Assinante do Estado fala sobre a experiência em Gramado

Angela Marques da Costa, que integrou o júri popular do 34.º Festival de Gramado, acredita que o mexicano "El Violín" foi o melhor longa da mostra

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Por Agencia Estado
Atualização:

Indicada pelo Estado, a assinante do jornal Angela Marques da Costa integrou o júri popular do 34.º Festival de Gramado - Cinema Brasileiro e Latino, que terminou no sábado. Foi uma das inovações mais bem-sucedidas do festival, neste ano de muitas mudanças. O objetivo, plenamente alcançado, dos curadores do evento, José Carlos Avellar e Sérgio Sanz, era criar um júri idôneo que livrasse Gramado do estigma da manipulação das votações populares em eventos de cinema. Grandes jornais brasileiros - os maiores - foram convidados a apontar leitores, instituindo concursos internos para escolher o júri popular gramadense. Representando São Paulo, a organização do festival escolheu o Estado, que Angela assina há muitos anos. ?Já assinei outros, mas agora fico com o Estado, que é mais jornal?, ela diz espontaneamente, sem repetir nenhum texto publicitário. Foi uma experiência e tanto. O objetivo de Avellar e Sanz era estimular a cinefilia, uma coisa tão importante que deveria estar na origem, ou raiz, de todo grande festival. O cinéfilo é, por princípio, aquele que ama o cinema, mas não basta fruir os filmes - é importante discuti-los, no seu duplo aspecto, como arte e indústria. ?Eu nunca tinha vivido uma semana inteira só em função de cinema. Foi uma experiência muito interessante?, Angela avalia. Formada em História, ela não leciona. Trabalha como pesquisadora. Nas horas vagas, vai ao cinema. Na maioria das vezes, sozinha, por opção - porque gosta. Em Gramado, Angela foi sempre ver os filmes com os colegas jurados. ?Éramos sete?, ela contabiliza. O mais jovem era o representante de "Zero Hora", de Porto Alegre, um garoto de 19 anos. Angela tem 56. A faixa etária dos demais jurados estava em torno dos 20-30 anos. Mas não houve gap geracional. Havia um dentista, de Salvador, um advogado que quer voltar à faculdade para fazer filosofia, do Recife. No total, cinco homens e duas mulheres. O grupo reuniu-se para discutir apenas uma vez, quando houve a deliberação. Na maioria das vezes, os encontros eram de dois, de três, nos cafés da manhã e jantares. ?A gente trocava muitas idéias?, diz Angela. A rotina era - café da manhã no Hotel Serra Azul; almoço nos restaurantes credenciados e começava a maratona. Filmes latinos à tarde; e à noite os curtas e longas nacionais. Angela não foi aos debates, realizados de manhã no Centro da UFRGS, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que abriga feiras, seminários e a imprensa do Festival de Gramado. Mico, ela só teve de pagar um - o almoço obrigatório no Castelo de Caras, que foi parceira do festival na criação desse formato do júri popular. ?O lugar era lindo, mas aquilo é muito fake?, diz Angela, que não ficou muito empolgada com seu momento de celebridade. Aliás, foi decididamente o que ela não gostou em Gramado - o tapete vermelho e o excessivo valor conferido pelo público gramadense à participação dos globais. Aquilo tem de mudar. ?É muito brega, muito falso?, diz. E não tem nada a ver com o cinema, propriamente dito. A maioria daquelas pessoas nunca fez um filme. É só televisão. Gramado, afinal de contas, é um festival de cinema, o que só a população da cidade às vezes parece não se dar conta, avalia Angela. Sua avaliação dos filmes é direta - o melhor foi o longa mexicano "El Violín", de Francisco Vargas Quevedo; o pior, o brasileiro "Sonhos e Desejos", de Marcelo Santiago. Houve duas unanimidades no júri popular - o melhor filme latino, "El Violín", e o melhor curta em 35 mm, "Manual para Atropelar Cachorro", de Rafael Primo. A escolha do melhor longa brasileiro foi um pouco mais complicada. Angela foi voto vencido. Queria "Serras da Desordem", de Andrea Tonacci; seus colegas jurados preferiram "Pro Dia Nascer Feliz", o documentário de João Jardim. Será útil, não só para diretores, mas também para críticos, ouvir o que ela tem a dizer: ?Preferia o ´Serras´ como cinema, porque achei mais ousado, mas não é o tipo de filme que recomendaria para meus amigos. O único que recomendo é ´El Violín´. ´Serras´ é muito longo, tem muita redundância. Poderia ser cortado, mas aí entra o narcisismo do diretor, que não consegue cortar. Não seria a visão do índio que ele iria cortar, mas a dele.? "Anjos do Sol", de Rudi Lagemann, que dividiu com "Serras da Desordem" o prêmio de melhor filme da mostra brasileira pelo júri oficial, também rachou os jurados do time popular. ?É correto, tem boa noção de timing e um roteiro rico em informações, mas é muito previsível?, assegura a representante do Estadão.

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