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'Assassinato no Expresso Oriente': o que muda entre dois filmes e um livro só

Com produção mais dinâmica e intensa que a do longa de 1974, novo filme é infiel ao texto de Agatha Christie

Por Sara Abdo
Atualização:

O "melhor detetive do mundo", Hercule Poirot ganhou um toque a mais de protagonismo e sensibilidade na nova produção do Assassinato no Expresso Oriente, que estreia nesta quinta-feira, 30. Este é o segundo filme baseado no livro homônimo, publicado por Agatha Christie nos anos 1930, que narra a viagem de um grupo de passageiros e um assassinato durante uma tempestade de neve. A primeira produção é de 1974, e segue o texto original ao priorizar a investigação e não a excentricidade do detetive. 

Kenneth Branagh. O novo Poirot com o retrato 'oficial' do elenco de 2017 Foto: Fox Film do Brasil

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Nas várias histórias do detetive belga, ele é descrito como um senhor vaidoso, atento, meticuloso e cheio de manias. Nesta nova produção, o “senhorzinho” está imbatível, e ganhou até um tom filosófico, romântico e nostálgico - lembra a surpresa em 007 - Cassino Royale, quando James Bond se apaixona e até quase morre.

Personalidade

Interpretado por Kenneth Branagh, quem também dirige o filme após trabalhar em Thor, em 2011, e Cinderela, em 2015, Poirot aparece educado, com voz mansa e olhar sensível, em um retrato fiel ao “lorde belga” que se vê no texto de Agatha Christie – uma das poucas fidelidades, adianta-se.É uma abordagem diferente da vista em 1974: ali o detetive gritava, era arrogante e grosseiro.

Na primeira produção, dirigida por Sidney Lumet (12 Homens e Uma Sentença, 1957), Poirot é o protagonista, mas “empresta sua importância” para os 12 passageiros suspeitos de terem cometido um dos crimes da trama. O telespectador se envolve com a história e o comportamento de cada um, assim como o leitor de Agatha acompanha a sequência dos relatos e procura um nexo entre os fatos.

Cena deAssassinato no Expresso Oriente, dirigido por Sidney Lumet em 1974. Foto: Divulgação/Paramount

Já no novo filme, a inteligência de Poirot é o cerne do roteiro, assinado por Michael Green (Logan, 2017). E para honrá-la, a solução do crime é revelada aos poucos, e não apenas no final, como ocorre no livro e na produção de Lumet. As associações são apresentadas ao telespectador no mesmo ritmo em que são feitas por Poirot, estratégia de roteiro que nos prende ao detetive e não à história como um todo. É o oposto do que acontece no texto e do primeiro filme: trama, suspeitos e detetive formam uma única história. 

Surpreendeu

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A produção surpreendeu ao abordar questões de raça, classe social e preconceito entre nacionalidades. Para isso foi preciso mudar a identidade de dois personagens, e valeu a pena.

+++ Kenneth Branagh traz o Expresso do Oriente de Agatha Christie para o séc. 21

Como se esperava, dado o avanço das técnicas cinematográficas, Branagh acertou no cenário: as comidas são apetitosas e envolventes, compreende-se a situação dramática em que o trem está e as cabines são mesmo de primeira classe. Ao jornal The Guardian o diretor disse que o objetivo era fazer o telespectador “sentir o cheiro do trem e da neve”. Deu certo. 

Kenneth Branagh e Daisy Ridley em cena deAssassinato no Expresso Oriente. Foto: Nicola Dove/Twentieth Century Fox

O suspense

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Quanto às cenas de suspense e ação, são tensas e boas, apesar de não constarem no livro.Características das grandes produções, elas tomaram o lugar das situações surpreendentes, como quando “provas” do crime são deixadas na cabine de Poirot - um susto a mais para o leitor. Já a produção de 1974 optou por manter as surpresas, ainda que em momentos diferentes da obra original.

Mas uma das alterações parece descaso com o texto de Agatha: alguns vínculos entre os personagens estão diferentes, embora sem razão aparente para isso. 

De forma geral, o novo filme, produzido pela Fox, émais sobre Poirot do que sobre o caso e a investigação. É bom para o admirador do detetive, mas os leitores de Agatha ou seguidores de Lumet esperavam algo a mais.

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