy foi animador na Pixar, em filmes como Wall-E e Up - Altas Aventuras. É francês, pelo nascimento. Conversa pelo telefone, de Paris, com o repórter, que arrisca uma observação. Se ele trabalhou com John Lasseter, sabe que, na Pixar, a técnica fica sempre em segundo plano. O que importa é o roteiro. “Sem sombra de dúvida. John acredita que temos ferramentas para resolver não importa que problema de realização, mas nada resolve se a história que vamos contar não é boa.” Clichy dirige Astérix e o Domínio dos Deuses. Alexandre Astier tem um crédito de direção. A especialidade de um (Clichy) é o visual, a de outro (Astier), a escrita. O filme estreou na quinta passada, 7, nos cinemas brasileiros. Um lançamento médio - 64 salas de 27 cidades. Fez 10 mil espectadores no fim de semana. Não é um número muito expressivo. Astérix é sempre um fenômeno na França. Os filmes live actions baseados nos personagens de Uderzo e Goscinny arrebentam nos cinemas franceses, mas, no Brasil, são sempre um fiasco. Nem mesmo Astérix e Cleópatra, com o reforço da deusa Monica Bellucci, fez aqui uma fração minúscula do movimento de bilheteria na França. Louis Clichy diz que entende - “Mais até que os álbuns, os filmes de Alain Chabat são ricos em subtextos e observações que são muito encravados na realidade francesa. Não creio que isso seja assimilável por uma plateia que não seja francófona. Foi uma coisa que aprendi na Pixar e que Alfred Hitchcock já dizia para François Truffaut, no livro com a entrevista que lhe deu. Hitchcock recomendava a Truffaut, que também era diretor - ‘Pense sempre no Japão’. Ou seja, não pense no seu vizinho. Tente se fazer compreensível para alguém do outro lado do mundo. Na Pixar, falávamos para todo o mundo. Foi nossa pretensão em O Domínio dos Deuses.” O álbum que originou o filme é do começo dos anos 1970. “É considerado o mais sombrio de todos. E, ao contrário de outras adaptações, sejam animações ou live actions, essa se baseia exclusivamente nesse álbum. Em geral, os roteiristas misturam elementos de diferentes álbuns e histórias. Quando os produtores me chamaram para dirigir, Alexandre (Astier) já vinha trabalhando na adaptação. Tivemos uma integração tão boa que propus lhe darmos o crédito de codireção, mesmo que minha experiência prática de animação seja maior que a dele.” As animações da Pixar custam em torno de US$ 200 milhões. O Domínio dos Deuses custou em torno de 20% disso, em euros. Nos EUA, teria custado muito mais caro.”

Clichy esclarece que a fidelidade não foi só à história. “Alexandre, nossos animadores e eu fizemos uma pesquisa minuciosa para que personagens, ambientes e cores fossem fiéis ao álbum.” O resultado deve agradar ao público que cultua Astérix e Obélix - nos álbuns. “Creio que voltar a Uderzo e Goscinny é, mais que nunca, necessário. Não digo nenhuma novidade ao observar que o subtexto dos álbuns, como do nosso filme, é a dominação norte-americana. Astérix e Obélix foram criados para expressar uma certa ideia de resistência cultural. Uderzo e Goscinny começaram a criar na Guerra Fria. Após a fratura da União Soviética, o poderio dos EUA se consolidou ainda mais. O Império Romano de Astérix é uma representação dos EUA”, ele destaca. Na trama de O Domínio dos Deuses, Júlio César não consegue dominar a Gália porque a aldeia de Astérix e Obélix resiste. O romano constrói então um condomínio de luxo - o Domínio dos Deuses - para atrair os gauleses. Quer conquistá-los fazendo com que adotem o estilo de vida romano. Ocorre algo curioso - os romanos do condomínio de luxo passam a fazer turismo na aldeia vizinha, onde os preços são mais baratos. A primeira metade, digamos uns dois terços do filme, são brilhantes. Depois, há uma espécie de repetição da ideia central.  Clichy diz que buscou o crossover - atingir todas as gerações. Talvez o filme funcione melhor para adultos. Mas ele conta - seu filho, um garotinho, adorou. Pai e filho também adoraram O Menino e o Mundo, de Alê Abreu, que viram em Paris. “Eu adorei a história, o personagem, a paleta de cores.” O repórter promete contar a Alê. “Diga-lhe que é muito talentoso, e que o filme dele é muito antenado em relação ao estado do mundo”, diz Clichy.  

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